
( Foto: Sílvio Luiz/AT )
Ícone da história recente da arquitetura e do urbanismo, citado sempre que o assunto é a relação das cidades com as pessoas que nelas vivem, Jaime Lerner, falecido em 2021 aos 84 anos, tinha uma expressão que bem pode ser usada em várias ocasiões, para finalidades distintas: homeopatia urbana. Em entrevista a A Tribuna em 2004, quando o jornal completava 110 anos, o ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná definiu ‘homeopatia urbana’ como sendo o movimento lento, mas gradual, planejado e estruturado, de ir fomentando a revitalização dos bairros antigos e esvaziados, ou das regiões das cidades que careciam de novos ares porque foram sendo degradadas ao longo dos anos, ou severamente impactadas por algum tipo de atividade econômica. Lerner aplicou o termo a cidades como Santos, que já naquele início de anos 2000 estava às voltas com o esvaziamento da região central. Para ele, o movimento de retomada é sempre gradual, a partir de pequenas iniciativas aqui e ali, mas orquestradas de tal forma que seus resultados sejam sentidos e se espalhem primeiro pela rua, depois pelo quarteirão, depois pelo bairro todo que se quer resgatar.
Quase 20 anos depois, a expressão continua viva e válida, e pequenas doses da homeopatia parecem estar sendo administradas à região central, tanto por parte do Poder Público como pela iniciativa privada. No Centro Histórico, identifica-se o maior dos movimentos: projeto Parque Valongo, que engloba os antigos armazéns 4, 5 e 6, e com parte dos recursos vindos da iniciativa privada, a partir de contrapartidas exigidas pela Prefeitura. Em sendo efetivado da maneira como está previsto, o projeto deve fomentar outros negócios, serviços e demandas naquela área, irradiando seus efeitos para além do Valongo.
Longe dali, mas também parte da área central, o Mercado Municipal é outro espaço público que tem potencial para se transformar em centro de gastronomia e turismo, trazendo de volta o público, inclusive santistas que sequer sabem que ali funcionou um dos mais movimentados centros de hortifrútis da região. Melhor será trazer o público de volta sem a temida gentrificação, posto que qualquer homeopatia urbana precisa considerar que há pessoas morando nesses locais, e deles não devem sair.
No Paquetá, uma esquina chama a atenção: Sete de Setembro com Constituição, onde um centenário casarão foi plenamente restaurado por um empresário local, devolvendo sua história e arquitetura a um dos bairros outrora nobres da Cidade. Ideal seria que fosse ocupado pela própria Prefeitura, colocando ali atividades culturais e de arte, para uma vizinhança tão carente e vulnerável.
Vistas de forma sistêmica, essas e outras iniciativas formam um conjunto homeopático que tem forte potencial para irradiar outros e outros movimentos, de tal forma que em cinco ou dez anos já será possível enxergar uma outra realidade na área central. Importante, porém, que as políticas públicas e o foco não sejam modificados no meio do caminho.