As imensas dificuldades com que as famílias têm lidado para adaptar a subida dos preços a um orçamento apertado pela pandemia já é condição suficiente para exigir um maior rigor contra a inflação. Isso exige uma competente calibragem do Banco Central com os juros básicos, mas também que o setor público seja austero, sem cair em tentações por mais gastos às vésperas das eleições.
Apesar da dura experiência dos brasileiros com a escalada da inflação nos anos 1980, há muitas correntes, com infiltrações das fileiras políticas, que defendem combate mais brando para permitir algum crescimento econômico por um tempo razoável. Porém, esse argumento favorece mais uma parte da sociedade e acaba por impor grande custo às camadas mais pobres e à classe média, que enfrentam a corrosão do seu poder aquisitivo. Principalmente porque têm pouco ou quase nenhum acesso a ferramentas que permitem enfrentar a desvalorização do dinheiro. Basta observar reportagem de
Se poucas décadas atrás as economias intermediárias eram instadas a adotarem planos austeros a juros elevados, agora são os governos dos países desenvolvidos que fazem o contrário. Despejam abundantes recursos para consumo e investimento e seguram as taxas para estimular o crescimento econômico e o emprego. É assim dos Estados Unidos à Europa, passando pelo Japão à China. O Brasil também adotou essa política e de agosto de 2020 a março último manteve os juros básicos em 2% ao ano. O Banco Central foi acusado de se descuidar dos perigos da inflação, lembrando que ela ainda está impregnada nos hábitos econômicos dos brasileiros e nos contratos que embutem reajustes automáticos.
Não se pode ser insensível aos efeitos econômicos da pandemia. Os governos ignoraram a cartilha do combate à inflação por temerem uma recessão profunda e o caos social, despejando trilhões de dólares desde o ano passado. Com tamanha montanha de dinheiro, ocorreram excessos. Se nos Estados Unidos, muitos dos que receberam os cheques de Trump descarregaram esses recursos investindo na bolsa, no Brasil oportunistas entraram na fila do auxílio emergencial.
O problema é que os governos das economias abastadas e o do Brasil não planejaram o que fazer (ou não quiseram) com o reflexo dessa injeção de recursos, que é a inflação. Nos EUA, o Federal Reserve diz que a escalada dos preços preocupa, mas que dá para suportar mais um pouco sem subir os juros. No Brasil, o BC já sucumbiu às limitações locais e elevou as taxas. Felizmente de forma pontual. Agora fica com o setor público segurar seus gastos. De nada adianta o BC encarecer o custo do dinheiro para o setor privado e os governos torrarem do outro às vésperas da eleição. Quanto mais o esforço for conjunto, mais rápido o BC poderá afrouxar os juros de novo.