Queremos só a civilização

Após movimento de siglas, temos em nosso país um bom percentual de vacinados e poucos negacionistas para combater

Por: Sergio Pardal Freudenthal  -  02/12/21  -  07:24
Municípios explicam que a campanha contra a covid-19 é ininterrupta.
Municípios explicam que a campanha contra a covid-19 é ininterrupta.   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Os brasileiros nem podem se vangloriar por seus níveis de vacinação, mesmo com o resto do mundo também patinando no enfrentamento da barbárie. Vãs glórias não se sustentam. Após muito movimento de siglas, como STF e CPI, temos em nosso país um bom percentual de vacinados e poucos negacionistas para combater; pena que alguns ocupem cargos muito importantes.


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Ocorrem duas guerras mundiais que se entrecruzam, uma contra a pandemia e outra contra o fascismo. Os negacionistas, os antivacinas, participam do bloco fascista, são os que apostam na ignorância, no medo e no ódio, aplicados nessa ordem.


Entre a civilização e a barbárie, o direito individual deve ter seus limites quando afeta o direito de outros. Os bárbaros, no pior sentido da palavra, defendem o direito de não se vacinarem, mas não abrem mão de utilizar a saúde pública se o vírus os alcançar. Recusam-se a usar máscara, mas querem se meter no casamento dos outros, com quem, de que sexo ou com quantos. Depois de duas Grandes Guerras e da Guerra Fria, maldosamente distribuída entre os países mais fracos, a civilização exigiu a implantação de melhores condições econômicas e sociais e a diminuição das desigualdades, mesmo que nem tudo tenha dado muito certo. Da mesma forma, a democracia é a garantia também dos direitos das minorias, sem possibilitar que “maiorias” façam prevalecer a intolerância.


Com o fim das contradições entre os blocos socialista e capitalista, o neoliberalismo atentou contra a civilização, reduzindo, e muito, o Direito Social, principalmente na área trabalhista. O Direito do Trabalho é um dos esteios da civilização; existe para garantir o hipossuficiente na perene e desigual batalha entre Capital e Trabalho. Como ensinou Anníbal Fernandes, o Direito Social é composto de conquistas, da luta de contraditórios.


Os resultados neoliberais em nosso país foram terríveis: desindustrialização e grave redução nos empregos formais. Na atualidade, os novos contratos dão cada vez mais garantias apenas para os patrões, em muitos casos legalizando a escravidão. Por fim, surge a ideologia do “empreendedorismo”, quando se trata mesmo é do “contaproprismo”, o peão que se vire por conta própria, vá vender coxinha na rua. Para não deixar dúvidas, empreendedor é quem consegue montar sua empresa, vai empregar os irmãos que precisam, com contrato assinado, pagando impostos e tudo o mais. E são bem poucos, né?


Por um lado, a civilização acaba por se impor com as campanhas de vacinação, por outro, os crentes na obscuridade, os que apostam no desacerto, ainda são muitos. Infelizmente, com parcela razoável dessa turba de acéfalos resta aceitar que, para eles, a grama é azul. Os cidadãos que defendem o retorno pleno do Estado Democrático de Direito, aqueles que optam pela civilização, têm absoluta obrigação de defender a ciência, apresentar os avanços da tecnologia, comprovados no combate à pandemia. É a civilização contra a barbárie.


Surgem novas cepas do vírus, como a do sul da África, demonstrando que apenas a solidariedade dos países ricos nas campanhas de vacinação derrotará o inimigo de todos. Sem dúvida, se apostasse na ciência, o nosso Brasil teria um papel de destaque e de liderança na luta pela civilização. Ainda chegaremos lá.


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