Inovação tecnológica: um compromisso inadiável

Os portos possuem papel estratégico, pois podem contribuir com a geração de novas formas de energia

Por: Angelino Caputo  -  23/12/23  -  06:36
Atualizado em 23/12/23 - 06:42
  Foto: Sílvio Luiz/AT

Que nossa sociedade atravessa uma grande ebulição decorrente da enxurrada de tecnologias oferecidas pela 4ª Revolução Industrial, já não é novidade para mais ninguém. Temos inteligência artificial (IA), big data, blockchain, IoT, 5G, machine learnig, robótica, sistemas autônomos e cyber físicos, e mais uma sopa de letrinhas que fica até difícil de acompanhar para que serve isso tudo.


Some-se a isso os eventos climáticos extremos, causados pelo próprio homem com o consumo acumulado de combustíveis fósseis, que inundaram nossa atmosfera de gases de efeito estufa. Isso acelera os movimentos de transição energética, com a adoção de fontes renováveis, que acaba trazendo um outro tipo de inovação, resultando na eletrificação de praticamente tudo: automóveis, navios, indústrias e, porque não dizer, portos. Nesse rol entra o desenvolvimento de formas intermediárias para se armazenar energia, com destaque para o hidrogênio e a amônia.


Aqui, os portos também possuem papel estratégico, pois além de serem grandes consumidores, podem contribuir com a geração de novas formas de energia, em especial com a implantação de parques eólicos. Nesse sentido, alguns já estão mais avançados e já anunciaram projetos consistentes, como os portos de Itaqui e Suape, enquanto outros ainda estão no nível das boas intenções, como o Porto de Santos.


Essa inovação “energética” traz ainda um outro vetor importante, que é a atração de parques industriais para próximo dos portos, devido principalmente aos custos e às dificuldades técnicas para o transporte do hidrogênio. Pensando estrategicamente, se essa questão for integrada com a inovação regulatória trazida pelo marco legal das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), temos mais uma excelente oportunidade de desenvolvimento dos portos com o viés estratégico da inovação.


Mas voltando àquela inovação mais conhecida, que é a de TI, temos uma série de oportunidades passeando aos olhos dos gestores portuários, como “cavalos arriados”, que segundo o pessoal lá da roça não passa duas vezes!


São diversas startups que começam a nos surpreender com soluções ao mesmo tempo simples e de grande impacto na eficiência das operações e que precisam ser notadas e apoiadas. Assim, merece todos os elogios o programa de incentivos às startups capitaneado pela Autoridade Portuária de Santos (APS), que já começa a produzir resultados práticos como a otimização do embarque de grãos em situações de restrições climáticas e o mapeamento contínuo da topologia do fundo do canal de navegação, orientando a eficiência das dragagens, dentre outros.


O benchmarking internacional mostra que diversos portos ao redor do mundo já estão em níveis de automação bem à frente dos portos brasileiros. Quem não conhece ou nunca ouviu falar do famoso “terminal fantasma” de Roterdã, onde tudo é autônomo e não se vê um único ser humano operando guindastes e caminhões? Mas aí há de se considerar a decisão estratégica pelo uso da inovação. Lá ninguém mais quer dirigir caminhões ou operar guindastes dentro dos terminais e a solução é a substituição de seres humanos por máquinas autônomas. Por aqui ainda tem muita gente que topa isso e o custo é muito inferior ao da automação total, o que prova que tecnologia por tecnologia nem sempre é a melhor solução.


Em Santos, a Associação Brasileira dos Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra) colabora com o giro da roda da inovação portuária, realizando anualmente o Porto Hack Santos. A edição de 2023 ocorreu nos últimos dias 9 e 10, buscando soluções inovadoras para melhorar a relação do porto com a cidade e inovar na relação dos recintos com seus clientes a partir de chatbots equipados com inteligência artificial. O fato é que a inovação em todos os níveis está aí, ao nosso alcance, e não dar foco nesse importante componente do nosso mundo moderno pode ser um erro fatal para a sobrevivência dos nossos portos e das empresas portuárias.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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