Difícil imaginar como a população vivia no século 19 e início do 20, quando as águas servidas, misturadas a esgoto e toda sorte de detritos jogados nas ruas, formava um imenso lamaçal de sujeira, micro-organismos, bichos, bactérias e vírus. Não por outro motivo, morria-se cedo por efeito da contaminação dos lençóis freáticos e do contato humano com as águas fétidas e perigosas que se espalhavam pelas vias públicas. Até que um engenheiro nascido no Rio de Janeiro, com noções muito claras da relação entre a saúde urbana e o saneamento básico, projetou o primeiro sistema de separação universal de águas limpas e águas servidas.
Para Santos, imaginou um modelo que funcionaria para drenar as águas e criar um fluxo entre o mar e o canal do Porto. Estava criado o sistema de canais, nove no total. Era o início do saneamento básico de Santos, depois complementado pelo Emissário Submarino, na década de 70, para levar o esgoto tratado em alto mar, a uma distância que não mais comprometeria as praias.
Ali são despejados esgotos clandestinos de construções novas ou provenientes do extravasamento de uma rede que já não dá conta do adensamento urbano. Nos demais municípios, problemas semelhantes existem, mas com a diferença de que nem todos os investimentos necessários na expansão da rede coletora foram feitos.
Se vivo fosse, o que Saturnino de Brito diria ao participar de um fórum em que se estivesse discutindo qual a melhor forma de atender a todos os cidadãos, vivam eles em áreas regularizadas ou nas chamadas ‘cidades informais’, onde centenas de milhares de pessoas vivem sobre palafitas, furtando água e despejando esgoto no mangue?
Há três anos, o Governo estipulou como meta para 2033 que todos os brasileiros tenham acesso a água tratada, e ao menos 90% de coleta e tratamento de esgotos. Atualmente, 100 milhões de brasileiros não têm rede de esgoto, e 16% não dispõem de água tratada.
Na Baixada Santista, embora os índices sejam melhores que no restante do País, ainda há muito o que fazer, e o desafio maior tem sido conter o crescimento das áreas irregulares, onde a Sabesp enfrenta maior dificuldade para estender sua rede.
Para além do debate sobre a eventual privatização da Sabesp, é preciso jogar luz sobre a urgência de colocar esses temas como prioridade, ainda mais quando se sabe que uma crise hídrica pode ocorrer muito em breve, face às mudanças climáticas e o regime de chuvas. 2033 é o prazo final, mas talvez seja longe demais para medidas urgentes que já deveriam estar sendo tomadas agora.