Psicóloga Maria Célia Abreu fala sobre pandemia, motivação e novas formas de viver em sociedade

Autora do livro 'Velhice, uma nova paisagem', ela avisa: "Ou você vai para o lado mais construtivo e

Por: Arminda Augusto  -  05/04/21  -  08:53
Maria Célia trata a velhice como mais uma etapa dessa longa trajetória chamada vida
Maria Célia trata a velhice como mais uma etapa dessa longa trajetória chamada vida   Foto: Divulgação/Ideac

Não é preciso ter pauta prévia para conversar com a psicóloga, escritora e presidente do Instituto para o Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científico (Ideac), Maria Célia Abreu. Basta lançar uma primeira questão e deixar que a conversa flua como em um bate-papo informal.


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Autora do livro Velhice, uma nova paisagem (Editora Ágora), Maria Célia deu entrevista a A Tribuna há exatamente um ano, quando a pandemia começou, e disse ao público mais velho: “Usem esse período para serem sujeitos da própria história”.


Tanto no livro como nas duas entrevistas a A Tribuna (de 2020 e esta), Maria Célia trata a velhice como mais uma etapa dessa longa trajetória chamada vida. A pandemia é só mais um elemento entre tantos outros que acontecem durante essa caminhada. “Vamos ver o que de melhor se pode tirar disso que temos para o momento”, diz. Veja, abaixo, a entrevista completa.


Faz um ano que falamos sobre pandemia e como os idosos, mais vulneráveis, deveriam lidar com ela.


É verdade, uma armadilha do destino, uma surpresa que nos foi reservada. Ninguém contava com isso nem contava que pudesse durar tanto tempo. Começa a cair a ficha de que não vai acabar já, não. Será que vamos ter Natal em família ou vai ser dessa nova forma? Então, o que eu tenho visto, entre os idosos, é que a gente tem que lidar com a realidade. O lado construtivo, aquele que dá resultado, é botar o pé no chão sem pensamento mágico ou fantasioso.


Como assim?


Tipo assim: ‘comigo não, comigo não pega’. Ou aquele tipo de pensamento assim ‘isso aqui é uma injustiça comigo. Eu sempre fui uma pessoa tão bacana, por que isso tá acontecendo comigo?’. E tem também aquele outro tipo de postura, assim, ‘ah, eu não dou conta disso’. Não tem essa de ‘eu não dou conta’, não tem ‘comigo não’. Todo mundo é candidato a se contaminar e todo mundo é candidato a dar conta. Então, tem que partir pra seguinte realidade: olha, é isso que você tem, é isso que nós temos. Vamos ver o que de melhor se pode tirar disso que você tem agora. E eu acho que as pessoas estão fazendo isso. E para tirar algo de melhor, você pode usar as experiências dos outros.


E isso está acontecendo?


Eu fico maravilhada com a capacidade que as pessoas têm, inclusive os idosos, de criar, de buscar alternativas, de dar conta do recado, sim. Existem redes de apoio mútuo que têm funcionado bem, mas para criá-las e participar delas, é preciso aprender a lidar com o universo virtual. Os idosos estão aprendendo rapidinho!


A senhora tem sentido que os mais velhos estão, sim, se apropriando das ferramentas tecnológicas para se manterem ativos e conectados com o mundo?


Estão correndo atrás disso, sim. E estão deixando de se perceberem como incapazes.


Incapazes?


Isso. Tipo assim: ‘ah, eu não posso sair de casa e nunca fiz compras pela internet’. A primeira vez vai demorar uma tarde inteira pra comprar três itens, vai dar errado, mas na segunda e na terceira, as coisas vão ficando mais fáceis, vão aprendendo. As pessoas estão muito abertas para aprender, e eu acho isso o máximo. Eu acho também que essas redes sociais facilitam o desenvolvimento da habilidade de comunicação. A habilidade de ‘ouvir’ o outro, observar o outro. Há grupos de whatsApp, por exemplo, em que alguns membros vivem postando, postando sem ao menos observar se os outros estão interessados naquilo que está sendo postado, se as pessoas estão lendo e comentando aquelas mensagens. E essa pessoa acaba percebendo que não é um bom comunicador. Na verdade, era egoísta, atendia só a necessidade dele.


Ele se percebe ou alguém precisa falar que ele não está agradando?


Depende de cada um. Tem uns que logo percebem que ninguém está respondendo, tem outros que nem sendo alertado por um membro do grupo se dá conta (risos). Outra coisa que está aparecendo: sem estímulos externos, não tem mais como se exibir no grupo, com bolsas e roupas de marca, por exemplo. Se eu quiser me exibir no meu grupo terá que ser com as minhas qualidades humanas. Então, estamos vendo uma depuração de valores, e as qualidades humanas estão sendo mais reconhecidas e mais desenvolvidas.


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