Trinta mil quilômetros. É como ir e voltar a Nova Iorque três vezes. Ou quase dar uma volta inteira na Terra. Imagine percorrer uma distância dessas de bicicleta, e ainda puxando uma pequena casinha com um cão de grande porte.
Pois é exatamente isso que o professor Luís Fernando Prestes Camargo, de 52 anos, vai fazer. Na quinta-feira, ele embarca de avião para a Europa. Lá, iniciará uma viagem de dois anos pedalando. Além dos 35 quilos de bagagem que partem com ele do Brasil, Luís Fernando leva seu companheiro de viagem: o Belmiro, um border collie preto e branco de dois anos de idade.
O conflito entre Rússia e Ucrânia não intimida o professor, que planejou, arquitetou, organizou e se equipou para essa aventura nos últimos dois anos. “Vou evitar eventuais áreas de conflito. E tirar a Ucrânia e a Rússia do roteiro inicial”, avisa.
Luís Fernando é professor de História e Sociologia para alunos dos ensinos Médio e Fundamental, mas se afastou das atividades pedagógicas nas escolas Jean Piaget, Universitas e Carmo, no segundo semestre de 2021. Queria ter tempo para alinhar todos os detalhes, pesquisar os roteiros e se preparar adequadamente para a viagem.
“A pandemia trouxe a ideia de que preciso fazer as coisas mais rápido. Eu perdi um primo e amigos. Há uma urgência em fazer as coisas que sempre sonhamos. Não podemos ficar esperando o tempo passar”.
Início
A quinta-feira é o ponto de partida para um roteiro muito bem traçado. Ele e Belmiro desembarcam em Lisboa, Portugal, e de lá o professor parte, sozinho, para a Alemanha. Explica-se: a bicicleta e a casinha móvel do Belmiro foram compradas na Alemanha. Ele vai e volta em dois ou três dias para buscar o companheiro.
Bicicleta e casinha pesam mais de 40 quilos. Então, contabilizando bagagem, equipamentos e veículos, Luís Fernando vai pedalar carregando cerca de 90 quilos.
A casinha do Belmiro é feita para aventuras como essa: tem cama para inverno, proteção térmica, ventilação adequada, amortecedor e todo o conforto sugerido pelos veterinários que consultou. Belmiro não vai o tempo todo dentro da casinha. “Quando a estrada é boa e o tempo ajuda, eu o solto para correr”, diz o professor.
Roteiro
A partir de Lisboa, o roteiro de bicicleta é extenso: Espanha, França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, Estônia, Letônia, Moldávia, Romênia, Bósnia, Servia, Croácia, Albânia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Egito e China, só para citar alguns dos alfinetes espetados no mapa mundi de Luís Fernando e Belmiro.
Além de evitar países ou zonas de possíveis conflitos, o professor-ciclista diz que toda a programação foi feita priorizando o bem-estar do companheiro. E isso inclui, por exemplo, só viajar durante a noite nos períodos mais quentes, para evitar o calor da estrada durante os dias de verão. Além disso, o trajeto será feito, principalmente, por estradas de terra, mais tranquilas e vazias.
A hospedagem será em hostels ou na própria barraca que compõe sua bagagem. Outra regra estabelecida: nunca viajar com temperatura abaixo de 5°C. E como serão dois anos de aventura, vão pegar todas as estações e o clima gélido do inverno europeu.
História
Essa não será a primeira viagem de bicicleta dos dois. Luís Fernando já fez pequenas experiências semelhantes pedalando pelo Brasil, como quando percorreu os quase 600 quilômetros entre Ouro Preto (MG) e Paraty (RJ).
Formado em História pela Unicamp, Luís Fernando vai fazer da viagem um mergulho no conhecimento, passando por cidades e cenários que tiveram relevância para a humanidade. Será assim, por exemplo, com a rota da seda, uma série de rotas interligadas através da Ásia, usadas no comércio da seda entre o Oriente e a Europa.
Outras paradas incluem filmar e documentar palco de batalhas, disputas e horrores como o Holocausto. Imagens, vídeos e áudios vão se transformar em material audiovisual para os canais digitais criados pelo professor e que servirão como Diário de Bordo nesses dois anos. No Instagram, será possível seguir a dupla no @pedalandonahistoria. O mesmo nome estará no YouTube, mas ainda sem vídeos postados.
Até final de 2024, o professor espera três coisas: ter muito conteúdo histórico produzido para os seus canais, adquirir novos conhecimentos e experiências de vida, e ter ainda mais histórias para contar aos seus alunos. Só que, desta vez, a partir de suas próprias vivências.