Os muitos lados da segurança

É preciso um olhar atento às comunidades periféricas, onde há carência de tudo e, agora, também o medo

Por: Arminda Augusto  -  03/09/23  -  09:56
Atualizado em 03/09/23 - 10:19
Não é de hoje que episódios de violência e falta de segurança estão presentes, e agora não mais exclusivamente em temporadas de verão
Não é de hoje que episódios de violência e falta de segurança estão presentes, e agora não mais exclusivamente em temporadas de verão   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Levante a mão quem nunca se sentiu inseguro ao errar o itinerário pelo Waze e entrar em um bairro não-urbanizado, de ruas escuras, esburacadas, pessoas à espreita em pontos mais altos. Se alguém nunca viveu essa situação, prepare-se para sentir o frio na barriga e o medo de ser assaltado ou mesmo assassinado. E isso nada tem a ver com as pessoas pobres e vulneráveis que vivem ali, mas com a presença certa de criminosos que também se aproveitam desse cenário escuro e pouco vigiado para fazer sua morada e seu escritório. As comunidades também são reféns.


Tudo isso pra dizer que, sim, é preciso ter a presença da polícia para garantir a lei e a ordem, para combater o tráfico de drogas, para tirar a região e o Porto de Santos da rota do tráfico internacional, para proteger os civis inocentes das milícias que deles se aproveitam. Mas não é só a sucessão de operações que vai responder pela mudança de paradigmas.


No encontro de número 70 deste projeto chamado A Região em Pauta, que nasceu da necessidade de colocar sob luz alguns dos principais problemas da nossa Baixada, nenhum outro tema se faz mais premente que a segurança pública. Se de um lado há o temor de ver nossos municípios transformados em um cenário de guerra e confronto de traficantes, por outro é preciso garantir que no palco dessas batalhas pessoas inocentes não sejam mortas. Mais que isso: o crime só avança onde a presença do poder público é falha ou ausente.


Não é de hoje que episódios de violência e falta de segurança estão presentes, e agora não mais exclusivamente em temporadas de verão. Notícias sobre latrocínios, assalto a comércios, residências e invasão de imóveis estão na mídia todos os dias, e parecem já fazer parte de uma normose, em que se vê e se ouve e nada mais causa impactos.


Neste encontro de autoridades, parlamentares e o Instituto Sou da Paz, a admissão de que a região tem a presença forte do crime organizado já é um primeiro passo - até anos atrás, a negativa era o discurso mais presente e ineficiente. Se o porto é parte desse eixo de tráfico internacional, em que os líderes das facções criminosas atuam de maneira ordenada, que a inteligência da polícia se faça presente de maneira constante e efetiva, e não apenas quando um policial da Rota é assassinado. Os confrontos são inevitáveis, é fato, mas que não se perca do radar a necessária transparência sobre cada uma das mortes que vêm ocorrendo. A população apoia e precisa da presença da polícia em quadros conflagrados, é fato, mas é preciso dar satisfação de cada uma das baixas, para que não pairem dúvidas sobre eventuais exageros.


Ao lado de ações assim, é preciso o olhar constante para as comunidades periféricas, onde à carência de moradia digna, saúde, educação e cultura, agora também se soma o medo. Estado, prefeituas e sociedade precisam estar juntas nessa jornada.


Arminda Augusto é gerente de projetos do Grupo Tribuna


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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