Orgulho de ser quem é

No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, meu abraço carinhoso a todos que buscam seu espaço neste nosso mundo

Por: Arminda Augusto  -  28/06/22  -  17:53
Atualizado em 28/06/22 - 22:17
  Foto: Unsplash

De tantos e tantos eventos que o Grupo Tribuna já realizou em seu democrático auditório, um deles sempre me vem à cabeça. O encontro, que tive o prazer de montar, tinha por objetivo tratar da Diversidade, colocando no foco o mercado de trabalho e a legislação civil para as pessoas LGBT (na época, as demais letras ainda não haviam sido incorporadas).


Auditório cheio, especialmente de jovens e também de pessoas mais velhas que, nitidamente, tinham ido em busca de informação e orientação por conta de filhos, netos, sobrinhos e afilhados que, em algum momento de suas vidas, decidiram compartilhar com a família suas questões de identidade de gênero e orientação sexual. Foi um dos eventos que mais satisfação me deu em organizar, não só porque ainda faltam espaços e momentos nesta nossa sociedade para colocar temas assim no centro das discussões, como também pela certeza de que, dali, muitos saíram com informação útil para suas vidas.


Quando já me despedia dos convidados e caminhava para o final do evento, uma mulher me abordou, agradecida por se ver ali representada naquelas falas. Sem meias palavras ou comedimento, contou de forma breve sua história: nasceu Rafael, formou-se no ensino superior, estudou línguas, fez mestrado e doutorado, encontrou emprego qualificado na sua área, aqui em Santos, casou-se, teve filhos. Aos 40 anos, depois de muita terapia, decidiu assumir para a família e para o mundo corporativo em que vivia a angústia que sempre o acompanhou. Que sempre a acompanhou.


Separou-se, conseguiu da empresa licença sem remuneração por um ano, e passou por um longo processo de mudança, que incluiu a cirurgia para mudança de sexo, idas e vindas ao cartório para mudar o nome. E mais terapia, para enfrentar a avalanche de olhares tortos, piadas e meias palavras que precisaria enfrentar a partir de então. Venceu todas elas ou, se não venceu, aprendeu a lidar com cada uma das situações novas e nem sempre amigáveis que se apresentariam.


Flávia voltou ao trabalho, acolhida e ainda mais animada com a carreira. Dois meses depois foi dispensada, com a justificativa de que se tratava de redução de folha. Aceitou, mas logo descobriu que uma outra pessoa havia ocupado seu espaço, pelo mesmo salário.


"Trabalhei na empresa durante anos, me qualifiquei, assumi cargos de gestão. De repente, senti que todo meu currículo ficou em segundo plano".


Essa história me acompanha desde sempre, e fico pensando quantas Flávias, Rafael, Murilo, Bianca, Regina e Isabela enfrentam a mesma batalha, na maioria das vezes, até para ingressar no mercado de trabalho como homens trans ou mulheres trans. Ou simplesmente como homossexuais, casados ou casadas com pessoas do mesmo sexo.


Admiro todas essas pessoas, porque é preciso mais que resiliência e fé para encarar o preconceito e discriminação ainda tão presentes na nossa sociedade.


Outras letras foram incorporadas a esse público, e que venham outras e outras! Quantas letras forem necessárias para desprender as pessoas de rótulos prontos que estão na prateleira.


Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, meu abraço carinhoso a todos que buscam seu espaço neste nosso mundo, amando e sendo amados, fazendo aquilo que gostam e sabem fazer. Sim, toda forma de amar vale a pena, mas a que mais vale a pena é a forma de amar a si próprio. E ser respeitado por isso!


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