Danilo Santos de Miranda, imortal

O Brasil perdeu no último domingo (29) um grande pensador

Por: Arminda Augusto  -  01/11/23  -  13:04
Danilo Santos de Miranda participou do fórum A Região em Pauta em 2019
Danilo Santos de Miranda participou do fórum A Região em Pauta em 2019   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Nem acreditei quando sua assessoria deu OK para o meu pedido. Sim, teríamos Danilo Santos de Miranda aqui no nosso auditório, em uma fala final do fórum sobre Cultura que havia organizado no projeto A Região em Pauta. Era julho de 2019. Falar sobre Cultura e ter Danilo como parte do debate era certeza de fazer o público sair melhor do que entrou, poder ouvir e refletir sobre um pensamento lógico e coerente de como o acesso a bens culturais pode mudar um povo. Para melhor.


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O Brasil perdeu domingo um grande pensador, que transitava com leveza em temas profundos, quase sempre ligados à desigualdade social e ao papel que as pessoas conscientes disso têm com a massa da população. "Para que eu quero acumular conhecimento se não for para usá-lo em favor dos que não têm?". "A consciência dos problemas do Brasil e suas origens faz com que a gente tome medidas pessoais e profissionais para tentar resolvê-los, para tentar minimizá-los. Você está envolvido na mudança. Você é parte da ação transformadora", disse esse humanista por natureza, sociólogo, filósofo e ex-seminarista, quando completou 80 anos, em abril deste ano.


Basta conhecer o Sesc-SP para entender que suas palavras não eram vazias de propósitos. Ali, todos têm acesso a cultura de qualidade, cursos de qualidade, curadoria de qualidade, alimentação de qualidade, conteúdos de qualidade. Esse legado foi construído em 40 anos de trajetória, começando pequeno, como gestor cultural, até chegar a diretor geral do Sesc-SP.


Danilo vai fazer falta, porque é difícil encontrar pessoas que tenham acumulado tanto conhecimento e consciência sobre seu papel social e ainda estejam na militância, em cargos importantes do fazer cultural, educacional, ambiental. Danilo reunia as condições perfeitas para fazer muito mais, porque soube construir uma imagem de respeito independentemente de poder político ou partidário. Sua fala sempre ecoou em todas as instâncias de governo como alguém coerente e livre de interesses pessoais. Sua batalha mais recente foi em maio deste ano, quando se colocou contra, de forma veemente, à transferência de 5% das verbas do Sesc/Senac para a promoção do turismo internacional. O projeto foi retirado de pauta.


Ninguém é eterno, mas algumas pessoas estão tão fortemente ligadas ao cenário que construíram que é difícil imaginá-lo sem elas. É como se a retirada de uma peça desse cenário fizesse o todo desabar. Sabemos que isso não vai acontecer com o Sesc, porque Danilo construiu alicerces fortes e sólidos, que continuarão de pé porque fazem sentido, porque se mostraram eficientes e assertivos. Que assim seja. Que a 'transformação pela cultura' que ele pregava siga firme pelas mãos dos próximos gestores que tiverem a honra de sentar em sua cadeira.


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