Se fosse possível colocar na parede, lado a lado, todas as milhares de pessoas que destruíram os prédios dos três poderes, em Brasília, na tarde de domingo, o que diríamos a elas? Eu tenho na cabeça ao menos três perguntas simples que gostaria que o bando respondesse:
Vocês estão felizes com a repercussão internacional e a imagem ruim que o Brasil projetou em todos os continentes?
Se vocês perderem o emprego amanhã porque os investimentos de fora cessaram e postos de trabalho foram encerrados, para quem vão pedir auxílio-desemprego ou Bolsa-Família?
Se amanhã ou depois chegar a casa de vocês um boleto para pagar a cota-parte de cada um pelos prejuízos causados vão recorrer à Justiça que ajudaram a destruir ou pagarão serenamente?
Ouvidas todas as repercussões, análises e ponderações sobre as cenas de barbárie vividas na Capital Federal no último domingo, muita coisa já se sabe: foi um movimento articulado durante semanas, provavelmente por meio de redes sociais; o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi inapto e negligente com a segurança do principal centro de poder do País; seu secretário de Segurança, Anderson Torres, poderia estar fazendo qualquer coisa, menos viajando de férias quando todos já sabiam que uma articulação insana dessa proporção estava em curso. E mais: todos subestimaram a capacidade de movimentação e ação dos grupos extremistas, que desde o resultado das urnas lançavam petardos contra a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para os simples mortais, episódios assim até podem parecer ações abruptas e inesperadas, mas é difícil acreditar que as instituições do País, especialmente Polícia Federal e gabinetes de segurança, não tenham interceptado mensagens e articulações que previssem esse desfecho. Uma ação orquestrada e eficiente como a de domingo não se monta em 24 horas. Onde estão os serviços de inteligência e estratégia do Planalto? Para que servem a tecnologia e a interceptação de conversas? Se houve conivência de quem deveria fazer a prevenção, mais uma frente de investigação deve ser aberta.
O fato é que o Brasil, com cenas de selvageria típicas de republiquetas, vai se distanciando da prateleira de países prontos para receber novos e bons investimentos. Se é verdade que aqui estão as melhores oportunidades e apostas para um mundo sustentável e ambientalmente limpo, também é verdade que a insegurança e a instabilidade social afugentam quem quer colocar dinheiro e obter retorno, quem quer investir na certeza de que as instituições são fortes e seguras.
O bando ignobil de desvairados que foi às vias de fato no domingo não representa a maioria do povo, isso também é fato. Não representa sequer a maioria dos que votaram pela continuidade do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Votar contra Lula faz parte da democracia, é assim que funciona. Caberá a Lula provar aos 58 milhões de bolsonaristas do segundo turno que vale a pena acreditar em seu governo. Assim caminha o jogo político nas democracias maduras.
À minoria de arruaceiros, baderneiros, mimados e criminosos, o rigor da lei é a única ferramenta que funciona. De preferência, com perda de patrimônio para ajudar a pagar os estragos. Aos mentores intelectuais e a todos aqueles que, à distância, articularam a ação sem sujar as mãos, que tenham seus nomes divulgados, seus direitos políticos suspensos e sem qualquer foro privilegiado. Ou isso ou episódios assim poderão logo sair do Planalto Central e virar a normose brasileira.