Adolescência pede sempre o diálogo

Fase é um momento rico da existência, mas difícil de passar. Ouvir os jovens dá pistas de como pais podem lidar melhor

Por: Arminda Augusto  -  05/11/23  -  14:22
Ouvir os adolescentes sobre essa etapa da vida, em que nem são mais crianças nem adultos, dá algumas pistas sobre quais caminhos podemos trilhar para deixar aberto aquele espaço bonito construído desde que nasceram
Ouvir os adolescentes sobre essa etapa da vida, em que nem são mais crianças nem adultos, dá algumas pistas sobre quais caminhos podemos trilhar para deixar aberto aquele espaço bonito construído desde que nasceram   Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Um papel em branco, de uma folha quase translúcida, pronta para receber todas as cores do universo. Imaginado assim, o filho que nasce representa uma alegria e um dos maiores desafios da existência humana. O que escrever nessa folha? Que cores usar? Letras pequenas para aproveitar melhor cada página ou letras grandes para arejar os espaços? Escrever até quando? Usar borracha e lápis ou caneta? E quando permitir que escrevam sozinhos em suas próprias páginas?


Ouvir os adolescentes sobre essa etapa da vida, em que nem são mais crianças nem adultos, dá algumas pistas sobre quais caminhos podemos trilhar para deixar aberto aquele espaço bonito construído desde que nasceram. "Nós queremos falar, sim, mas sem que nos julguem porque pensamos diferente". "Manter o diálogo também é uma tarefa dos filhos. Eles também precisam ter paciência com os pais”. “Tenho amigos que postam coisas nas redes sociais o dia inteiro, parecendo que fazem mil coisas, mas na escola não se relacionam com ninguém”. “Não me abria com meus pais porque eles sempre me viram como perfeito. Falar que eu tinha problemas poderia decepcioná-los”.


Quer elementos mais reveladores e profundos que essas falas, ditas por jovens adolescentes e os que já passaram dessa fase?


Nada mais didático que colocar todos juntos e ouvir o que cada um tem a dizer, e foi esse o propósito do último encontro desse projeto que logo, logo completa seu oitavo ano. Desta vez, o tema foi inédito, porque falar sobre educação de adolescentes não é colocar em debate metodologias de aprendizado, lei de diretrizes e bases nem a qualidade dos espaços dentro das escolas. É falar sobre meninos e meninas que têm a tarefa de aprender e estudar, mas que levam para o ambiente escolar todos os conflitos, angústias, questionamentos e dores próprios da adolescência. A forma de manifestar essa turbulência de incertezas e sensações nem sempre é pela fala, pelo diálogo. O silêncio fala, a auto-mutilação fala, o isolamento fala, os rabiscos e poesias aparentemente sem nexo também falam.


Psicanalistas e psicólogos ouvidos no fórum de terça-feira concordam que é preciso impor limites e manter as regras da vida, mas que essa tarefa poderá ser menos difícil se o acesso a esses jovens for trilhado com paciência e diálogo, com resiliência e escuta.


O bullying e o cyberbullying continuam fazendo vítimas no ambiente escolar e, pior que isso, nas redes sociais. É um capítulo importante na relação de pais e escola com os adolescentes, e deve ser combatido aos primeiros sinais. Ele faz estragos em um corpo e uma mente que ainda estão em formação, com sentimentos difusos e crises de identidade que machucam.


O velho ditado de que eles não vêm com manual de instrução continua verdadeiro, mas com paciência, afeto, rigor na medida certa e diálogo, o papel em branco se transformará em uma bela escrita.


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