O primeiro acampamento do Brasil

Encravado na Serra da Mantiqueira, o Paiol Grande é um oásis para as famílias

Por: Carlota Cafiero & Especial para A Tribuna &  -  09/02/20  -  23:59
Paiol Grande, é o primeiro acampamento educativo do Brasil, fundado em 1946, em São Bento do Sapucaí
Paiol Grande, é o primeiro acampamento educativo do Brasil, fundado em 1946, em São Bento do Sapucaí   Foto: ( Claudio Vitor Vaz/Especial para A Tribuna)

Em um vale no coração da Serra da Mantiqueira, a 265 quilômetros de Santos, existe um acampamento diferente, onde as mulheres dormem separadas dos maridos e as crianças dos seus familiares, em chalés divididos por gênero e faixa etária. E todos adoram a experiência, porque assim interagem entre si, trocando vivências e fazendo novas amizades.


Batizado de Paiol Grande, é o primeiro acampamento educativo do Brasil, fundado em 1946, em São Bento do Sapucaí. Localizada a apenas 40 quilômetros de Campos do Jordão, a cidade oferece clima similar à vizinha e abriga um dos pontos mais altos do Estado, o Complexo do Baú, formado por três montanhas de pedra: Bauzinho, Pedra do Baú e Ana Chata.


Administrado por uma Fundação, o Paiol está instalado numa propriedade de mais de 25 hectares, em área de proteção ambiental, rodeado de Mata Atlântica, com lagoa e cachoeira (a dos Amores). O visual, logo para quem chega, é deslumbrante: do vale em que estão instalados os chalés, vemos as montanhas do complexo do Baú.


Nossa chegada ao Paiol Grande foi com muita chuva, no feriado de 15 de novembro, Dia da Proclamação da República. Por sorte, levei minhas galochas e as da minha filha, Maria Paula, para pisarmos à vontade nas poças d’água que se formavam no gramado e entre as pedras das calçadas que davam acesso aos chalés.


A primeira coisa que fizemos foi subir as ladeiras que levam às acomodações. Havia uma expectativa, criada por mim e meu marido, de que nossa filha, que tem quase 4 anos, passasse uma noite num chalé, somente com crianças. Mas descobrimos que, naquela ocasião, só havia chalés com crianças a partir dos 7 anos.


A equipe do Paiol costuma receber grupos de crianças a partir dos 4, mas somente em janeiro. O acampamento tem capacidade para hospedar até 240 crianças com segurança e conforto. Cada chalé acomoda, em média, 20 acampantes, divididos por gênero e faixa etária.


Nossa filha passou a noite de sexta comigo, no chalé Primavera, para mulheres e filhos pequenos. O papai Claudio pernoitou no chalé Lua, com os outros papais do acampamento.


Clima descontraído


Paiol é o lugar onde se guarda produtos agrícolas e outros materiais utilizados em fazendas. Mas, no caso do acampamento, dá o nome ao vale do Complexo do Baú, que se tornou um cenário perfeito para gerações de famílias vivenciarem bons momentos e lembranças.


A beleza do vale, a diversão sem pressa ou consumismo, além da convivência, propiciam o surgimento de novas amizades ou mais do que isso. Conhecemos gente que conheceu o futuro marido ou esposa lá, teve filhos e continua a tradição de levar as crianças agora.


O clima geral é muito tranquilo, com momentos de diversão e interação entre todos os acampantes, como no desjejum, almoço e jantar, quando todos se encontram no refeitório e os monitores animam os participantes com músicas, imitações e brincadeiras.


Detalhe importante: todos se servem e retiram a mesa, inclusive a limpam. O mesmo vale para os chalés: todos arrumam suas camas e cuidam da limpeza do ambiente, respeitando regras simples como não entrar calçado e passar o rodo após tomar banho.


Há ainda o lanche da tarde, que costuma ser servido onde as famílias estiverem concentradas – e isso depende das atividades programadas para o período.


O Ginásio e o Ranchão são outros pontos de encontro, especialmente durante as noites e quando chove. Um grupo de monitores envolve todas as famílias em jogos e gincanas nas quadras. Também tem salas para carteado, bilhar, jogos e um ateliê de arte, com atividades livres e dirigidas.


Tradição atrai gerações


Os chalés ficam encravados num declive todo gramado e com caminhos cheios de pedrisco, cercados de pinheiros e paineiras. É preciso ter disposição para subir e descer por escadas e estradinhas, mas o visual vale muito a pena: é mágico olhar para o alto e admirar o paredão de mata e pedra que forma o complexo do Baú. De noite ou de dia, aquele colosso da natureza está lá, impassível e nos fazendo sentir tão pequeninos.


A floresta atrai muitos pássaros e o canto deles, logo cedinho, enche os ouvidos. Assim como os monitores, que caem da cama às 6h, de megafone em punho, cantando músicas de ordem e saudando cada um dos chalés.


Conhecedores das tradições do Paiol, os frequentadores mais velhos pulam cedo da cama e vão receber os monitores de pijama mesmo, na porta do chalé, cantando junto com os monitores e respondendo às palavras de ordem.


Encontramos gente (que não quis se identificar à reportagem) que frequenta o lugar desde a década de 1950, primeiro como criança, levado pelos pais, depois, quando adulto, levando os filhos e, hoje, é levado pelos filhos já adultos e netos.


O Paiol também atrai muitos educadores e diretores de escolas de ensino Fundamental e Médio, de vários estados do Brasil, que se hospedam para conhecer o local e, posteriormente, agendar a ida com as turmas das escolas.


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