Professor conquista a primeira faixa preta de krav maga de Santos: 'Completei o impossível'

Lucas Neves é um dos responsáveis pela disseminação da modalidade na região, na última década

Por: Daniel Rodrigues*  -  07/10/22  -  07:40
O professor Lucas Neves é pioneiro na técnica do krav maga na região
O professor Lucas Neves é pioneiro na técnica do krav maga na região   Foto: Lucas Neves/Arquivo pessoal

A cidade de Santos tem pela primeira vez um faixa preta no krav maga - técnica de defesa pessoal criada em Israel. Lucas Neves, professor da federação sul-americana da modalidade, recebeu o título das mãos do grão-mestre Kobi Lichtenstein, a maior autoridade da área na América Latina.


Neves, que é responsável pela disseminação do krav maga em Santos há mais uma década, recebeu a graduação como faixa preta no Rio de Janeiro, onde fica a sede da Federação Sul-Americana. Com isso, ele passa a integrar o seleto grupo de 95 faixas pretas que a entidade formou na América Latina, em seus 32 anos de história.


Segundo o santista, ter conquistado essa nova faixa foi um ponto fora da curva. “Eu via como um sonho impossível. Sempre ouvi falar do exame, que era algo fora do comum, que muitos reprovavam”. Incentivado pelo grão-mestre Kobi, no início deste ano, ele passou a preparar tanto a parte física quanto a técnica para o exame. “Foquei durante seis meses no objetivo de ter a faixa preta na cintura e alcançar o sonho”.


Neves passou a perceber durante os treinos que o sonho podia se tornar realidade. Em um único dia, ele fez três exames. “Meu corpo estava esgotado no último dia, mas nada iria me parar”, explica o professor.


Ele conta que, ao fazer o último exercício, deitou no chão. Neves teve de percorrer três quilômetros em 14 minutos, fazer 10 barras, 15 paralelas, 60 flexões e 80 abdominais, além de levantar cinco halteres de 5 quilos, amarrados em uma faixa, flexionando o punho.


O tão aguardado exame técnico ocorreu no dia seguinte. Lucas lembra que a adrenalina e ansiedade para o teste fizeram com que ele dormisse bem na noite anterior e levantou da cama sem dor alguma, como se não tivesse feito nada na véspera. “Foram quase sete horas de exame técnico para 41 pessoas. Um exame fora do comum, nada parecido com os outros que eu já havia feito para as seis graduações anteriores. No final, eu estava mais cansado que no dia anterior, mas feliz por ter completado o impossível”, conta.


Na semana seguinte, o grão-mestre Kobi ligou e deu a tão esperada notícia. “Não me contive e chorei. Era uma misto de alegria, alívio e orgulho. Sabia que nessa graduação só estavam os melhores dos melhores, um seleto grupo avaliado pelo grão-mestre, submetido a momentos únicos que só um verdadeiro faixa preta passaria”.


Uma das coisas que mais emocionaram o santista foi uma frase que ouviu do grão-mestre Kobi, que passa para os alunos até hoje. "A faixa preta não está no pano amarrado na cintura. Aquilo é apenas um símbolo. A verdadeira faixa preta está no coração". O professor acredita que nem sempre um aluno almeja a graduação máxima, mas se tiver um objetivo e se dedicar a ele, superando os limites, vai alcançar.


Neves iniciou no krav maga em 2003, a convite de um amigo. Por curiosidade, acabou fazendo uma aula experimental e gostou. Com o tempo, começou a ver que a autoconfiança estava mais alta e a postura mudava a cada aula. “Eu realmente estava me transformando, com apenas alguns meses de prática. Sempre fui mais quieto e inseguro, mas comecei a mudar. Isso me estimulava a ir cada vez mais longe, a ver onde eu poderia chegar”, explica.


Desde 2012, ele dá aulas em Santos e leva sua experiência aos alunos. “Quem entra no meu tatame, eu acolho como familiar mesmo, passo tudo o que me foi passado. Assim como um pai, me orgulho da evolução de cada aluno”, diz.


Ele afirma que o krav maga é reconhecido mundialmente como a melhor arte de defesa pessoal, tanto que é ensinado em forças de elite. “Como tudo que fica famoso, infelizmente já existem muitos instrutores que não possuem o preparo adequado, ou muitas vezes nem sabem o que é krav maga verdadeiramente, e abrem academia ou dão aula por aí, enganando os alunos”.


Sempre que fala com alguém, Lucas Neves sempre aconselha a pesquisar bem a academia e perguntar onde o instrutor se graduou, em qual federação. “O krav maga lida com o bem mais precioso do ser humano, a vida. Se alguém ensina errado, está colocando a vida de seu aluno em risco”.


O krav maga é um sistema de defesa pessoal sem regras, no qual não há competições. Ele é voltado a situações de rua, do dia a dia. Criado na década de 40 por Imi Lichtelfeld, foi desenvolvido para ensinar os judeus a sobreviverem à perseguição nazista. Ou seja, desde seu início, tem a sobrevivência como o objetivo principal. São movimentos simples e rápidos, que visam atingir pontos sensíveis ou vitais do agressor em poucos segundos.


Além disso, o krav maga trabalha com a transferência de peso e explosão muscular, que juntos tiram a necessidade de força física, dando a qualquer um a oportunidade de se defender. Por essa razão, o sistema de combate se adapta ao praticante, independente de sexo, idade ou porte físico.


*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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