Os detalhes arquitetônicos da Vila Mathias, um dos mais tradicionais bairros de Santos, estão em exibição no ateliê Gravurar, da artista plástica Márcia Santos, de 58 anos. A mostra, que vai até 30 de setembro, de segunda a sexta, das 16h às 20h, revela a arquitetura anônima que carrega a identidade dos moradores dessa área da Cidade.
Para a exposição, Márcia Santos iniciou uma longa pesquisa, que passa pela utilização de material em tetrapak. Permitindo que ela trabalhe com a técnica de côncavo ou a de relevo, a escolha surgiu da necessidade de diálogo com a arquitetura. “A gravura é uma arte de múltiplos, então o artista vai fazer um carimbo e, com ele, vai marcar várias vezes a imagem”, diz. “Sempre pesquisei materiais alternativos, como policarbonato e acetato, para fazer gravura. O tetrapak é apenas uma continuidade dessa pesquisa”.
A realização da exposição passa pela própria localização do Gravurar, que fica na Rua Leonardo Roitman, na Vila Mathias. As obras dialogam com a arquitetura do bairro e até mesmo da Cidade. Uma das principais questões assumidas por Márcia foi a questão identitária. O bairro tem muitas casas atrativas, mas a dúvida era se isso gerava sensação de pertencimento em seus moradores. “A minha pretensão é a de que, quem olhar o trabalho, se sinta convidado a se tornar um observador e, a partir de suas próprias ações, mudar o que for possível. Acho que é um objetivo real”, diz ela.
Entre os artistas de Santos, existe um consenso de que alguns lugares são considerados clichês para se fotografar ou registrar. É justamente aí que entra a função de Márcia: dar um toque autoral ao que é o bairro, sem que um invalide o outro. “Casinhas que estão perdidas por aí também têm beleza, história. Nesse ponto, me interessa mais o que não é valorizado, como fazer uma pintura, ou uma aquarela, do que apenas colocar ponto histórico em evidência”.
Quem for visitar a exposição poderá conhecer os trabalhos e as dinâmicas de um ateliê. Também estarão disponíveis outras obras da artista para apreciação e aquisição. “Em relação à minha produção, estou pegando minhas gravuras, que são trabalhos originais, e estou colando em postes para que a população que passe por aqui tenha contato com uma obra de arte. Não importa se ela já conhecia o tema ou não. O foco é levar para as pessoas algo com o qual elas não tiveram contato e que essa experiência possa incitá-las a estarem mais atentas no urbano”.
*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.