Engenho dos Erasmos, em Santos, inaugura exposição permanente sobre ruínas históricas

Público poderá ver artefatos arqueológicos dos tupinambás e também representações tridimensionais dos sambaquis

Por: Mariana Garrido*  -  03/04/23  -  10:35
Réplica do engenho, na sua forma original, faz parte da exposição permanente
Réplica do engenho, na sua forma original, faz parte da exposição permanente   Foto: Mariana Garrido

O Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos, na Zona Noroeste, em Santos, fará a inauguração de uma exposição permanente, batizada “Ruínas Quinhentistas em Território Milenar”. O evento, nesta terça-feira (4), às 10 horas, é aberto ao público e gratuito.


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No local, considerado um sítio arqueológico, foram encontrados diversos artefatos históricos que remetem aos indígenas de origem tupinambá. Os objetos estão disponíveis na exposição para os visitantes avaliarem com mais detalhes.


Além disso, quem visitar pode ver uma obra exclusiva, produzida pela ativista indígena Moara Tupinambá, intitulada “Kuêra”. A artista desenvolve projetos gráficos para comunicar a luta indígena para a população.


A exposição também contempla o povo sambaquieiro, que habitava o litoral antes dos indígenas e é famoso pelos chamados sambaqui, com uma representação tridimensional realista do povo milenar e de seus costumes.

Segundo o historiador Leandro da Silva Alonso, “sambaquis são uma espécie de deposito de conchas que os homens pré-históricos formaram a partir daquilo que eles acumulavam ao longo da vida. Então, com os vestígios que são formados, essas conchas acabam se sedimentando e ficando como se fosse uma pedra”. Ele ainda comenta que a composição do sambaqui funcionava como uma espécie de cimento, sendo usada para a construção de edifícios.


Mapas sobre diversos temas estão disponíveis para os visitantes. Sempre com assuntos relacionados ao Engenho, à formação territorial da Baixada Santista e à colonização brasileira, os mapas contemplam a diáspora africana, a ocupação do território, caminhos utilizados por indígenas no período pré-colonial e outros fatos históricos, como a formação de quilombos.


Leandro Alonso define os quilombos como “núcleos populacionais, formados durante o período colonial, que recebiam a população escrava que conseguia fugir de seus senhores, como modo de resistência”. O historiador ainda reforça que pessoas brancas pobres e indígenas também faziam parte desse núcleo. Ele ressalta que as comunidades quilombolas representam atualmente um símbolo de resistência e vinculo territorial, já que essa população conseguiu manter sua cultura, a transmitindo para as gerações mais novas.


A exposição também abrange a natureza ao redor do Engenho dos Erasmos. Contendo a descrição de animais brasileiros dada por Padre Anchieta através de cartas, mapas de desmatamento, viagens das plantas.


Segundo o atual diretor do monumento nacional, o professor Yuri Tavares Rocha, “nunca houve tanta informação visual disponível para o público sobre a história do local onde foi fundado o Engenho dos Erasmos. A exposição permanente volta no tempo, contemplando desde a primeira evidência de presença humana no local, passando para o período construção do engenho e chegando ao momento de doação do território para a USP”.


A exposição foi iniciada na gestão anterior, quando a professora Beatriz Pacheco Jordão, até então diretora do Engenho dos Erasmos, submeteu, em 2019, ao Programa de Ação Cultural de São Paulo (PROAC) o projeto. Influenciada pelo retrocesso nas pautas sociais e o preconceito, a docente, junto com o professor André Müller de Mello, realizou a curadoria dos artefatos da exposição permanente.


Também educador do Engenho, André Müller explica a importância de dar espaço para minorias sociais na exposição. “Como testemunho material do início da ocupação europeia no território americano e do contato do colonizador com indígenas e africanos escravizados, este bem cultural torna-se ideal para propor reflexões sobre formas de combater o racismo estrutural, os silenciamentos históricos ligados aos movimentos de resistência e os efeitos contemporâneos da colonialidade: concentração de renda, injustiças sociais, segregação, violência, dentre tantos outros”, comenta.


Ruínas Quinhentistas em Território Milenar foi produzida com recursos do Programa de Ação Cultural São Paulo (Edital PROAC No. 13/ 2019) da Secretaria de Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo e da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP. A exposição conta com a parceria do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP.


Órgão da PRCEU-USP, o Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos é a mais antiga evidência física da colonização portuguesa no Brasil. Sendo tombado na esfera municipal, estadual e federal, é considerado representante icônico da conexão étnico-cultural ameríndia, europeia e africana.


É constituído de um sítio arqueológico à céu aberto, cercado de mata atlântica, onde estão presentes as ruínas do engenho, do paiol e da capela e cemitério, construídos com cal de sambaqui.


As visitações, tanto às ruínas, quanto ao acervo disponível, são monitoradas e guiadas pelos estagiários do Engenho dos Erasmos, estudantes de diversas áreas. O monumento e a exposição ficam abertos de terça-feira à sábado, das 9h às 16h, na Rua Alan Ciber Pinto, 96, na Vila São Jorge, em Santos. Para grupos maiores de 10 pessoas, é necessário o agendamento prévio.


*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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