Carteira e colar de girassol usados por pessoas com deficiências são pouco conhecidos em Santos

Recursos ajudam portadores de deficiências ‘invisíveis’, mas público-alvo pede maior divulgação

Por: Bárbara Chiandotti e Beatryz Bonatelli*  -  27/05/22  -  08:02
Atualizado em 27/05/22 - 12:23
Os colares e carteirinhas permitem a identificação e contribuem para garantir direitos
Os colares e carteirinhas permitem a identificação e contribuem para garantir direitos   Foto: Divulgação/Prefeitura de Santos

Distribuídos pelo Programa Santos Acessível, mantido pela Prefeitura, dois meios de reconhecimento das deficiências não visíveis, os colares de girassol (cordões para o pescoço) e as carteiras de identificação, ainda são pouco conhecidos. Eliane Mello, 54 anos, assistente social da Congregação Santista de Surdos, afirma que ainda não viu pessoas com deficiência utilizando esses meios de identificação. “Isso acontece, talvez, por receio de existirem rótulos que a própria sociedade coloca nas pessoas com deficiência”, avalia.


Regulamentados por meio de decreto municipal de 3 de dezembro de 2021, o colar de girassol e a Carteira de Identificação da Pessoa com Deficiência ajudam a garantir os direitos dos portadores. Até o final de março, foram distribuídos cerca de 140 colares e emitidas 619 carteirinhas, de acordo com o Santos Acessível.


Para Eliane Mello, falta maior divulgação e incentivo para que esses meios de identificação sejam utilizados por todos aqueles que fazem parte do público-alvo. "É um começo, e tudo no começo é difícil, mas se a Prefeitura melhorar os projetos que possui em Santos, as empresas e ela própria vão melhorar gradativamente a acessibilidade de todos".


De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 8,4% dos brasileiros acima de 2 anos de idade possuem algum tipo de deficiência. Em Santos, 16% da população possuem alguma deficiência não visível. Desse total, os deficientes visuais correspondem a 71,9%, seguidos dos auditivos, com 22,6%, e dos portadores de deficiências intelectuais, com 5,3%, e destaque para os transtornos do espectro autista (TEA) e de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).


Renata Marques, coordenadora pedagógica do Núcleo de Reabilitação de Excepcional São Vicente de Paulo (Nurex), também acredita que falta mais divulgação sobre os projetos. Muitos alunos do Nurex, segundo ela, não utilizam ou não conhecem os colares de girassóis e cartões de identificação. Mesmo assim, Renata admite que a Cidade tem aberto muitas oportunidades para a comunidade autista. “Dar o suporte para o autista é essencial para que sua vida não seja prejudicada. Toda ação que venha ajudar na inclusão é muito bem-vinda”.


Cristiane de Moraes Bernardo, 43 anos, mora em Santos e é deficiente auditiva. Ela utiliza a carteirinha de identificação. “Vou ao banco, por exemplo, e já mostro minha carteirinha para mostrar que tenho deficiência, para fazer com que a minha deficiência tenha visibilidade. Assim, eu consigo ter ajuda com mais facilidade quando preciso”.


Cristiane foi diagnosticada aos 4 anos de idade, quando uma professora percebeu que ela não escutava quando chamavam. “Meus pais não sabiam que eu tinha deficiência. Achavam que eu tinha preguiça de escutar, de falar certo, que era uma mania minha. A diretora chamou meus pais e eles me levaram ao médico para fazer exames de audiometria. A partir daí, passei a utilizar aparelho auditivo”.


A vida de Cristiane sempre foi difícil, pelas batalhas que teve de enfrentar por causa de sua condição. As pessoas não entendiam que se tratava de uma deficiência: “Muitas vezes, falaram que eu só ouvia quando queria, mas não entendem o que eu consigo ouvir”, diz.


Em locais públicos, principalmente quando precisa de auxílio, Cristiane diz que as pessoas não têm paciência para repetir palavras e frases que não ouviu direito, e que isso causa grande constrangimento. “É preciso passar para a sociedade o quanto é importante nossa deficiência, para que tenhamos mais dignidade”, afirma. “É preciso ter empatia e se colocar no lugar do próximo, pois temos muita dificuldade para viver no mesmo mundo”.


Danilo Pereira Tedros, de 33 anos, é o único de sua família que possui Síndrome de Asperger. Ele possui a carteirinha e o colar desde o lançamento da campanha santista, e diz que ambos ajudam nos atendimentos em diversos estabelecimentos. Mesmo assim, reconhece que diversos lugares ainda não possuem conhecimento dos itens e sua funcionalidade.


Gabriel Henrique Ferreira, de 23 anos, é autista e diz que o colar tem tornado a identificação de condições como a sua mais fácil. Mas admite que o conhecimento sobre o benefício é limitado. “Já me perguntaram o que era e para o que servia”.


A Prefeitura de Santos explica que o colar e a carteira são iniciativas de âmbito facultativo. Como não são obrigatórios para pessoas com deficiências não visíveis, fica a critério do público a adesão ao benefício. A Prefeitura ainda ressalta que realiza campanhas permanentes de divulgação na mídia, em ônibus públicos, policlínicas, UPAs, UMEs e delegacias.


*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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