Fiéis se unem em ação e assistência com tapetes em Santos: 'Sem fé, a vida perde o sentido'

Objetos alusivos a Corpus Christi lembram adoração à Eucaristia e atos de solidariedade no bairro Aparecida

Por: Redação  -  17/06/22  -  07:29
Atualizado em 08/09/22 - 15:30
Em meio a detalhes, pessoas de variadas idades, de crianças a idosos, se juntaram em um propósito
Em meio a detalhes, pessoas de variadas idades, de crianças a idosos, se juntaram em um propósito   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Aos pés da cruz, a reverência. Sob os pés dos fiéis, em formato de tapetes, o amor em estado pleno, sincero, humilde e solidário. Essa era a tônica dos preparativos para mais uma celebração de Corpus Christi nas igrejas de Santos.


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Em meio aos últimos detalhes para as procissões, pessoas de variadas idades, de crianças a idosos, se uniam num propósito. Na Igreja Nossa Senhora Aparecida, o amor era materializado em serragem, sal e papel alumínio, que compunham os desenhos dos mais de 20 tapetes.


Um deles, o primeiro, representava a solidariedade na forma de alimentos e produtos de higiene doados, que atenderão os membros da comunidade que mais necessitam.


“A gente vê um movimento um pouco menor, ainda como efeito da pandemia. O custo financeiro das pessoas também não anda bom. Mas a gente está otimista de que consiga preencher o tapete”, descrevia a dona de casa Maristela Santos Augusto.


E havia razões para acreditar nisso. Ela conta que, recentemente, viu de perto a necessidade de ajudar. “Passei outro dia por uma senhora que estava deitada, mas que não aceita ajuda, mesmo sob frio. Aí é mais difícil ainda. Mas o que nos move é fazer o que Cristo nos ensinou: amar uns aos outros como Ele nos amou.”


Sintonia
Quem reforça esse tipo de confiança são pessoas como Ana Monteiro, de 73 anos. Ela ajudava a confecção dos tapetes e esbanjava simpatia — e empatia com o próximo.


“Para mim, participar é uma satisfação, uma alegria enorme. Para ajudar os pobres, só quem também é pobre. Isso é emocionante, porque a gente sente na pele o que as pessoas realmente necessitam.”


O amor ao próximo contagiava os mais novos, como as amigas Raissa Galotti e Maria Luiza de Almeida Alves. Ambas trabalhavam na confecção do tapete e, entre risos e brincadeiras, demonstravam satisfação de fazer parte da celebração.


“Estar junto com os amigos é muito importante, porque você tem um crescimento espiritual muito grande. A gente sentiu falta de ter esse momento (no auge da pandemia), esse contato com as pessoas. A religião acaba dando uma força, uma conexão, para lidar melhor com as coisas”, explicam as amigas.


É o mesmo pensamento de Yasmin Trindade de Resende Ferreira, de 18 anos. Ela preparava o tapete com um grupo de coroinhas. Os pequenos davam sua contribuição, enfeitando tampinhas de garrafas PET para adornar um desenho de Nossa Senhora Aparecida. “Desde pequenos, vivemos a fé. Comecei com a idade deles, mais ou menos”, lembrava.


Gratidão
Coordenando os trabalhos, o padre Lucas Alves da Silva observava tudo com satisfação. Para ele, o dia era da união da fé e da solidariedade.


“Após dois anos de distanciamento, estamos voltando com essa grande festa. para que o povo perceba que a Eucaristia é o centro da fé cristã”, resumiu. E a fé não costuma falhar — já dizia a canção.


Testemunho
E quando a fé resulta no testemunho de quem venceu a covid-19? Na preparação dos tapetes que adornavam as celebrações de Corpus Christi na Igreja Imaculado Coração de Maria, na Vila Mathias, o socorrista José Soares Júnior e o gerente de compras Carlos Alberto Gomes da Silva sabem o que é isso. E, ontem, ajudavam a preparar a festa.


“Antes da covid, nunca havia sido internado. Bateu medo e, principalmente por ser da área, conhecer e ter visto a quantidade de pessoas que se foram. Perdi muitos amigos que trabalhavam comigo no resgate e nos hospitais”, diz Soares.


Ele contraiu covid em duas ocasiões. A primeira em 2020, quando acabou internado por seis dias, dois deles na UTI, quando foi verificado um problema cardíaco. Passado o drama, o momento é de celebrar com a comunidade.


“Minha irmã colabora com a igreja. Todo ano, trago minha filha e, agora, meu filho também para participar.”


Gomes da Silva também contraiu covid duas vezes, a exemplo a esposa. No seu caso, a baixa imunidade do organismo agravou os efeitos da doença. Mas a fé prevaleceu diante da incerteza.


“Tive mais sintomas emocionais do que físicos ou patológicos. Meu medo era contagiar meus filhos. E, sem Deus para sustentar essa insegurança, ficaria mais difícil ainda”, sinaliza.


O padre Sebastiano Franciulli, pároco da Coração de Maria, viu de perto o drama vivido na Itália no início da pandemia e reforça o entendimento da força da religião diante dos problemas.


“Era o único padre na cidade que recebia confissões. Não podia abrir a igreja, porque muitos eram idosos e queriam, ao menos, dialogar. Mas, sem fé, a vida perde o sentido”, atesta.


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