
Navio de cabotagem no Porto de Santos: empresas têm dificuldade para encontrar oficiais para o trabalho (Matheus Tagé/Arquivo AT)
Uma alternativa foi criada para minimizar os problemas causados pelo número insuficiente de oficiais de Marinha Mercante, os chamados marítimos, para trabalharem em navios. Trata-se do Programa ReIntegrar No Mar, promovido pela Log-In Logística Integrada. Ele tem como objetivo central permitir que o 1º oficial e chefe de máquinas, com certificação expirada, retome suas atividades de navegação.
“Não se trata de um curso. A estratégia da criação foi para que nos desvinculássemos do Exame de Revalidação para Oficiais de Máquinas (Erom). Assim não dependeríamos da Marinha. O estágio de 90 dias que os selecionados realizarão na Log-In substitui o Erom”, afirma a diretora de Gente, Cultura e Transformação Digital da Log-In Logística Integrada, Andréa Simões.
No Brasil, a certificação dos profissionais marítimos é realizada exclusivamente pela Marinha, em três anos de estudo (complementados com até dois anos de prática a bordo), por intermédio das Escolas de Formação de Oficiais de Marinha Mercante (Efomm), o Ciaga (Rio de Janeiro-RJ) e o Ciaba (Belém-PA). Os cursos são abertos anualmente, mas o número de vagas oferecidas está aquém das necessidades do mercado.
A gerente de Consultoria Interna da Log-In, Paula Oliveira, reforça que o programa realoca os marítimos de maneira mais ágil. “Em apenas três meses, na modalidade de estágio, a Log-In consegue apoiar na reintegração e revalidar as certificações desses profissionais em tempo recorde, gerando equipes de maquinistas ainda mais qualificadas para a frota da companhia”, comenta.
Para se ter uma ideia, é previsto um déficit de profissionais girando entre 2 mil e 4 mil em 2030, segundo pesquisa realizada pela Fundação Vanzolini e pelo Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária (Cilip) da Universidade de São Paulo (USP) e encomendada pela Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac), Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma) e Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam).
De acordo com a diretora da Log-In, a medida adotada pela empresa não é suficiente para solucionar o problema de déficit de profissionais, mas contribui para a reinserção de marítimos no setor.
“A falta de mão de obra pode prejudicar drasticamente o desenvolvimento do segmento, podendo causar a redução das operações e interrupção da possibilidade de expansão de frotas. Desta maneira, cabe não só às grandes organizações oferecerem alternativas que ajudem a lidar com esse cenário, como é o caso deste projeto, mas principalmente às autoridades responsáveis buscarem alternativas que possam de fato sanar este problema”, aponta Andréa Simões.
Embora o foco do programa não seja a formação de marítimos, o diretor executivo da Abac, Luis Fernando Resano, acredita que a iniciativa - da qual a entidade não participou da estruturação - cubra uma demanda atual importante. “São medidas paliativas para enfrentar o momento e ter oficiais, que não são do início da carreira, disponíveis”, afirma.
Objetivo é a contratação após o estágio
Durante o Programa ReIntegrar No Mar, os participantes serão designados para os navios com base nas necessidades operacionais, tendo uma experiência completa nos serviços de cabotagem e longo curso. Ao todo, serão disponibilizadas duas vagas: uma para 1º oficial e uma para chefe de máquinas, com salário integral referente às categorias. Além disso, os participantes contarão com todos os benefícios oferecidos aos atuais colaboradores da empresa.
Após o período de estágio, a Log-In poderá oferecer um contrato de permanência por 18 meses, diante dos resultados obtidos a partir das avaliações feitas durante o programa.
Para participar do programa, os candidatos interessados devem possuir Ensino Superior completo, Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) para revalidação, experiência prévia em navios e, como diferencial, já ter atuado com contêineres, além de contar com os comprovantes de vacinação das quatro doses contra a covid-19 e o Certificado Internacional de Febre Amarela.