
Quanto maior a faixa etária, menor a proporção de mulheres empregadas no setor portuário (Adobe Stock)
A 2ª Pesquisa de Equidade de Gênero, realizada pela Antaq, acendeu um alerta sobre a permanência das mulheres no setor portuário brasileiro. Os dados revelam uma diferença significativa na presença feminina conforme a faixa etária dos profissionais: enquanto no grupo de 18 a 24 anos elas representam 33,5% da força de trabalho, entre os empregados com mais de 55 anos, esse percentual cai para apenas 8,3%.
Os índices geraram debate e busca por soluções durante o lançamento do projeto Mulheres a Bordo, promovido pelo Grupo Tribuna, na última terça-feira, em Santos.
Segundo a diretora da Antaq, Flavia Takafashi, a disparidade etária entre homens e mulheres nos portos pode ser interpretada como um sinal de transformação. “O setor está, pouco a pouco, se tornando mais atrativo para as mulheres. As jovens se sentem mais aptas a desenvolver carreiras no setor aquaviário”, avalia.
O aumento da participação feminina entre as novas gerações demonstra que o ambiente portuário começa a se abrir, ainda que timidamente, à diversidade de gênero. Entretanto, a pouca representatividade entre as profissionais mais velhas levanta uma preocupação importante: a dificuldade de manter essas mulheres ao longo de suas trajetórias profissionais.
Para Takafashi, a evasão feminina não é uma exclusividade do setor portuário. “Está ocorrendo o mesmo que em todos os outros setores, a falta de inclusão. O entendimento da importância de competências que só se pode ter com o tempo. E a imagem antiga de que apenas os jovens têm condições de estar inseridos em determinadas atividades”.
A diretora destaca que a Antaq vem desenvolvendo iniciativas para enfrentar esse desafio. Uma delas é um novo programa de mentoria voltado exclusivamente para mulheres. “O objetivo é inseri-las, capacitar, mas também possibilitar ‘furar a bolha’ das relações para que possam alcançar níveis profissionais mais difíceis”. A ideia é garantir que, ao ingressarem hoje no setor, as profissionais possam não apenas permanecer, mas também crescer dentro da carreira.
Além da formação de novas lideranças femininas, a Antaq também mira na valorização daquelas que já acumulam experiência. “Todos os programas citados anteriormente visam justamente isso, dar luz para tantas mulheres brilhantes que esperam desenvolver cada vez mais o setor e pensar em um país mais forte e possível para o crescimento com justiça de gênero”, observa a diretora.
A menor presença feminina nas faixas etárias mais altas também reflete uma herança histórica de exclusão e barreiras ao acesso. Flavia reconhece que ainda há resistências a serem superadas nas estruturas mais tradicionais do setor portuário, mas acredita que o ciclo está sendo, pouco a pouco, rompido.
“Sim, gradativamente e com muito apoio das mulheres que estão em altos cargos e fazem história no setor. Isto transforma culturas e possibilita novas oportunidades”, conclui.