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Em estudo

Construção de túnel entre Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo, exigirá amplo canteiro de obras; entenda

Comitiva visita construção na Europa e fala sobre definição de área para construção dos módulos da ligação seca na Baixada Santista

Maurício Martins, enviado à Europa

11 de maio de 2025 às 10:18Modificado em 16 de julho de 2025 às 21:14
Com investimento de 7,1 bilhões de euros, construção do túnel Fehmarnbelt entre Dinamarca e Alemanha impressionou autoridades do Brasil (Maurício Martins)

Com investimento de 7,1 bilhões de euros, construção do túnel Fehmarnbelt entre Dinamarca e Alemanha impressionou autoridades do Brasil (Maurício Martins)

Enquanto a construção do maior túnel imerso do mundo ocupa uma área de 1,5 milhão de metros quadrados (m²) ou mais de 200 campos de futebol, na Dinamarca, a futura ligação seca entre Santos e Guarujá ainda não tem espaço definido para abrigar o canteiro de obras. Embora em escala menor, o túnel brasileiro utilizará a mesma metodologia construtiva aplicada na Europa.

O túnel Fehmarnbelt, que ligará a Dinamarca à Alemanha, começou a ser erguido em 2020 e deve ser finalizado em 2029. Do lado dinamarquês, os trabalhos avançam sobre um extenso terreno em Rødbyhavn, onde é realizada a produção de 79 gigantescos elementos de concreto — com mais de 70 mil toneladas cada — que serão imersos futuramente para formar a ligação de 18 quilômetros sob o Mar Báltico. A operação é conduzida pela estatal Femern, criada exclusivamente para executar e gerenciar a obra.

No Brasil, a situação é outra. O túnel Santos-Guarujá, com 1,5 km de extensão (sendo 870 metros submersos), ainda não tem área reservada para a construção dos módulos. Segundo nota da Secretaria Estadual de Parcerias em Investimentos (SPI) para A Tribuna, “a definição do local do canteiro de obras será de responsabilidade da futura concessionária, a ser contratada após o leilão previsto para 1º de agosto”.

Maior parte do trabalho de construção do túnel europeu se dará na Dinamarca, mas também haverá serviços em solo alemão (Maurício Martins)

Maior parte do trabalho de construção do túnel europeu se dará na Dinamarca, mas também haverá serviços em solo alemão (Maurício Martins)

Entre dúvidas e aprendizados
A ausência de definição sobre o local do canteiro de obras alerta as autoridades locais, que fizeram uma viagem técnica à Europa para acompanhar de perto os modelos de engenharia utilizados em projetos semelhantes. A missão visitou as obras do túnel Fehmarnbelt e a ponte-túnel de Øresund, que conecta Copenhague a Malmö, na Suécia. O objetivo foi observar os desafios da execução e os impactos urbanísticos e operacionais.

“Como vamos fazer o canteiro lá na Baixada Santista, esse é justamente um dos principais motivos dessa viagem: olhar a desembocadura, a entrada, o portão do túnel para a implantação na área urbana, toda movimentação de equipamentos”, afirmou o prefeito de Santos, Rogério Santos (Republicanos), que integrou a comitiva brasileira. “Tudo isso vai ser planejado. Existem já terrenos levantados pelos governos do Estado e Federal. Mas realmente é uma situação bastante complexa”.

O deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) reforça que a obra exige um canteiro expressivo: “São os desafios da obra. Os módulos são fabricados fora da água e depois imersos. O segredo para que essa obra aconteça é a união de todos os atores envolvidos: governos Federal, Estadual, Judiciário e prefeituras”.

Para o superintendente de Desenvolvimento de Infraestrutura da Autoridade Portuária de Santos (APS), Luiz Felipe Tonelli Távora, conhecer a obra dinamarquesa foi essencial.

“A metodologia construtiva é muito semelhante à que será usada na nossa região. É uma obra muito organizada, com etapas consolidadas e módulos muito bem definidos. A obra ainda está na parte seca na Dinamarca e a parte mais desafiadora é a área molhada, porque tem a questão do transporte das peças, que são pesadas. Vamos ter que utilizar a mesma tecnologia em Santos”.

Missão técnica
A viagem à Europa foi organizada pelas frentes parlamentares da Ligação Seca Santos-Guarujá e de Portos e Aeroportos da Câmara dos Deputados, com apoio do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI).

A comitiva brasileira, com mais de 40 lideranças, também visitou a ponte-túnel de Øresund, que conecta a Dinamarca à Suécia com uma combinação de ponte estaiada, ilha artificial e túnel submerso.

Previsão é que trabalhos do Fehmarnbelt estejam concluídos em 2029 (Maurício Martins)

Previsão é que trabalhos do Fehmarnbelt estejam concluídos em 2029 (Maurício Martins)

Compromisso
A viagem também serviu para reforçar o compromisso político com o avanço da obra.“A gente começa a sonhar com as coisas acontecendo de fato”, disse o deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). “Temos que aprender com quem está na nossa frente. Nosso túnel será menor, mas é fundamental que a gente aprenda com os exemplos para evitar contratempos”.

Confiante após a visita, o prefeito Rogério Santos (Republicanos) acredita que o túnel é uma realidade. “É o primeiro túnel imerso do Brasil. Tinha que ser em Santos, que dá tantos exemplos. Não é fácil, mas é o maior investimento do PAC, vai gerar muito emprego e melhorar a vida das pessoas”.

O vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD), reiterou que o projeto está bem encaminhado: “A previsão é que o leilão ocorra em 1º de agosto, com assinatura dos contratos até o fim do ano. Em cinco anos, o túnel estará pronto”, disse. “O Estado está na direção certa escolhendo essa tecnologia de túnel”. Segundo ele, a obra pode envolver até 9 mil trabalhadores, com mão de obra especializada e geral. “São quase R$ 6 bilhões de investimentos. Já temos grupos interessados e, a partir de agosto, teremos o cronograma exato para transformar esse sonho em realidade.”

Lado alemão do túnel: comitiva viu desafios do serviço desenvolvido (Maurício Martins)

Lado alemão do túnel: comitiva viu desafios do serviço desenvolvido (Maurício Martins)

Estrutura pode impulsionar o desenvolvimento regional
Mais do que uma obra de engenharia, o futuro túnel Santos-Guarujá pode ajudar no desenvolvimento econômico, integração urbana e transformação regional. Essa é a percepção de especialistas e autoridades que participaram da missão técnica às obras do túnel Fehmarnbelt, entre Dinamarca e Alemanha, e à ponte-túnel Øresund, que liga a Dinamarca à Suécia.

O presidente do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI), Mário Povia, ressalta que o Brasil vai adotar a mesma metodologia do túnel europeu. “Aqui são 18 quilômetros, lá será em torno de um. Em termos de tecnologia, é fantástico o que vimos. O modelo de canteiro, a eficiência, tudo isso devemos aproveitar”.

Segundo ele, o principal desafio brasileiro será logístico. “A gente não pode parar o Porto. Trocar o pneu com o carro andando talvez seja a principal diferença em relação à Europa. Mas a visita permitiu que gestores das três esferas pudessem ver de perto como uma obra dessas é conduzida”.

Além do impacto direto na mobilidade, o túnel tem potencial para catalisar novas vocações econômicas. Pedro Henrique Jocondo Guerra, chefe de gabinete do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e presidente do Conselho Fiscal do BNDES, destaca que projetos como esse impulsionam o turismo, o comércio, a inovação e o empreendedorismo.

“Eles (na Europa) são referência na integração dos modais. Santos está sendo pioneira no Brasil com essa tecnologia da ligação seca. O túnel pode atrair empresas, movimentar estudantes, fomentar investimentos e gerar um ambiente mais dinâmico e conectado”, afirmou.

Alta tecnologia
Na avaliação de Marcelo Sammarco, vice-presidente do IBI, o impacto da obra vai além da mobilidade: “O túnel é um projeto de alta tecnologia que revolucionar a logística local (Alemanha-Dinamarca) e pode ser aproveitado no Brasil. E ponte entre Dinamarca e Suécia integra passageiros e cargas de forma eficiente. Essa experiência pode ser aproveitada em diversos projetos no Brasil”.

Para o empresário Sávio Leal, diretor da Terracom, a visita técnica serviu para entender a complexidade do empreendimento e os desafios da manutenção. “Não é só executar a obra, depois é preciso acompanhar. Foi uma oportunidade de ver como funciona na prática”.

O túnel terá 1,5 km de extensão, três faixas por sentido (uma adaptável ao VLT), ciclovia e passagem de pedestres. Com investimento previsto de R$ 6 bilhões, a concessão de 30 anos prevê a geração de 9 mil empregos e a substituição do atual sistema de balsas, responsável pelo deslocamento diário de mais de 35 mil pessoas entre Santos e Guarujá.

A ligação seca é aguardada há décadas e pode ser o ponto de partida para uma nova fase de crescimento sustentável e inteligente na Baixada Santista.

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