'Não voto' passa de um terço na Baixada Santista

Trata-se da soma de eleitores que faltaram e votaram nulo ou em branco no segundo turno das eleições presidenciais e a governador

Por: Gabriel Oliveira  -  30/10/18  -  11:36
  Foto: Divulgação

O número de pessoas que faltaram, votaram em branco ou anularam o voto no segundo turno das eleições cresceu exponencialmente na Baixada Santista em 16 anos. No domingo (28), o índice de não votos (abstenções, brancos e nulos) chegou a 35,09% do eleitorado da região, contra 20,85% em 2002, último ano em que tinha havido necessidade de uma segunda votação para governador antes da disputa de entre João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB).


Na corrida à Presidência da República, com Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), o percentual de pessoas que deixaram de escolher um candidato atingiu 33,22% neste ano. Em 2002, foram 21,75%, seguidos de queda para 20,01% em 2006. Depois, apenas altas: para 25,57% em 2010 e 27,3% em 2014.


Para o sociólogo e cientista político André Rocha Santos, o aumento do índice dos que não deram votos válidos para governador nos últimos 16 anos se deve ao desencanto com a política e à percepção de que, entre Doria e França, não haveria grandes diferenças de governo. “Parte se absteve de votar por achar que, independentemente de quem entrasse, não iria mudar muita coisa. Um é do PSDB e o outro é vice do ex-governador, do PSDB. No caso presidencial, o voto era um pouco mais importante, porque, dependendo de quem entrasse, mudaria muito”.


Como a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes terminou com 51,7% dos votos para Doria e 48,3% para França, aqueles que deixaram de escolher um dos dois poderiam ter sido decisivos. No segundo turno, nesse domingo, só o índice de votos nulos ficou em 10,52%, bem acima dos 2,59% de 2002. "Se a maioria desses votos não dados tivesse ido para o Márcio França, haveria outro resultado, mas não há como ter certeza de que seriam convertidos para o mesmo candidato. É evidente que 10% fazem diferença, mas para qual lado seriam? Nunca vamos saber", pondera a cientista política Clara Versiani.


Desconfiança


O sócio proprietário do Instituto Brasileiro de Estudos Sociais, Política e Estatística (Ibespe), Marcelo di Giuseppe, acredita que parte dos eleitores de candidatos derrotados no primeiro turno da eleição para presidente não se viu representada pelos concorrentes que prosseguiram na disputa. "Votar em branco ou nulo ou se abster é um posicionamento. O eleitor ficou com vergonha de votar no PT pelo histórico e no Bolsonaro pelo discurso radical", pondera.


O cientista político Philippe Scerb entende que o crescimento de não votos é resultado "da desconfiança do eleitor, do descrédito da classe política e do distanciamento da realidade dos políticos em relação ao eleitorado". O especialista classifica a redução da participação popular nas eleições como “muito grave para a democracia”.


Abstenções
O coordenador do Instituto de PesquisasA Tribuna (IPAT), Alcindo Gonçalves, destaca que, dentro da taxa de abstenção, há eleitores que mudam de cidade e os maiores de 70 anos, que não são obrigados a votar. “Com o recadastramento biométrico, o número de abstenções deve diminuir”, diz.


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