Integrante do PCC é condenado a 20 anos por matar e enterrar corpo de policial em Cubatão

Anderson Diogo Rodrigues, de 43 anos, foi sequestrado em 2016. Ele estava com a namorada e teve a condição de policial civil descoberta ao retirar a sua carteira do bolso em uma pizzaria

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  25/02/20  -  10:42

Acusado de assassinar um investigador e ocultar o cadáver, Marcos Matos Souza foi condenado a 20 anos de reclusão pelo Tribunal do Júri de Santos. O corpo do policial foi descoberto enterrado em um cemitério clandestino do Primeiro Comando da Capital (PCC) 32 dias após ele ter sido sequestrado em frente a uma pizzaria.


Sob a presidência do juiz Alexandre Betini, o julgamento popular de Marcos, de 37 anos, aconteceu no último dia 19. Embora o crime tenha ocorrido em Cubatão, por interesse de ordem pública houve o desaforamento (deslocamento da competência do júri para outra comarca) e a sessão ocorreu em Santos.


Os jurados acolheram a tese do Ministério Público (MP) e condenaram o réu por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Betini fixou para esses crimes, respectivamente, as penas de 19 anos e 1 ano de reclusão, totalizando 20 anos, em regime inicial fechado.


O magistrado negou a Marcos a possibilidade de recorrer em liberdade, “tendo em vista a gravidade dos delitos e a periculosidade do réu”. De acordo com Betini, a manutenção da prisão cautelar do acusado é necessária para “garantir a ordem pública e a conveniência da instrução criminal, assim como a aplicação da lei penal”.


Segundo o MP, o homicídio foi qualificado pela tortura, pelo emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima e pelo fato de o crime ter sido cometido em razão da condição de agente de segurança de Anderson. A pena de 19 anos aplicada ficou em um patamar intermediário entre a mínima (12) e a máxima (30) previstas.


Investigador Anderson Diogo foi sequestrado e assassinado em 2016
Investigador Anderson Diogo foi sequestrado e assassinado em 2016   Foto: Reprodução

Covardia e barbárie


O investigador Anderson Diogo Rodrigues, de 43 anos, foi sequestrado na madrugada de 25 de junho de 2016, na Ilha Caraguatá, em Cubatão. Ele estava com a namorada e teve a condição de policial civil descoberta ao retirar a sua carteira do bolso em uma pizzaria. Esse simples ato possibilitou que a sua funcional fosse mostrada de modo involuntário.


Pelo menos três homens, entre os quais Marcos, renderam o investigador e a namorada. O casal foi levado de carro à Vila dos Pescadores, comunidade carente formada em sua maioria por palafitas. Deste núcleo, apenas o policial foi conduzido de barco até uma ilha fluvial em uma área de mangue, próximo à Vila Esperança. A mulher foi liberada.


Corpo de Anderson foi enterrado em cemitério clandestino do PCC
Corpo de Anderson foi enterrado em cemitério clandestino do PCC   Foto: Irandy Ribas/AT

Lotado na Delegacia Seccional de Santos, Anderson estava afastado da função havia cerca de dez anos por motivo de saúde. O seu corpo foi encontrado por equipes da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Santos e da Delegacia de Cubatão no dia 27 de julho de 2016. A descoberta do cadáver foi possível com a prisão de Marcos, ocorrida na véspera.


Refugiado em uma casa no município de Praia Grande, onde policiais da DIG apreenderam drogas, munições, pistola e revólver, Marcos já havia sido reconhecido por meio de fotografia como um dos envolvidos no sequestro de Anderson. O réu indicou aos agentes o lugar de mata fechada onde o investigador foi enterrado.


Próximo à cova de Anderson, enterrado despido e com as mãos na nuca, em posição típica de execução sumária, mais quatro foram encontradas. Uma delas estava aberta e vazia, aguardando o sepultamento da próxima vítima. Nas demais havia outros três cadáveres de pessoas do sexo masculino.


A funcional do investigador, outros documentos e até o medicamento que ele tomava foram achados sobre o seu corpo. O RG do policial apresentava uma marca de disparo de arma de fogo, sinal da tortura psicológica que sofreu, além da física, nos momentos antecedentes ao seu assassinato.


Os indícios são de que o cemitério clandestino não se destinava apenas à ocultação dos cadáveres. Ele também servia como local para realizar sessões do tribunal do crime promovidas pelo PCC e, conforme a sentença, eliminar desafetos da facção criminosa ou integrantes que de algum modo desagradaram os comparsas.


Documentos pessoais do investigador foram encontrados junto do corpo
Documentos pessoais do investigador foram encontrados junto do corpo   Foto: Irandy Ribas/AT

Logo A Tribuna
Newsletter