
Estudante da Unifesp também foi um dos agredidos pela PM durante a votação ( Foto: Reprodução )
Um estudante de 22 anos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Santos, foi preso na última quarta-feira (6), enquanto participava da votação que tratava da privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Hendryll Luiz Rodrigues de Brito Silva estava acompanhado de membros de organizações sindicais que protestavam contra a privatização da empresa. Em vídeos publicados em redes sociais, os manifestantes aparecem sendo agredidos pela Polícia Militar (PM) durante a sessão.
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Outras três pessoas foram presas na ocasião. Vivian Mendes, presidente estadual da Unidade Popular em São Paulo, Ricardo Senese, metroviário e militante do Movimento Luta de Classes e Lucas Borges Carvente, professor da Unifesp. Vivian e Ricardo chegaram a ser soltos após audiência de custódia, mas Lucas e Hendryll ainda permanecem presos preventivamente no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos.
A namorada do estudante, Giovana Dias Bassalo, de 20 anos, relata que a maior parte da sessão foi pacífica, até o momento em que a PM chegou e 'tornou o clima truculento'. “Eles foram para cima dos nossos companheiros e o Hendryll era uma das pessoas que estavam na frente. Ele tentou defender as pessoas que estavam sendo agredidas, mas foi agredido também com cacetete e spray de pimenta. A polícia deixou mais de 30 pessoas feridas”, declara.
Ela conta que as pessoas teriam sido impedidas de registrar boletim de ocorrência e afirma que nenhuma delas portava objetos que pudessem gerar uma agressão ou tumulto na assembleia. “Pra além da dor que todo esse processo causou, eu sinto acima de tudo muita revolta porque é uma grande injustiça. O Hendryll é a pessoa mais sensível e humana que já conheci, que sempre esteve lutando por uma sociedade mais justa e melhores condições de vida pro nosso povo”, comenta.
Hendryll e Lucas ainda permanecem presos pelos crimes de resistência e desobediência e lesão corporal majorada. “Estou muito esperançosa e firme, pois estamos recebendo muitos apoios, nesse momento está acontecendo uma vigília constante na frente do CDP de Guarulhos até que o Hendryll e o Lucas saiam. Além disso ocorreram diversos atos em solidariedade a situação”, avalia Giovana.
Acusações
Vivian, que foi solta ainda na quinta-feira (7), relata que desde a última segunda-feira (4), os manifestantes estavam acompanhando a privatização da Sabesp, e tudo ocorreu de forma pacífica. Na quarta (6), ela conta que as pessoas foram impedidas de entrar com qualquer tipo de objeto, sequer uma garrafa de água. “Tinha muita gente lá, mas em nenhum momento a gente ofereceu qualquer risco. A polícia simplesmente quis nos calar e decidiram atacar o povo. A gente só estava com cartazes, nada mais que isso. Alesp é a casa do povo e nós devemos poder ter voz lá dentro e não, sermos agredidos”, comenta.
Ela conta que ainda segue no processo, pois está em liberdade provisória, mas quando foi presa, ficou 12 horas sem saber o motivo, em condições precárias e em um “lugar insalubre”. Vivian declara que para ser solta, ainda teve que pagar fiança no valor de um salário-mínimo.
A Tribuna teve acesso ao documento da decisão de audiência de custódia dos envolvidos. Nele, são citadas as declarações colhidas no dia do fato, que dizia que os manifestantes faziam “manifestação bastante ruidosa” e que em determinado momento, “desceram em direção ao vidro que separa o plenário”. O documento ainda cita que o reforço policial estava sendo feito por equipes do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) e da Alesp.
“Diante da possibilidade de derrubada do vidro, foi determinado reforço policial em frente ao vidro. Os policiais se postaram no local tentando evitar o avanço das pessoas, as quais estavam empurrando os policiais e, em alguns pontos, já haviam alcançado o vidro, sob o qual exerciam forte pressão. Em decorrência desta situação, o Presidente da Alesp determinou que a galeria fosse esvaziada. O procedimento para esvaziar o plenário foi iniciado, sendo que, a formação em linha ia subindo degrau por degrau, ocasião em a autuada Vivian foi surpreendida incitando os outros manifestantes a avançar em direção ao vidro e, ainda, forçava o vidro. Em determinado momento, ela teria tentado agredir o Tenente Helio com uma das mãos, sendo retirada do local”. Questionada, Vivian negou as acusações.
Posicionamento da Ouvidoria da Polícia Militar
Conforme nota, chegou ao conhecimento da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, os vídeos e declarações da votação na Alesp pela privatização da Sabesp, sobre o confronto entre manifestantes e os agentes de segurança. “Segundo os relatos os PMs chegaram a lançar gás de pimenta nas galerias e bater no público com cassetetes, com detenção de alguns destes manifestantes.”
A Ouvidoria ainda informou que, por verificarem que os policiais não estavam usando as câmeras operacionais portáteis (COPs), vão abrir um procedimento junto à Corregedoria da Polícia Militar. “Para melhor instruir o procedimento apuratório, sugerimos que busque as imagens do sistema de monitoramento interno da Casa de Leis e as imagens geradas pela Rede/TV Alesp, que podem apresentar elementos que nos elucidem se houve ou não excesso por parte das equipes da PM que atuaram na ocasião. Pois sabemos que é preciso preservar a ordem dos trabalhos da Assembleia, mas também garantir a livre manifestação do pensamento, ideias e atividades, como previsto no Artigo 5º de nossa Constituição Federal”, reiterou a nota.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) também foi procurada, e informou por meio de nota que três homens, de 36, 26 e 22 anos, e uma mulher, de 32, foram presos em flagrante, após uma confusão generalizada na Assembleia Legislativa, na noite da quarta-feira (06), por volta das 18h30. “Policiais militares atuaram na ocasião para conter um ato de depredação ao patrimônio durante a votação da proposta de desestatização da Sabesp, quando os quatro indiciados agrediram os policiais, além de danificar o mobiliário da Alesp”.
Na nota, a SSP declara que “todos foram detidos e conduzidos ao 27° DP (Campo Belo), onde foram autuados por lesão corporal, dano, associação criminosa, resistência e desobediência”. Por fim, a pasta afirma que a autoridade policial compareceu ao local e requisitou perícia para constatação dos danos.
A Alesp também foi procurada pela Reportagem, mas até o fechamento dessa matéria não retornou.