Os holofotes da mídia se acenderam na última quinta-feira (29) para a captura, em Santos, do dentista Flávio do Nascimento Graça, apontado como o 'serial killer da peruca'. Porém, mais 3.784 pessoas foram presas na região, pela Polícia Civil, de janeiro de 2017 até o novembro deste ano, apenas nas operações que a instituição realiza mensalmente nas 24 cidades da Baixada Santista, do Litoral Sul e do Vale do Ribeira.
Na hipótese de serem contabilizadas as prisões efetuadas pela Polícia Militar e pela própria Polícia Civil, fora das operações mensais, esse número é ainda maior e passa de 5 mil, conforme salienta e estima o delegado Manoel Gatto Neto, diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior-6 (Deinter-6).
Acusado de eliminar três irmãos ligados à Clínica Americana e tentar matar a tiros uma funcionária da rede de consultórios odontológicos, Flávio não era um anônimo perante os meios policiais e a sociedade. Ele integrava a relação dos “mais procurados” da Polícia Civil de São Paulo, tendo a sua fotografia e o seu nome estampados no site da instituição.
No entanto, o chefe da Polícia Civil na região observa que ela direciona o seu trabalho para capturar todos os procurados, indistintamente. “É o nosso dever localizar e prender todos os ‘flávios’. Um criminoso solto gera desassossego social. Por isso, retirar um procurado das ruas representa dar uma resposta aos delitos que ele praticou e, muitas vezes, impedir o cometimento de outros”.
No cenário estadual, o Deinter-6, que possui as delegacias seccionais de Santos, Itanhaém, Registro e Jacupiranga, tem posição de destaque nas operações mensais da Polícia Civil. Das 3.784 prisões efetuadas nos últimos 23 meses, 895 decorreram de flagrantes e 2.889 do cumprimento de mandados de prisão criminais.
Nesses números não estão incluídos os presos em decorrência de mandados de prisão civis (799), os adolescentes infratores apreendidos (879) e as detenções de autores de infrações de menor potencial ofensivo (5.776), liberados após a elaboração de termos circunstanciados (TCs).
“As operações são planejadas para os objetivos serem alcançados sem incidentes. Elas têm caráter repressivo, mas refletem na prevenção, reduzindo a incidência criminal. As maiores quedas são verificadas nos delitos contra o patrimônio, como furtos e roubos. Os resultados expressivos não decorrem apenas da quantidade de prisões, mas de apreensões de drogas e de armas de fogo (128 em 2017 e 79 neste ano, até novembro)”, explica Gatto.
Em relação aos entorpecentes retirados de circulação, o diretor do Deinter-6 não se limita aos números das operações. O delegado Gatto divulga dados do Centro Regional de Informática e Monitoração de Estatística Policial (Crimep), que engloba todas as drogas apreendidas por policiais civis na região, entre 2017 e setembro deste ano. Entre maconha, cocaína e crack, elas totalizam 32,9 toneladas.
Fatores
A redução dos principais indicadores de criminalidade desde 2014, na faixa compreendida entre os municípios de Bertioga e Barra do Turvo, na divisa com o Paraná, é creditada pelo diretor do Deinter-6 a três fatores principais: as operações mensais da Polícia Civil, as ações conjuntas da instituição com a Polícia Militar e o trabalho de prefeitos da região em prol da segurança pública.
“Quando uma cidade aumenta o efetivo, equipa e qualifica com treinamentos e cursos a sua guarda municipal, as polícias Civil e Militar têm o seu trabalho revestido de maior êxito. Na região, o principal exemplo vem de Praia Grande, que possui o maior e mais moderno sistema de monitoramento por câmeras. Além disso, a boa zeladoria da cidade favorece a redução dos índices de violência”, destaca Manoel Gatto.
Dados do Crimep mostram que a incidência dos homicídios, latrocínios e furtos em geral vem diminuindo anualmente, de 2014 até outubro deste ano (confira o quadro). Em relação aos assassinatos, o número desses delitos despencou de 209 para 127. Os roubos seguidos de morte e os furtos caíram, respectivamente, de 28 para 13 e de 31.194 para 21.849 no período. Também foi verificada a queda dos furtos de veículos e a dos roubos em geral e de veículos.
Sensação de insegurança
Apesar dos indicadores favoráveis do Crimep, Gatto reconhece que paira sobre a população uma sensação de insegurança, mas tem uma explicação para esse sentimento. “A tecnologia atual possibilita que a notícia de um crime seja disseminada simultaneamente à prática da ocorrência. Mas não se verifica, na maioria das vezes, a mesma velocidade quando um caso é esclarecido”.
O delegado também cita as notícias falsas para aumentar a sensação de insegurança da população. “Nas redes sociais proliferam as fake news. Por exemplo, houve o caso de um passageiro de ônibus atingido por uma flechada no Nordeste, mas a notícia circulou por aqui como se tivesse sido na Baixada Santista. O roubo de um carro na Linha Amarela, no Rio de Janeiro, também foi divulgado como se fosse na via de mesmo no nome que fica em São Vicente”.