Desenho, canivete e afogamento: Adolescente confessa assassinato de professor de kung fu em Peruíbe

Rapaz, de 17 anos, descreveu crime sem demonstrar arrependimento e revelou ajuda de soldado do Exército

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  19/03/20  -  12:41
Atualizado em 19/03/20 - 12:58
Hércules era conhecido na cidade por ser praticante de kung fu
Hércules era conhecido na cidade por ser praticante de kung fu   Foto: Arquivo pessoal

O assassinato a canivetadas do professor de kung fu Hércules Amoroso, de 31 anos, na orla da praia de Peruíbe, está esclarecido. Com frieza e requintes de detalhes, mas sem demonstrar arrependimento, um adolescente de 17 anos confessou na quarta-feira (18) ter desferido os golpes na vítima, que já foi o seu instrutor. Ele também indicou o outro envolvido no homicídio, confirmando suspeitas da Polícia Civil.


O outro participante de crime tem 19 anos e deve ter a prisão temporária decretada pela Justiça nesta quinta-feira (19) e ser ouvido por policiais da Delegacia de Peruíbe. O seu interrogatório só não ocorreu na quarta, porque ele é soldado do Exército e se encontra no quartel. Ciente da grave acusação que recai sobre o militar, o seu comando o mantém custodiado na unidade até ser expedida a sua ordem de captura.


Armas utilizadas no assassinato do professor de kung fu
Armas utilizadas no assassinato do professor de kung fu   Foto: Divulgação/Polícia Civil

Hércules foi morto na madrugada de 24 de fevereiro, sendo o corpo achado na faixa de areia. Conhecido na cidade, o professor de kung fu apresentava perfurações no pescoço, na cabeça e nos braços. Sob o comando do delegado Marcos Roberto da Silva e do chefe dos investigadores Adalberto Eduardo Ribeiro, os policiais Anderson Lomenzo, Adriana Lacerda e Vinicius Pane conseguiram reconstituir os últimos passos da vítima.


Imagens


A análise de câmeras de segurança da prefeitura possibilitou apurar que Hércules conversou com os dois acusados, momentos antes do crime, na Praça Melvin Jones. Conhecido por Ponto I, o lugar fica perto da orla e nele se reúnem jovens e adolescentes. Ainda conforme a filmagem, o menor que confessou ter desferido as canivetadas no professor de kung fu e o soldado do Exército saem do local juntos com a vítima.


Momentos depois, outra câmera mostra Hércules e os acusados na ciclovia da Avenida Governador Mário Covas Júnior, na orla. O trio caminha em direção ao Aquário Municipal e o equipamento de segurança registra 1h56. O trio não é mais visto a partir daí, mas o que aconteceu depois foi relatado pelo próprio adolescente, ao prestar depoimento na Delegacia de Peruíbe.


Simulação de luta


Localizado em sua casa, o adolescente logo admitiu ter assassinado Hércules. Ele atribuiu o crime a uma “ideia de matar” o professor de kung fu que teria surgido quando estava na praça com o amigo “Jão”, apelido do soldado do Exército. Porém, os investigadores acreditam que o menor de idade premeditou o homicídio, porque já trazia no bolso da bermuda o canivete utilizado para golpear a vítima.


Outro indício de premeditação é um desenho de Hércules apreendido na casa do adolescente. O jovem disse que o elaborou antes do crime, mas o complementou após o assassinato, inserindo nele as partes do corpo atingidas pelas canivetadas. Os investigadores também recolheram no imóvel dois canivetes, um punhal e uma réplica de revólver, além das roupas, tênis e boné que ele usava na ocasião do homicídio.


Desenho de professor de kung fu com as marcas das canivetadas
Desenho de professor de kung fu com as marcas das canivetadas   Foto: Arquivo pessoal

O canivete utilizado no crime não foi apreendido, porque o adolescente alegou tê-lo jogado no mar logo após matar a vítima. De acordo com o menor de idade, ainda na praça, ele fez o seguinte comentário com seu amigo Jão: “Vamos dar um fim no Hércules”. O militar, por sua vez, manifestou a sua concordância dizendo apenas “ah ta”, ainda conforme afirmou o autor confesso.


Hércules, Jão e o adolescente ingeriram bebidas alcoólicas no Ponto I. Sem desconfiar da intenção dos acusados, o professor de kung fu foi atraído por eles até a praia, onde o menor de idade o desafiou para um “duelo”. A vítima aceitou ser agarrada no pescoço para demonstrar como faria para se desvencilhar do golpe, conhecido como mata-leão. Porém, tudo não passou de uma cilada.


Com a vítima imobilizada, o adolescente retirou o canivete do bolso da bermuda e a golpeou inicialmente no pescoço. Depois, ela foi atingida na cabeça e nos braços. Segundo o menor de idade, o professor de kung fu ficou sem forças para reagir e começou a gritar por socorro. Por fim, Hércules foi arrastado até o mar e teve a cabeça afundada no mar algumas vezes pelo seu carrasco.


O adolescente cessou a violência apenas quando o professor de kung fu parou de se debater. Sobre a participação do amigo, o menor infrator disse que Jão o incentivou gritando “vai, vai”. Consumado o homicídio, a dupla retornou à praça, como se nada tivesse acontecido. A Vara da Infância e da Juventude determinou a internação provisória do autor dos golpes, que foi removido a uma unidade da Fundação Casa.


Embora nunca tenha sido examinado por psiquiatras ou psicólogos, segundo disse, o adolescente passou aos policiais a impressão de possuir algum tipo de perturbação mental. Justificou a morte de Hércules ao fato de a vítima ser “carente, que irritava os outros”. Também declarou que sente vontade de agredir as pessoas e agiu por compulsão no homicídio, não se arrependendo do crime, mas de deixar rastros e ser descoberto.


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