O assassinato a canivetadas do professor de kung fu Hércules Amoroso, de 31 anos, na orla da praia de Peruíbe, está esclarecido. Com frieza e requintes de detalhes, mas sem demonstrar arrependimento, um adolescente de 17 anos confessou na quarta-feira (18) ter desferido os golpes na vítima, que já foi o seu instrutor. Ele também indicou o outro envolvido no homicídio, confirmando suspeitas da Polícia Civil.
O outro participante de crime tem 19 anos e deve ter a prisão temporária decretada pela Justiça nesta quinta-feira (19) e ser ouvido por policiais da Delegacia de Peruíbe. O seu interrogatório só não ocorreu na quarta, porque ele é soldado do Exército e se encontra no quartel. Ciente da grave acusação que recai sobre o militar, o seu comando o mantém custodiado na unidade até ser expedida a sua ordem de captura.
Hércules foi morto na madrugada de 24 de fevereiro, sendo o corpo achado na faixa de areia. Conhecido na cidade, o professor de kung fu apresentava perfurações no pescoço, na cabeça e nos braços. Sob o comando do delegado Marcos Roberto da Silva e do chefe dos investigadores Adalberto Eduardo Ribeiro, os policiais Anderson Lomenzo, Adriana Lacerda e Vinicius Pane conseguiram reconstituir os últimos passos da vítima.
Imagens
A análise de câmeras de segurança da prefeitura possibilitou apurar que Hércules conversou com os dois acusados, momentos antes do crime, na Praça Melvin Jones. Conhecido por Ponto I, o lugar fica perto da orla e nele se reúnem jovens e adolescentes. Ainda conforme a filmagem, o menor que confessou ter desferido as canivetadas no professor de kung fu e o soldado do Exército saem do local juntos com a vítima.
Momentos depois, outra câmera mostra Hércules e os acusados na ciclovia da Avenida Governador Mário Covas Júnior, na orla. O trio caminha em direção ao Aquário Municipal e o equipamento de segurança registra 1h56. O trio não é mais visto a partir daí, mas o que aconteceu depois foi relatado pelo próprio adolescente, ao prestar depoimento na Delegacia de Peruíbe.
Simulação de luta
Localizado em sua casa, o adolescente logo admitiu ter assassinado Hércules. Ele atribuiu o crime a uma “ideia de matar” o professor de kung fu que teria surgido quando estava na praça com o amigo “Jão”, apelido do soldado do Exército. Porém, os investigadores acreditam que o menor de idade premeditou o homicídio, porque já trazia no bolso da bermuda o canivete utilizado para golpear a vítima.
Outro indício de premeditação é um desenho de Hércules apreendido na casa do adolescente. O jovem disse que o elaborou antes do crime, mas o complementou após o assassinato, inserindo nele as partes do corpo atingidas pelas canivetadas. Os investigadores também recolheram no imóvel dois canivetes, um punhal e uma réplica de revólver, além das roupas, tênis e boné que ele usava na ocasião do homicídio.
O canivete utilizado no crime não foi apreendido, porque o adolescente alegou tê-lo jogado no mar logo após matar a vítima. De acordo com o menor de idade, ainda na praça, ele fez o seguinte comentário com seu amigo Jão: “Vamos dar um fim no Hércules”. O militar, por sua vez, manifestou a sua concordância dizendo apenas “ah ta”, ainda conforme afirmou o autor confesso.
Hércules, Jão e o adolescente ingeriram bebidas alcoólicas no Ponto I. Sem desconfiar da intenção dos acusados, o professor de kung fu foi atraído por eles até a praia, onde o menor de idade o desafiou para um “duelo”. A vítima aceitou ser agarrada no pescoço para demonstrar como faria para se desvencilhar do golpe, conhecido como mata-leão. Porém, tudo não passou de uma cilada.
Com a vítima imobilizada, o adolescente retirou o canivete do bolso da bermuda e a golpeou inicialmente no pescoço. Depois, ela foi atingida na cabeça e nos braços. Segundo o menor de idade, o professor de kung fu ficou sem forças para reagir e começou a gritar por socorro. Por fim, Hércules foi arrastado até o mar e teve a cabeça afundada no mar algumas vezes pelo seu carrasco.
O adolescente cessou a violência apenas quando o professor de kung fu parou de se debater. Sobre a participação do amigo, o menor infrator disse que Jão o incentivou gritando “vai, vai”. Consumado o homicídio, a dupla retornou à praça, como se nada tivesse acontecido. A Vara da Infância e da Juventude determinou a internação provisória do autor dos golpes, que foi removido a uma unidade da Fundação Casa.
Embora nunca tenha sido examinado por psiquiatras ou psicólogos, segundo disse, o adolescente passou aos policiais a impressão de possuir algum tipo de perturbação mental. Justificou a morte de Hércules ao fato de a vítima ser “carente, que irritava os outros”. Também declarou que sente vontade de agredir as pessoas e agiu por compulsão no homicídio, não se arrependendo do crime, mas de deixar rastros e ser descoberto.