Um casal homoafetivo, de 23 e 29 anos, foi vítima de agressões na noite da última terça-feira (14) dentro de uma unidade da Rede Cuca, na Avenida Doutor Vicente de Carvalho, na Ocian, em Praia Grande. As vítimas estavam na Cidade à turismo e relataram que foram agredidos e xingados com ofensas de cunho homofóbico.
A Tribuna conversou com as vítimas, um publicitário, de 23 anos, e um psicólogo, de 29, que narraram que estavam no mercado para fazer compras e viram dois homens com latas de cerveja na mão. Eles pareciam estar um pouco bêbados. Quando o casal passou pelos rapazes, descrevem ter escutado insultos vindo deles, dizendo que “não gostavam de ‘viadinhos’”.
“Nesse momento eu peguei e perguntei o que eles tinham dito. Eles vieram para perto, insultando a gente e falando que iam ‘quebrar nossa cara’. Um deles chegou a levantar a mão, falei que ninguém ia bater em ninguém, mas eles começaram a esmurrar a gente”, comentou o publicitário.
“Eles deixaram claro o tempo todo que não gostavam de ‘viadinho’ e que a gente merecia apanhar”, relembrou o psicólogo sobre as agressões. Ele ressaltou que deixaram evidente que se tratava de um ataque homóbico e que em momento algum tiveram assistência da equipe do mercado.
Foram socos e chutes que deixaram hematomas no psicólogo, que foi a maior vítima das agressões por não conseguir se defender devido a um deslocamento no ombro. Já o publicitário disse que conseguiu revidar os ataques em alguns momentos, porém no início ficou paralisado diante da situação.
“Ninguém ajudou, ninguém fez nada. Essa foi uma das minhas maiores revoltas. Virou um tumulto. Quando viram que eles não paravam de bater, conseguimos tirar eles de cima do meu namorado. Eles estavam tomados de ódio e raiva. Depois que a briga acabou, separaram a gente e ele continuava naquela. Quando fui para a parte de trás do mercado, me falaram que eles estavam arrumando confusão na porta chamando uma menina de ‘sapatão’”, desabafou o publicitário.
A agressão aconteceu próximo ao açougue do mercado e, segundo o casal, funcionários estavam presentes. Uma idosa que presenciou a cena foi a única a se manifestar contra as agressões. Após a saída dos rapazes, eles afirmaram que a equipe da Rede Cuca se mobilizou para dar água e prestar auxílio, mas que ninguém sequer chamou a Polícia Militar (PM).
“Estou inseguro de voltar lá. Ninguém (do mercado) mandou uma mensagem para a gente, a gente está indo atrás, tentando ligar e ninguém atende. Eles estão bloqueando comentários, então é isso. A gente não teve realmente nenhum suporte assim. A única coisa que aconteceu foi que alguns funcionários por conta própria vieram falar com a gente”, ressaltou.
Na sequência, o casal procurou a Polícia Civil e registrou um boletim de ocorrência sobre o caso, como lesão corporal e injúria. A carteira de um dos agressores, de 22 anos, caiu e foi encontrada, o que possibilitou que o registro lhe identificasse. O outro envolvido ainda não foi identificado.
Eles passaram por exames periciais de corpo de delito e agora comentaram que buscam por maneiras de superar o trauma. “Depois a gente foi no mercado comprar as coisas e tive uma crise de choro, porque eu estava com muito medo. Fico muito assustado e mal. Então, fisicamente estou conseguindo me recuperar, mas não sei descrever o que eu estou sentindo, o tamanho da humilhação”.
A Reportagem tentou contato com a Rede Cuca para um posicionamento sobre o caso, porém não obteve um retorno até a publicação desta matéria. Nas redes sociais, foi divulgada uma nota de repúdio contra o ato de violência motivado por homofobia.
“O ato criminoso de violência contra este casal revela a emergência da intolerância e do conservadorismo, observado não apenas em crimes como este, mas também em discurso e práticas preconceituosas, presentes em diversas instâncias do cotidiano brasileiro atual”, relatou em nota.
A Rede manifestou nas redes sociais o total apoio e solidariedade aos clientes agredidos. Também disse que desejam que, por meio de suas práticas, consigam contribuir para construção de uma sociedade “menos violenta e mais humanizada”.