Preço da carne bovina dispara na Baixada Santista com coxão mole a 'custo' de filé mignon

Aumento de quase 50% nos últimos 12 meses faz consumidor optar por frango, carne suína e ovos

Por: Rosana Rife  -  19/06/21  -  09:38
  Com os preços elevados, açougues sofrem para conciliar margem de lucro e poder de compra de clientes
Com os preços elevados, açougues sofrem para conciliar margem de lucro e poder de compra de clientes   Foto: Alex Ferraz/AT

Um aumento de 44,89% nos últimos 12 meses fez a carne bovina se tornar cada vez mais rara na mesa do brasileiro. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP. O aumento das exportações, a valorização do dólar e o custo para engordar o boi estão entre os motivos que puxaram os preços para cima. Frango, carne suína e ovos seguem como alternativas no cardápio.


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Dona de um açougue no Macuco, em Santos, Maria Cristina Piedade, de 63 anos, diz que o movimento caiu quase pela metade. Já os clientes que se mantiveram fiéis reduziram a quantidade do produto para fazer o dinheiro render. No caderno, ela tem anotado a evolução dos preços, que sobem desde novembro de 2019 sem trégua.


“Nessa época ocorreu um pico e em novembro do ano passado houve uma outra disparada. Depois, vieram pequenos aumentos, quase que semanais. Hoje, pago R$ 40,00 na caixa do coxão mole. Há pouco mais de um ano, esse era o preço da caixa do filé mignon”.


Há duas décadas e meia na área, o açougueiro Souzivaldo Faustino de Andrade, de 45 anos, confirma o cenário. Ele conta que a carne de segunda subiu tanto que agora está praticamente com o mesmo preço do produto considerado de primeira linha.


“A carne de segunda quase dobrou de preço. Nunca vi isso em todo tempo que trabalho com esse tipo de produto. E o que acontece é que quem levava dois ou três quilos, agora, só compra um quilo. É triste ver isso. O cliente não está conseguindo acompanhar esse ritmo”.


A doméstica Vera Lúcia Almeida dos Santos, 63 anos, sente na sacola o reflexo da alta dos preços. Ela diz que costumava sair do açougue com até quatro quilos de carne. “Hoje em dia, é só um pacotinho com um quilo e meio, no máximo. Em casa, preparo frango quase todo dia. Vamos criar asas”, brinca.


Raridade


Na casa da administradora Camila Queiroz, 39 anos, carne era o prato principal pelo menos três vezes por semana. De uns tempos para cá, só uma vez. E ela arranjou soluções para fazer a receita render. “Acrescento ervilha, cenoura e abobrinha para fazer um fricassê. Assim, um quilo de carne vira um quilo e meio de comida. Também tenho comprado mais frango. A gente faz substituições e usa a criatividade”.


  Cenário atual da pecuária afetou valores
Cenário atual da pecuária afetou valores   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Para entender os motivos do preço da carne bovina chegar aos patamares atuais, é necessário analisar o cenário da pecuária brasileira. Nos últimos dois anos, para reduzir os custos de engorda do boi e a produção, os produtores decidiram abater as fêmeas. Com menos reprodutoras, a reposição de bezerro se tornou mais lenta e, devido à menor oferta, os preços subiram.


“No final de 2019, o preço da reposição começa a subir e a China aumenta o volume de compras, porque enfrenta um problema sanitário no país”, explica o pesquisador da área de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, Thiago Bernardino de Carvalho.


Em 2020, estimulando as exportações, o dólar atinge a marca de R$ 5,80, a China continua demandando produto nacional, surge a pandemia e o número de animais abatidos foi o menor desde 2012. “Houve uma conjunção de fatores que colocaram, podemos dizer, lenha na fogueira. Além do aumento da demanda, não havia animais suficientes prontos para o abate”, acrescenta Carvalho.


Insumos


Os preços, no curto prazo, devem seguir em alta por conta do custo de engorda dos animais, uma vez que se entra na entressafra. Nessa fase, o pasto fica mais escasso e o produtor precisa entrar com suplementação alimentar à base de milho, explica Marcelo Cury Sahão, presidente do Sindicato Rural de Borborema, no Interior Paulista. “Oitenta por cento da ração é composta por milho. Em praticamente um ano, a saca passou de R$ 55,00 para R$ 95,00”.


Só para se ter uma ideia, 40% do preço do milho é dolarizado. Sem contar que muitos pecuaristas, principalmente no Estado de São Paulo, têm preferido arrendar áreas de pasto para o cultivo do cereal, acrescenta Sahão.


Troca de itens é opção, com o alto preço da carne vermelha


A doutora em Ciências da Saúde e professora do curso de Nutrição da Unimes, Ana Laura Benevenuto de Amorim, explica que a troca de produtos é a saída para manter bolso e alimentação saudáveis. Segundo ela, é possível substituir a carne bovina pela suína, pescados e aves sem perder o valor nutricional.


“É possível substituir a carne bovina pela suína, pescados e aves sem perder o valor nutricional”


Outras opções ficam por conta das leguminosas, como feijões, ervilha, lentilha e grão de bico. “São fontes proteicas também e podem ser parte da nossa refeição, seja acompanhando o arroz, na forma de salada, bolinhos e até mesmo sopas e caldos”, resume Ana Laura.


O ovo também surge como ingrediente versátil. “Ele pode ser consumido de diferentes formas: cozido, estalado, mexido ou omelete (com legumes)”.


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