Imóvel é saída para a tensão na bolsa

Parte dos investidores teme volatilidade das ações

Por: Marcelo Santos  -  10/05/20  -  22:11
Setor imobiliário está mais estável
Setor imobiliário está mais estável   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Economistas especializados no segmento de ações acreditam que a bolsa ainda está sujeita à volatilidade (variações acentuadas, principalmente nas quedas). Por isso, analistas acreditam que investidores assustados com essas fortes emoções tendem a migrar em parte para o setor imobiliário, mais estável. 


No ano passado, o Ibovespa, índice com 73 ações da B3 (antiga Bovespa), subiu 30% e o Ifix, que reúne 108 fundos imobiliários também na B3, valorizou 35%. Analistas previam que a bolsa avançaria por volta de 20% agora em 2020. 


Para o mercado imobiliário, a previsão para 2020 era bem mais modesta, com valorização entre 5% e 8%, segundo o diretor regional do Secovi (sindicato das empresas de compra e venda de imóveis), Carlos Meschini. 


Com o impacto do coronavírus, as previsões para o mercado físico se tornaram uma incógnita. No caso da renda variável (ações) também. Da quarta-feira de cinzas, em 26 de fevereiro, quando as bolsas começaram a ruir, até 31 de março, o Ibovespa acumulou queda de 29% e o Ifix, de 17%. Agora, 72 dias depois, o Ibovespa soma recuo de 24% e o Ifix, de 13%. 


“O setor imobiliário é tradicionalmente muito procurado nos momentos de incerteza e alta volatilidade como estamos vivendo”, diz o CEO da Glebba, fintech (startup financeira) de intermediação de investimentos imobiliários, Francisco Perez. 


“Acredito que, no momento em que baixar a poeira, o setor voltará com força como opção de investimentos em ativos reais, numa lógica de proteção ao patrimônio”, completa. 


“Um imóvel bem localizado, em uma região desejada, tem mais liquidez, é mais linear e causa menos sofrimento”, diz o CEO e fundador da Apto, portal de imóveis novos ou em construção, Alex Frachetta. 


CRISe e fundos


De acordo com Perez, quando a bolsa subia, houve uma fuga de investidores de imóveis para ativos financeiros imobiliários.


Entre esses ativos estavam fundos imobiliários (FIs) e certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), com tendência de volatilidade muito próxima à da bolsa. 


“Acredito que, após esse período, esses investidores voltarão a alocar recursos diretamente nos empreendimentos, revertendo o quadro que tínhamos como tendência”, diz Perez. 


Ele afirma que no caso dos compradores de imóveis para moradia (uso próprio), a procura no pós-coronavírus deve arrefecer um pouco no início por insegurança de renda e emprego, melhorando depois.
“Possuir um ativo real como imóvel passará a ter um peso maior na decisão das pessoas, sejam elas investidores ou moradores”, afirma o CEO da Glebba.


Excesso de oferta


De acordo com Meschini, o mercado paulistano físico estava mais aquecido que o da Baixada, ainda com excesso de oferta. Porém, tudo indicava que uma melhora estava em curso. “Janeiro foi bem e em fevereiro também. Março ia pelo mesmo caminho, mas aí veio o coronavírus”, lamenta o diretor do Secovi.


Meios digitais estimulam corretores


O isolamento social inviabiliza uma etapa importante do mercado físico, que é a visita ao imóvel para bater o martelo. Porém, os meios digitais ajudam a divulgar oportunidades de negócios. 


O CEO da Apto, Alex Frachetta, vê possibilidade de fechar negócios mesmo on-line. A locação de imóveis de temporada já dispensava visita prévia mesmo antes da internet. Agora, quem busca alugar por períodos curtos pode tomar decisão observando uma demonstração via câmera do WhatsApp. 


De acordo com ele, mesmo em um momento difícil como o atual, isso não significa que não haja potenciais clientes no mercado. Ele conta que as consultas à Apto, shopping virtual de imóveis novos, nos dias quando já se sabia que haveria isolamento na Capital, a procura cresceu 11% sobre a semana imediatamente anterior. “Nos últimos seis meses, foi nosso terceiro maior pico.”


Segundo o diretor regional do Secovi, Carlos Meschini, em tempos difíceis os imóveis mais procurados são os compactos, entre 35 e 40 metros quadrados, inclusive studios, bem localizados. São unidades de melhor liquidez – por serem baratas e caberem no bolso, têm negociação rápida.


Logo A Tribuna
Newsletter