Pandemia traz à tona depressão e ansiedade

Pesquisa indica cenário complicado no Brasil

Por: Júnior Batista  -  21/02/21  -  21:03
Em solo brasileiro, o levantamento foi conduzido pela USP em parceria com a Unifesp da Baixada
Em solo brasileiro, o levantamento foi conduzido pela USP em parceria com a Unifesp da Baixada   Foto: Matheus Tagé

Uma pesquisa liderada pela Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, e que envolve 11 países, entre eles o Brasil, apontou que foi em solo brasileiro que houve mais casos de depressão e ansiedade por conta da pandemia do novo coronavírus. No País, o levantamento foi conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - Baixada Santista.


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O levantamento completo ainda será publicado, mas os resultados iniciais já mostram os efeitos do isolamento social para a saúde mental. Ao todo, 13 mil pessoas de 11 países participaram da pesquisa ao longo do ano passado. Entre elas, 68,2% são mulheres e 51,7% têm idade entre 18 e 34 anos. No Brasil, a maioria dos participantes é do Estado de São Paulo: 1.500.


A pesquisa apontou que o Brasil tem mais casos de ansiedade (63% dos ouvidos) e depressão (59%). Em segundo lugar está a Irlanda, com 61% das pessoas com ansiedade e 57% com depressão. Logo depois, vêm os Estados Unidos, com 60% e 55%, respectivamente.


>> 10 coisas que podemos fazer para lidar melhor com a ansiedade


De acordo com o professor titular de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), Ricardo Ricci Uvinha, que participa da pesquisa, as atividades de lazer estão ligadas aos brasileiros. Como elas foram afetadas durante a pandemia, isso explica os resultados. “O isolamento mudou abruptamente a rotina de todos. Tanto a saúde física quanto mental foram muito afetadas, já que as atividades de lazer refletem diretamente nesse sentido”.


O professor reforça que a ansiedade e a depressão foram percebidas tanto em países que conseguiram lidar bem com a pandemia quanto nos que tiveram dificuldade para conter danos. No entanto, em locais com menos respostas ao combate da disseminação do vírus, como no Brasil, houve índices maiores das duas doenças.


Coronafobia


Uvinha explica que foi criado um termo, chamado coronafobia, que significa medo da doença associado à ansiedade por não saber o que vai acontecer dali para frente. Nesse sentido, o Brasil foi uma das nações que mais sofreu, pois as orientações das autoridades foram difusas, muitas vezes confundindo as pessoas.


Ele explica que esta é uma situação difícil ao brasileiro, conhecido por ser feliz e hospitaleiro, além de estar acostumado a atividades fora de casa, como shows, bares e baladas.


O psicólogo Bruno Farias vai além e afirma que a cultura faz do brasileiro um povo reativo, levando as coisas para o lado pessoal. Com isso, em vez de tentar resolver as situações de conflito, pelo contrário, ele prefere atacar as outras pessoas envolvidas na questão. “É como se estivéssemos sendo atacados e isso aumenta a ansiedade”.


Cuidar da mente é o caminho para solução do problema


A psicoterapia é uma chave para buscar entender a reação combativa tão comum aos brasileiros, segundo Bruno Farias. Infelizmente, segundo ele, tenta-se de tudo no dia a dia, menos o tratamento da saúde mental. “O brasileiro vai atrás de religião, aventuras, viagens... Tudo antes de tentar a psicoterapia”.


A coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Santa Cecília, Gisela Monteiro, afirma que as causas dos transtornos mentais são resultado de uma combinação de hereditariedade, características pessoais, familiares, sociais e culturais.


Em relação à pesquisa da USP, ela acredita que os resultados podem estar relacionados às condições de isolamento aliadas ao medo de adoecer, das incertezas do futuro e as questões financeiras. “Devem ter agravado quadros de sofrimento psíquico anteriores. Além disso, houve impossibilidade do acesso às atividades esportivas, culturais e de lazer, que são importantíssimas para saúde mental”.


Para Gisela, chama atenção o fato de que as mulheres foram as mais afetadas. “Como tradicionalmente são elas que cuidam da organização da vida doméstica e das relações familiares, ficaram ainda mais sobrecarregadas, preocupadas consigo e com cada membro da família”.


Caminhos


Para solucionar o problema, um dos caminhos apontados por Farias é a psicoterapia. Já Gisela vê a rota de saída de forma um pouco mais complexa. “Temos que pensar nos diversos fatores implicados e nas possíveis saídas para cada um deles. No âmbito pessoal, recorrer a ajuda de amigos e parentes para questões mais simples. E aos profissionais de saúde para as mais graves”.


Ela conclui afirmando que a situação política também acaba afetando as pessoas. “Não é possível estar bem nas condições que vivemos no Brasil. A cada dia o Ministério da Saúde anuncia um planejamento diferente para a vacinação. Quando estaremos vacinados? Quando poderemos ter aula presencial, viajar ou trabalhar junto com outras pessoas? Esta incerteza produz tensão e preocupação”.


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