Biomédica conta como lida com o diabetes há 10 anos

Cindy Loren Bittencourt descobriu doença aos 15 anos e precisou passar por processo de aceitação

Por: Bruno Gutierrez  -  14/11/18  -  21:45
As irmãs July e Cindy: as duas descobriam que eram portadoras de diabetes tipo I
As irmãs July e Cindy: as duas descobriam que eram portadoras de diabetes tipo I   Foto: Arquivo pessoal

O Dia Mundial do Diabetes é celebrado nesta quarta-feira (14). A data marca a campanha global em torno da conscientização da doença. De acordo com a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde, entre 2006 e 2016, o número de brasileiros com diabetes aumentou 61,8%. Isso significa que a doença passou a atingir 8,9% da população. Entre as mulheres, o índice é maior, de 9,9%, contra 7,8% entre os homens.


A biomédica Cindy Loren Bittencourt, de 25 anos, é uma das mulheres presentes nesta estatística. Ela é portadora do diabetes tipo I. Segundo o Ministério da Saúde, a causa desse tipoainda é desconhecida. Sabe-se que, via de regra, é uma doença crônica hereditária, que concentra entre 5% e 10% do total de diabéticos no Brasil.


No entanto, para contar a história de Cindy, é necessário falarmos antes da irmã mais nova dela, July Nicoli Bitencourt Statonato. Foi ela quem apresentou o primeiro quadro da doença na família, aos 9 anos de idade. A biomédica conta que July começou a apresentar alguns sintomas como a perda rápida de peso e as idas constantes ao banheiro. Um amigo do pai, que era portador do diabetes, o aconselhou a comprar um aparelho para fazer o teste de glicemia.


"Quando fomos na farmácia para comprar o aparelho, minha irmã quis fazer o teste. Ela era criança, curiosa, e quando fez o teste o nível de glicemia deu 500 e pouco. Meu pai pensou que estava errado o teste e pediu para refazer, mas deu o mesmo valor. O farmacêutico chamou meu pai e falou para ele correr para o hospital", contou Cindy.


Ao chegar ao hospital, July passou por consulta com umendocrinologista pediátrico que estava de plantão, que passou todas as orientações para ela e a família. O diabetes mudou a rotina da família, que passou a adotar uma alimentação mais saudável para auxiliar July. Segundo Cindy, a irmã lidou bem com a doença e sempre seguia à risca todo o tratamento.


A descoberta do diabetes


A doença se manifestou em Cindy seis anos depois da irmã. Porém, ela, acostumada a dar todo apoio a July, reagiu de forma diferente. "Meu mundo caiu. Quando senti na pele que estava tendo os problemas de diabete tipo I, eu não aceitei. Foi o contrário da minha irmã. Eu, tendo contato com ela, deveria ser mais fácil aceitar", comentou a biomédica.


Cindy decidiu não se adequar ao tratamento. Por medo de agulha, não tomava as injeções de insulina, além de não se alimentar corretamente. A doença se agravou e o início da mudança só veio após ela ser internada em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).


"Quando eu apresentei todas as complicações foi quando meus pais perceberam que eu não estava aceitando. Até então, eles pensavam que estavam. Quando fiquei internada é que caiu a ficha. Eles fizeram uma reunião comigo, médico, psicólogo, minha irmã. Conversaram muito sério e eu comecei a tentar a me aceitar", relatou Cindy.


Mesmo assim esse processo durou em torno de quatro anos. Ela tinha vergonha de fazer o teste de glicemia ou aplicar a injeção de insulina em público. Não queria que as pessoas perguntassem sobre porque não gostava de falar sobre a doença. O comportamento passou a mudar, primeiro, com as redes sociais e, depois, com a faculdade.


"Vi que muitas pessoas postavam as coisas. E mostravam a rotina de uma maneira divertida, com os amigos. Pensei: 'por que não posso ser assim?' Comecei a seguir, a entender melhor. Também fui fazer biomedicina, estudei melhor a minha doença.E comecei a ter prazer em explicar o que eu tenho. Foi esse processo de aceitação que eu passei", explicou a biomédica.


Hoje, Cindy já lida com o diabetes de forma natural e explica sobre a doença
Hoje, Cindy já lida com o diabetes de forma natural e explica sobre a doença   Foto: Arquivo pessoal

Rotina atual


Para manter a glicemia sob controle, Cindy tem a receita: exercícios e uma alimentação balanceada. "É muito importante. Está na moda essa onda de ser fitness, magrinha. Eu não sou, não sou viciada em exercício físico. Mas, por exemplo, eu casei em abril, minha vida mudou completamente e eu tive que parar com o exercício por causa da falta de tempo. A quantidade de insulina que eu tenho que tomar dobrou. O exercício fisico impacta muito na glicemia. Uma rotina de exercício físico e uma alimentação balanceada é o suficiente", disse a biomédica.


Ela também aconselhou que é preciso ficar atento aos sintomas. "É muito fácil de reconhecer. Muita sede, o tempo todo, demasiadamente. Urinar frequentemente. Beber e já ir para o banheiro. Emagrecimento muito rápido, boca seca. Em alguns casos a pessoa tem ânsia, dores de cabeça, vômitos. Mas o principal é sede, urinar muito e emagrecimento", relatou.


Superação e conselho


Cindy contou que, no início, não queria que os amigos soubessem. Ela preferia evitar situações em que as pessoas colocassem restrições na sua forma de viver. "Machuca as pessoas falaremque eu não posso algo porque sou diabética. E o proibido é mais gostoso. Quando alguém fala que você não pode, você pensa 'eu posso'. Não queria que ninguém soubesse para falar 'tadinha, não pode'. Eu posso sim. Se eu fizer uma dieta, um exercício para a glicose 'passar', eu posso. Comer uma torta, um pedaço de bolo, eu posso. Não posso comer um bolo inteiro (risos)", brincou.


A biomédica comentou sobre o preconceito que ainda existe em relação o diabetes e que, às vezes, a negatividade em torno da doença vem de outras pessoas, e não de quem porta a doença. "No começo, eu chorava muito. As pessoas perguntavam se eu tava com diabetes e falavam 'coitada, tão nova'. Eu me sentia uma velha, que estava morrendo. É muito complicado", disse.


Por fim, Cindy deixou uma mensagem para quem convive com o diabetes, mas ainda não sabe lidar com a doença. "O que menos dói em nós são as furadas do dia a dia. O que mais dói é o preconceito que sofremos. Temos que lutar, fazer com que torne o mais natural possível, o mais leve. Se cuidar faz parte, pode ser a doença mais tranquila ou a mais grave do mundo, temos que lutar", finalizou.


July descobriu que era portadora de diabetes tipo I aos 9 anos de idade
July descobriu que era portadora de diabetes tipo I aos 9 anos de idade   Foto: Arquivo pessoal

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