Especialistas falam sobre como lidar com o luto

Após a morte de um ente querido, começa o aprendizado que é conviver com a ausência; ajuda profissional pode ser necessária

Por: Eduardo Brandão  -  02/11/18  -  12:41
  Foto: Vanessa Rodrigues/AT

O último adeus a alguém próximo é como uma ferida aberta, sangrando, que dói de maneira quase insuportável. Lidar com a morte e superar a dor do luto requer tempo, afirmam religiosos e especialistas. Sentimentos que se tornam mais latentes hoje, Dia de Finados, quando familiares a amigos concentram suas orações naqueles que já se foram.


A ausência repentina de uma pessoa querida nunca é de fácil compreensão. Para o psicanalista clínico e psicoterapeuta Reynaldo Corralles Filho, a recuperação é um processo longo e doloroso, mas que precisa ser encarado para dar novo significado à vida.


“A morte é a única certeza da humanidade e lidar com ela provoca em cada um de nós uma dor e sofrimento intenso e gera um sentimento de revolta, além de trazer um vazio interno profundo. É imperativo que possamos aprender a conviver com a ausência e a saudade”, sustenta.


O especialista diz ser importante passar por todas as fases do luto – como a dor, tristeza, aceitação e nova rotina – para poder encarar os sentimentos que fazem parte desse processo. “Resistir e pular etapas pode fazer com que o sofrimento seja prolongado e gerar inúmeros traumas emocionais. É importante vivenciar o luto, nos entregarmos à dor, chorar, colocando toda a nossa tristeza para fora”.


Corralles Filho avalia ser comum sentir-se desamparado, porém, diz que amigos e familiares devem oferecer apoio. “A negação é uma defesa psíquica que faz com que o indivíduo tente encontrar jeito de não entrar em contato com a realidade, seja da morte de um ente querido ou da perda de algo importante”.


A psicóloga Isadora de Souza Bezerra pondera que ficar confuso, triste e abatido a partir de uma perda é uma reação esperada. “Cada pessoa reage a perda de uma maneira diferente, da mesma forma que cada indivíduo tem o seu modo de manifestar ou não sofrimento”.


A psicóloga explica que o luto desencadeia situação de crise interna, pois gera mudanças definitivas na rotina e na identidade do indivíduo. Por isso, ela afirma ser comum que, ao passar por essa situação, o indivíduo enfrente períodos de estresse agudo.


“Não existe uma fórmula ou receita que torne o processo de luto fácil ou sem sofrimento. Contudo, é possível buscar vivenciá-lo de uma maneira em que se evite a ocorrência de prejuízos a saúde”. Entre eles, ela destaca isolamento social e depressão.


Embora o tempo ainda seja o melhor remédio para amenizar a saudade, a psicóloga diz que em casos extremos é indicado terapia do luto. “O indivíduo precisa aceitar e compreender que não existe absolutamente nada que ele possa fazer para trazer a pessoa de volta, pois a morte é irreversível, inevitável e incontrolável”.


Os encontros com profissionais auxiliam quem sofre a perda. “Não tem como objetivo fazer com que a pessoa esqueça do falecido, mas sim auxiliá-la a lidar com o seu sofrimento de forma que a perda da pessoa querida não cause prejuízos para sua saúde física e mental. Além disso, os aspectos também são importantes para auxiliar os indivíduos enlutados a prosseguir com a sua vida, mesmo com a ausência da pessoa amada”.


Religião conforta e ajuda na superação


O conforto para superar a perda recente, muitas vezes, pode ocorrer por meio da religiosidade. De maneira geral, cristãos, islâmicos e judeus acreditam que após a morte há a ressurreição e vida eterna.


“Existem duas maneiras de superar esse momento: à luz da fé ou sem ela”, resume o padre da Paróquia São Judas Tadeu, Antônio Alberto Finotte.


“A esperança do cristão não é um consolo, mas a certeza do reencontro futuro, do começo da vida eterna. Jesus nos ensinou que Nele a vida não tem fim, a passagem da morte é o início da eternidade”, diz.


O padre Daniel de Oliveira Pinheiro, da Igreja Ortodoxa São Jorge, diz que a morte é o caminho para se alcançar a plenitude. “Quando acende uma vela (para um ente querido falecido) a chama não é para iluminar, a luz é o símbolo para a vida daquela pessoa”. Ele afirma que a fé auxilia a amenizar a ausência.


Já os espíritas creem na reencarnação. “A morte deve ser vista como uma viagem distante, mudança de um país. A vida continua, mas quem desencarna está em outro plano. Sentimos a dor do adeus, mas nos convencemos de dar um até breve por se tratar de uma despedida momentânea”, afirma o kardecismo José da Conceição Abreu.


No Candomblé, os orixás (guias espirituais) auxiliam o espírito no processo evolutivo da reencarnação e na existência de reinos espirituais. “Se o indivíduo leva uma vida imbuída de verdade, o pós-morte será uma extensão de suas ações, uma passagem confortável, sem julgamentos”, afirma o babalorixá Kabila Aruanda.


Entre os mulçumanos, a crença é do tempo contínuo desse para o próximo mundo. “A crença no Dia do Juízo significa que a morte não é o fim da vida, mas um portal para a vida eterna”, explica Ziauddin Sardar, autor do livro Em que Acreditam os Muçulmanos.


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