Conexão Portugal: Saída da Inglaterra da União Europeia ameaça o vinho do Porto

Nesta edição da coluna, Luiz Plácido fala sobre as consequências do Brexit para o produto

Por: Luiz Plácido - De Coimbra  -  27/12/18  -  18:51
  Foto: Pixabay

Numa de nossas colunas anteriores, falamos sobre um vilarejo português que estava a ser invadido por famílias inglesas. Assustadas com o Brexit, elas estavam comprando terrenos em Portugal para terem vínculo com a União Europeia, caso a Grã-Bretanha confirmasse o desligamento do bloco.


Vale lembrar que a saída foi votada em um referendo popular, realizado no dia 23 de Junho de 2016 e organizado pelo Parlamento Britânico. Votaram os eleitores da Inglaterra, da Escócia, do País de Gales e da Irlanda do Norte, além dos residentes britânicos de Gilbraltar e os que vivem no exterior, 51,8% das pessoas optaram pela saída, enquanto 48,2% votaram pela permanência.


Caso a saída seja mesmo confirmada, um setor muito importante de Portugal vai passar por maus bocados, nomeadamente o do vinho do Porto. Isso porque os ingleses fazem parte de uma fatia muito importante deste mercado, seja como consumidores ou exportadores. Vale lembrar que os mercadores ingleses dominam o negócio do vinho do Porto desde sua origem em Portugal. Cerca de trinta firmas britânicas estão instaladas em solo português e detém 60% do mercado, enquanto os portugueses possuem 35% e os outros 5% são divididos entre empresas alemãs, francesas e holandesas.


O que acontece é que o Reino Unido é um dos principais mercados de exportação do vinho do Porto. E desde 2016, quando o Brexit foi aprovado, o mercado vem sentindo uma grande perturbação. Isso porque, desde essa data, a libra (moeda inglesa) vem sofrendo uma forte desvalorização, chegando já a uma queda de 15%. E se a Inglaterra sair do acordo com a Europa de forma menos amigável, é certo que a moeda sofrerá uma queda ainda maior.


Segundo Adrian Bridge, CEO da Taylor´s, uma das inúmeras marcas de vinho do Porto que pertencem a famílias inglesas, a histórica relação do vinho portuense com o povo britânico nunca correu tantos riscos. “É perfeitamente normal que a libra venha a cair outros 15% se a Inglaterra confirmar a sua saída. E se isso de fato acontecer, será uma calamidade para os nossos negócios. Isso porque a única maneira de conseguirmos continuar no mercado será com uma alta do preço de nossos produtos e não acredito que os britânicos estejam preparados para pagarem 15% ou 20% a mais do que pagam num copo de vinho”, afirmou.


Bridge ainda destaca que “nosso negócio com eles (ingleses) poderá cair pela metade e isso é muito sério. O Reino Unido representa 25% de nossas vendas. Essa queda representaria uma perda de cerca de € 10 milhões em vendas, o que é muito significativo para nós, para o Vale do rio Douro e para os nossos empregados”.


Segundo as regras da Organização Mundial do Comércio, há poucas probabilidades de que sejam aplicadas tarifas especiais ao vinho do Porto. Ainda assim, o Reino Unido poderia aplicar novos requisitos para rotulagem ou elevar os impostos sobre o álcool como parte de uma “retaliação”, numa separação possivelmente conflituosa com a União Europeia. A UE protege o vinho do Porto, assim como o champanhe francês e o presunto parma italiano. Só o produto de Portugal pode ser rotulado como vinho do Porto. A grande preocupação agora é saber se o produto continuará a ter esta proteção no Reino Unido após o Brexit.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter