Conexão Japão: Tóquio 2021 e a vitória da humanidade

Indo contra a opinião pública, o governo e Comitê Olímpico Internacional (COI) garantem que os jogos serão realizados

Por: Yukio Spinosa - De Nagoia  -  04/02/21  -  15:45
Atualizado em 04/02/21 - 16:04
Conexão Japão: Ex-premiê Abe enfrenta sabatina
Conexão Japão: Ex-premiê Abe enfrenta sabatina   Foto: Unsplash

Em agosto de 2020, prevendo um desastre, mais de 50% das empresas pesquisadas pelo Instituto Tokyo Shoko opinaram serem contrárias à realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio em julho de 2021. Segundo a pesquisa, em um universo de aproximadamente 13 mil organizações, 27,8% disseram que o evento deveria ser cancelado e 25,8% que deveria ser reagendado, totalizando 53,6% de opiniões contrárias. Seis meses após a pesquisa, o Japão enfrenta a terceira e pior onda de infecções por coronavírus, com mais de mil novos casos por dia apenas na região metropolitana de Tóquio. Porém, indo contra a opinião pública, o governo e o Comitê Olímpico Internacional (COI) garantem que os jogos serão realizados.


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A rede de televisão estatal NHK divulgou pesquisa, no último dia 28, onde, num universo de 100 grandes corporações, 48 disseram que os jogos devem ir adiante, mas com prudência. Treze foram a favor do plano original (com espectadores e sem quarentena aos visitantes), três desejaram o cancelamento e 36 preferiram não opinar. No início de janeiro, a NHK mostrou pesquisa em que 80% da população com idade superior a 18 anos acreditava que o evento deveria ser cancelado ou novamente adiado.


A pandemia encareceu o custo total dos jogos em 22%, passando dos iniciais US$ 12,6 bilhões (R$ 68,2 bi) para US$ 15,4 bilhões (R$ 83,4 bi). Um estudo da Universidade Oxford mostra que esta é a mais cara olimpíada de verão já realizada. O custo inicial, previsto em 2013, era de US$ 7,5 bilhões de dólares (R$ 40,6 bi). As Olimpíadas do Rio de Janeiro custaram ao Brasil US$ 7,1 bilhões (R$ 38,6 bi).


Com o início da vacinação previsto pelo Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-Estar para o final de fevereiro, governo e COI encontram razões para serem otimistas em relação ao sucesso das extravagantes competições. O presidente do COI, Thomas Bach, diz não haver “plano B”. “Não temos, neste momento, nenhum motivo para acreditar que os jogos não irão ser abertos no dia 23 de julho, no estádio olímpico de Tóquio”, afirmou no último dia 22.


Bach também confirmou os Jogos de Inverno de Pequim em 2022. “Não podemos comparar março de 2020 com março de 2021, pois temos grandes progressos em ciência, medicina, vacinação e testes antivírus. Nada disto estava disponível em março do ano passado. Ninguém sabia ainda realmente como lidar com a pandemia e, agora, nós sabemos muito mais”.


O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, tem insistido que o mega-evento esportivo internacional deve ser realizado como previsto: “é uma forma de provar que a humanidade derrotou o coronavírus”. O discurso ufanista do premiê aconteceu logo depois do Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-Estar divulgar o programa de vacinação do país – no primeiro momento, com vacinas dos EUA e da Europa e, no segundo semestre, com a chance de laboratórios nacionais já terem desenvolvido um produto confiável. No entanto, a decisão final será anunciada na Dieta Nacional, em data ainda não definida.


Em meio a um desafio desta magnitude, dois parlamentares japoneses da coalizão governista, Kiyohiko Toyama, 51, do Komeito, e Jun Hashimoto, 70, do Partido Liberal Democrata (PLD), foram denunciados na imprensa por irem a casas noturnas no distrito de Ginza, após as oito da noite, horário limite de funcionamento de bares e restaurantes durante o atual estado de emergência. O comportamento dos políticos foi tão lamentável que o primeiro-ministro desculpou-se no parlamento.


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