Conexão Japão: O bullying e o suicídio

Nesta edição da coluna, Yukio Spinosa fala sobre a realidade de que a cada mil estudantes, existem 30 sendo ameaçados, maltratados e vítimas de violência no país asiático

Por: France Presse  -  22/02/19  -  19:13

A mudança da maioridade dos cidadãos japoneses dos 20 para os 18 anos foi aprovada. A lei deve entrar em vigor a partir de 2020. A cerimônia seijin no hicongratula encoraja os jovens que estreiam na vida adulta como membros da sociedade (shakaijin) no início da segunda semana de janeiro, desde o ano 717. Aqueles que cometeram crimes durante a infância estão prontos para receber sua sentença penal. 


Na última terça-feira (19), na cidade de Otsu, província de Shiga, dois indivíduos recém-chegados à maioridade foram condenados a pagar 37,5 milhões de ienes (R$ 1,3 milhão) à família de um menino que cometeu suicídio em 2011. Então com 13 anos, os dois sentenciados espancavam repetidamente o então colega de classe, da mesma idade.


Segundo informações veiculadas na mídia, “os ataques desferidos pelos colegas aumentaram gradativamente e as relações sociais do estudante entraram em colapso. Sentindo o isolamento, ele começou a pensar em morrer”, proferiu o juiz Shigeyasu Nishioka, lendo a sentença.


O menino, morador de Otsu, tirou sua própria vida na manhã do dia 11 de outubro de 2011, pulando do condomínio onde morava. Ele estava no segundo ano da Junior High School, equivalente à segunda série do Ensino Médio no Brasil. Seus pais processaram três colegas e seus guardiões, pela morte de seu filho ter sido consequência de suas ações. 


Durante a audiência, a família do menino argumentou sobre a violenta opressão, ameaças e maus tratos aos quais seu filho foi submetido, dizendo que os colegas de classe ordenaram que ele comesse uma abelha morta e frequentemente gritavam que ele devia morrer, usando a palavra shinê (morra, na tradução livre do Japonês). 


Os acusados admitiram a maioria das ações, mas clamaram que estavam brincando juntos. 


A corte entendeu que a negligência dos guardiões dos agressores na educação dos filhos levou à morte do estudante. A escola e a prefeitura de Otsu também estão sendo processadas por danos. 


Admitindo que maus-tratos repetidos são, em geral, previsivelmente causa de suicídio, a sentença é pioneira no país e, a partir dela, outros casos podem terminar com vitória da família das vítimas.


O bullying (ijimê, em Japonês) é comum nas escolas. De acordo com dados do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciências e Tecnologia (MEXT), no ano acadêmico de 2017, os casos de bullying escolar subiram 28%. A pesquisa mostra que, a cada mil estudantes, existem 30 sendo ameaçados, maltratados e vítimas de violência. Em torno de 317 mil casos foram registrados. É de conhecimento público que inúmeros casos são omitidos pelas escolas.


O estudo do MEXT examina os tipos de maus-tratos. A maioria (62,3%) envolve insultos verbais. Em seguida, aparecem casos de estudantes perseguidos e agredidos (21%) e excluídos socialmente de grupos ou ignorados (14,1%). Outros 3% são referentes ao bullying via mídias sociais, mais comum no Ensino Médio, totalizando 17,5% dos casos nesse segmento.


Esta semana um vídeo mostrando outro estudante, este da província de Niigata, recebendo chutes e socos de colegas, viralizou nas redes sociais do país. Um dos autores da covardia foi expulso da escola no ano passado. A vítima reportou o incidente à polícia local.


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