Conexão Japão: A saga de Ghosn

Nesta edição da coluna, Yukio Spinosa fala sobre o caso envolvendo Carlos Ghosn

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  25/01/19  -  19:49
Carlos Ghosn
Carlos Ghosn   Foto: Etienne Laurent/ AFP

Quando o presidente da Nissan, Carlos Ghosn, foi preso logo após seu jato particular pousar no aeroporto de Haneda, em Tóquio, no dia 19 de novembro, a atenção da mídia estava focada nos supostos relatórios manipulados, nos quais enormes valores em compensações recebidas da montadora não teriam sido reportadas. Porém, nas semanas que se seguiram, ficou claro que a prisão representa muito mais as complexidades do mundo corporativo japonês do que a má conduta de um executivo.


De acordo com o jornal The Japan Times, a prisão de Ghosn, que nasceu no Brasil e tem cidadania francesa e libanesa, foi deflagrada pela acusação, desenvolvida pela gerência da Nissan em trabalho conjunto com a promotoria pública, de que ele estaria subnotificando sua renda. Ele a estaria atrasando para evitar taxas, usando a empresa, a qual presidiu com sucesso durante 20 anos, para pagar por casas de luxo em Beirute, Rio de Janeiro, Paris e Amsterdã, para uso próprio, e de usar fundos corporativos para presentear parentes.


No dia 10 de dezembro, Ghosn foi indiciado por manipular seus rendimentos em documentos internos em US$ 44 milhões, num período de cinco anos, terminado em março de 2015. A promotoria suspeita que o executivo tenha falsificado suas finanças também nos últimos três anos, totalizando mais de US$ 80 milhões não declarados.


A saga de Ghosn como responsável pelo reavivamento da Nissan no início do milênio, sob o slogan “Shift the future” (altere o futuro), impressionou a indústria automotiva global. Segundo a Nissan, o executivo acumulou demasiado poder durante seu reinado de 20 anos na empresa e ninguém conseguia parar seus abusos. Desde 1999, quando chegou ao Japão com um pacote financeiro de US$ 5,4 bilhões da Renault para resgatar a Nissan da falência, Ghosn foi exaltado não apenas como salvador, mas um exemplo de reviravolta global e um guru da administração de empresas. Em 2004, o próprio imperador do Japão o premiou por sua contribuição à sociedade.


O executivo negou que tenha agido ilegalmente, suportado por Greg Kelly, um de seus diretores na Nissan, que também foi preso mas teve direito a pagar fiança. Ghosn teve o pedido de responder à acusação em liberdade, sob fiança, negado duas vezes, não tem advogados presentes durante interrogatórios e não teve permissão para encontrar a família desde a prisão.


Sua esposa denunciou a justiça japonesa à Human Rights Watch, uma ONG de direitos humanos com presença global. Seu filho disse que o pai percebe tudo isso como um desafio e vai lutar vigorosamente para provar sua inocência.


A mídia japonesa e alguns analistas levantam a possibilidade de as acusações contra Carlos Ghosn terem sido engenhadas para enfraquecê-lo e dar à Nissan uma razão para terminar a aliança com a montadora francesa Renault. A separação seria dolorosa, define Yuri Kageyama, do site AutoBlog. A aliança permitiu o compartilhamento de componentes, tecnologia, fábricas e funcionários que ajudaram em seu sucesso. Perder a sinergia pode colocar as empresas em desvantagem frente às rivais Volkswagen e Toyota, justamente quando a indústria automotiva está em plena revolução, com eletrificação de carros, veículos conectados e autodirigidos por inteligência artificial.


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