Conexão Estados Unidos: Tijuana é logo ali

Nesta edição da coluna, Fernanda Haddad fala da cidade mexicana de Tijuana e de suas diferenças para os EUA

Por: Fernanda Haddad - De San Diego  -  28/11/18  -  16:42
  Foto: AFP

É quase incrível – no sentido literal da palavra, de não conseguir crer – saber que eu estou tão perto de onde centenas de migrantes tentaram cruzar a fronteira entre México e Estados Unidos, no último domingo. Eles tentaram escalar a barreira de metal que divide os dois países, e as polícias mexicana e americana os impediram.

Tijuana, no México, é a cidade vizinha a San Diego, onde moro. Chegar até a borda me leva, no máximo, meia hora de carro. Talvez eu nunca tenha contado isso aqui, mas já cruzei a fronteira para o lado de lá algumas vezes. A impressão que eu tenho é de sair de um território planejado e organizado para um cenário completamente discrepante, de uma cidade ainda com ruas de terra e bem pobre.

O que me levou até o México? Antes de mais nada, a saudade de casa. Quando eu piso em Tijuana, vejo uma cultura muito parecida com a nossa, a brasileira. A comida, os costumes, o jeito que as famílias convivem e criam suas crianças, tudo isso é completamente diferente do estilo americano.

O peso, a moeda mexicana, é muito desvalorizada em relação ao dólar americano. Então quando eu vou para lá, tudo que eu consumo é muito barato. O mais gostoso de ir até Tijuana é comer os pratos mais tradicionais, que até tem uma similaridade com os nossos, pagando-se bem pouco. Mas o nosso arroz com feijão ainda é melhor.

Diariamente, milhares de mexicanos cruzam a borda para o lado dos Estados Unidos para trabalhar. Nos horários de pico, durante as manhãs e finais de tarde, a fila para cruzar a borda é imensa. Na segunda-feira, após a tentativa de invasão à fronteira, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou fechar a passagem.

Em sua conta oficial no Twitter, Trump não se mostrou nada contente com a tentativa de invasão ao solo americano. Ele pediu que o México deportasse os migrantes, a maioria centro-americanos, e ainda afirmou que muitos deles são criminosos.

“Avião, ônibus, façam como quiserem, mas (os migrantes) não vão entrar nos EUA. Fecharemos a fronteira permanentemente, se for necessário”, disse o presidente. E para completar, pressionou o Legislativo a aprovar a construção dos muros entre os dois países: “Congress, fund the WALL!” - Congresso, financie o muro!

Atualmente, a borda é protegida por cercado, mas Trump quer um muro de 30 feet, ou 9 metros de altura, cercando os Estados Unidos. “Big, beautiful wall” (grande e linda parede), como ele chama.

Em fevereiro, o presidente americano veio até San Diego para ver de perto oito protótipos que estão sendo testados para a construção do muro. Algumas das características em comum desses pedaços de parede são: anti-escalada, anticavação e a habilidade de obstruir qualquer tipo de tráfego. Quatro deles são feitos de concreto e os outros quatro, de materiais diferentes.

Resta saber se o episódio ocorrido no último domingo pode mesmo dar força ao pedido de Trump para o Congresso americano viabilizar a barragem.

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