Conexão Austrália: O plástico nosso de cada dia

Nesta edução da coluna, Fabiana Marinelo fala da forma do país lidar com a produção de plástico

Por: Fabiana Marinelo - De Sidney  -  23/11/18  -  18:41
  Foto: Pixabay

Você sabia que alguns países do mundo importam lixo? Graças à existência desse curioso mercado, a Austrália conseguiu, nos últimos anos, lidar de forma bem sucedida com sua produção de lixo plástico. O gerenciamento da sucata era uma situação resolvida por aqui. O plástico poderia ser produzido sem restrição e o seu resíduo, posteriormente vendido, desafogando espaço nos aterros locais e gerando receita. No entanto, recentemente, a China, o maior comprador mundial de sucata, decidiu cortar o volume de importação de lixo reciclável, gerando uma crise para muitos países, entre eles, a Austrália.


O relatório A Era do Plástico, lançado recentemente pelo Credit Suisse, dá uma ideia da importância da China para o gerenciamento do lixo no mundo. Até janeiro deste ano, o país absorvia cerca de 50% da produção mundial de plástico e papelão e usava essa sucata na fabricação de subprodutos. Mas o governo decidiu dar um basta e entrou com uma nova política para reduzir a chegada de lixo estrangeiro, afetando o mundo inteiro. Na Austrália, na última década, a dependência das vendas para a China chegava a cerca 80% dos resíduos plásticos.


Agora, com a decisão chinesa de restringir o mercado, a Austrália vai ter que resolver como lidar com o lixo reciclável produzido internamente. Para os próximos anos, uma das medidas já em pauta é a sobretaxação da resina plástica virgem (a matéria-prima básica para produzir plásticos), o que, consequentemente, irá gerar aumento nos preços dos produtos e, na ponta da cadeia de consumo, gerar menos lixo. Pelo menos essa é a expectativa.


Outra alternativa é facilitar a abertura de usinas de reciclagem no país, cujo processo de aprovação hoje é longo e burocrático. As empresas também estão sendo chamadas a atuar mais fortemente na redução do plástico e devem ser obrigadas a aumentar a presença de matéria-prima vinda da reciclagem em ate 30% já em 2019. Outras medidas são a proibição do uso de canudos em grandes redes de lanchonetes e o banimento das sacolas plásticas nos supermercados.


Como o assunto é lixo, é interessante destacar a eficiência da coleta residencial por aqui. Ao contrário do Brasil, na Austrália não ha lixeiros correndo pelas ruas pendurados atrás dos caminhões (sinceramente, não entendo como podemos achar isso normal). Funciona assim: os prédios/casas têm suas próprias lixeiras divididas em três cores (vermelho, lixo orgânico; amarelo, reciclável; e verde, folhas e grama). Elas são grandes o suficiente para acomodar o conteúdo. Uma vez por semana, o caminhão passa recolhendo-as. Cada dia é coletada uma cor diferente. Tudo é feito de forma automatizada. No caminhão, apenas o motorista e, às vezes, um auxiliar, que não saem do veículo durante a coleta.


As medidas para reduzir a produção de lixo reciclável também vão afetar a população com ações educativas e de conscien-tização. Principalmente porque um dos fatores que tirou a Austrália da lista de fornecedores de recicláveis para a China foi a má qualidade do lixo daqui (embalagens misturadas e sujas, o que é considerado contaminação para a reciclagem).


A Austrália tem um grande problema pela frente, aqui considerado colossal. Mas o desafio de reduzir a quantidade de plástico não é exclusivo daqui. Ainda segundo o relatório do Credit Suisse, ate 2050 haverá mais plástico nos oceanos do que peixes.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter