Conexão Austrália: A corrida de cavalos

Nesta edição da coluna, Fabiana Marinelo fala sobre a paixão dos australianos pelo esporte

Por: Fabiana Marinelo - De Sidney  -  12/11/18  -  17:40
  Foto: Pixabay

Os cangurus são os animais mais famosos da Austrália – quanto a isso, não há dúvidas. Mas hoje é dia de falar sobre cavalos, mais especificamente corrida de cavalos: um esporte caro, mas bastante popular na terra dos cangurus. Há algumas décadas, o Brasil também acompanhava este esporte com algum fervor. Em São Paulo, o Jockey Clube ainda abriga algumas corridas. E o Jockey de São Vicente? Alguém se lembra da última vez que foi até lá assistir a uma corrida?


Aqui na Austrália corrida de cavalos é coisa séria, muito séria. É um esporte bastante popular, que tem até transmissão ao vivo. Existe um canal 24 horas por dia transmitindo as corridas ao redor do mundo. Por aqui, a mais famosa delas é a Melbourne Cup (Copa), realizada no estado de Victoria neste mês. É a principal corrida de cavalos puro-sangue da Austrália e faz parte do calendário nacional como um dos grandes eventos esportivos. É conhecida como a “corrida que para um país”.


E isso não é exagero. No último dia da Melbourne Cup, os escritórios fecham mais cedo e alguns tipos de serviços param. Mas não é só isso. Mesmo ocorrendo em Victoria, em todos os cantos do país é um dia especial, no qual as pessoas escolhem as melhores roupas para sair de casa. Mulheres usam vestido de festa e adorno na cabeça, homens saem de terno e chapéu. Ao fim da tarde, o público se amontoa nos bares, restaurantes e hotéis para assistir à corrida principal do dia. As crianças, nas escolas, também são convidadas a participar da celebração e usam enfeites no cabelo e bonés. No estado de Victoria, é feriado público. Mas sim, tem também muita gente que não dá a mínima.


A Melbourne Cup não é apenas festa. É uma data extremamente importante para a economia da Austrália. Uma corrida de cavalos é capaz de movimentar milhões. Segundo dados do Clube Flemington, organizador do evento, a Melbourne Cup trouxe, em 2017, um recorde de US$ 444 milhões em retorno econômico para o estado de Victoria, 4% a mais em comparação a 2016. O setor de turismo movimentou US$ 225 milhões com os gastos de visitantes nacionais e internacionais. Até mesmo o setor de moda é aquecido. Apenas para dar um exemplo, em 2017, mais de 320 mil itens de moda individuais foram vendidos. Sapatos foram 50 mil pares, vestidos, 48 mil, ternos, 15 mil. Isso sem falar no dinheiro aplicado nas apostas, que este ano deve ultrapassar a marca de US$ 300 milhões. Mesmo quem não acompanha o esporte investe alguns dólares nos cavalos. É tradição. A corrida principal dura quatro minutos – os cavalos percorrem pouco mais de três quilômetros –, mas a festa vai até o dia clarear.


O evento é internacional não apenas por causa dos visitantes. Os cavalos também vêm de várias partes do mundo, como Irlanda, França, Reino Unido, Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia. Existe até certa rejeição por parte dos criadores locais com o fato de, nos últimos anos, a maioria dos cavalos corredores ser de fora da Austrália. Isso tem afetado o setor de criação de algumas raças.


Os cavalos também geram polêmica quando o assunto é crueldade com os animais. Há um movimento contrário à corrida todos os anos. O motivo é a morte recorrente de cavalos. Este ano não foi diferente e contabiliza a sexta morte nos últimos seis anos. Por causa de acidentes durante a corrida ou exaustão após, alguns cavalos não resistem. Mas as mortes não ocorrem apenas na estrela das corridas. Entre julho de 2016 a julho de 2017, 137 animais morreram por causa desse esporte na Austrália.


Mesmo com este aspecto negativo, as corridas permanecem e o público parece ignorar as mortes. A Melbourne Cup é uma das mais importantes corridas de cavalos do mundo e tem tudo para permanecer desta forma.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter