Conexão Argentina: Denúncias disparam após revelação de abuso por ator

Nesta edição da coluna, Samuel Rodrigues fala sobre uma onda crescente de denúncias contra atores por abuso

Por: Samuel Rodrigues - De Buenos Aires  -  19/12/18  -  19:09
  Foto: AFP

A revelação da atriz Thelma Fardin de que foi estuprada pelo ator Juan Darthés em maio de 2009, quando tinha apenas 16 anos, fez disparar o número de denúncias deste tipo recebidas pelo Ministério da Justiça argentino. Darthés, que nasceu em São Paulo e foi criado na Argentina, tinha 45 anos à época.


Thelma e Juan trabalharam juntos na telenovela “Patito Feo”, uma espécie de Malhação daqui, transmitida de 2007 a 2008. Segundo Thelma, o estupro ocorreu quando ambos participavam de uma turnê do elenco pela Nicarágua. O caso está sendo chamado pela imprensa de “#MeToo argentino”, em referência ao movimento que começou nos EUA após a revelação de abusos do produtor de Hollywood Harvey Weinstein e se espalhou pelo mundo.


A denúncia foi apresentada à Justiça da Nicarágua, que investiga o caso, e revelada na televisão na semana passada. Atrizes consagradas ficaram ao lado de Thelma no momento do anúncio, como Cecilia Roth (“Tudo sobre minha mãe”) e Leticia Bredice (“Nove Rainhas”).


“Eu estava em turnê com um programa infantil de grande sucesso. Eu tinha 16 anos, era uma menina”, disse Thelma Fardin, hoje aos 26, na televisão. “O único ator adulto tinha 45 anos.” Segundo ela, Darthés começou a beijar seu pescoço e ela pediu que parasse, mas ele agarrou sua mão e disse: “Veja como você me deixa”. Thelma afirma que ele a jogou na cama, forçou sexo oral e a penetrou. Para sua sorte, alguém bateu à porta do quarto do hotel e ela aproveitou para fugir.


Em entrevista em outro programa de televisão, dois dias depois, Darthés se defendeu das acusações. “Nunca estuprei nem assediei ninguém”, disse. Segundo sua versão, “Thelma bateu à porta do meu quarto para dizer que não funcionava a chave” e “eu a expulsei do quarto, disse ‘vai embora daqui”.


Apesar da negativa, não é a primeira vez que o nome de Darthés é ligado a casos de violência sexual. A atriz Calu Rivero o acusou de abuso em 2017, durante as filmagens da novela Dulce Amor, sem denunciá-lo à Justiça. Outras duas atrizes, Anita Coacci e Natalia Juncos, também o acusaram na época. As três estavam presentes no evento de divulgação da denúncia mais recente.


O número de denúncias telefônicas de casos de abuso infantil na Argentina cresceu 1.240% no dia seguinte à revelação de Thelma Fardin, segundo o jornal Clarín. Além disso, dobrou o número de denúncias de violência de gênero pelo disque-denúncia gratuito mantido pelo governo.


Nos EUA, a exposição de numerosos casos de abuso ganhou força com a adesão de atrizes famosas, e o movimento posteriormente chegou a outros setores, com denúncias de assédio inclusive em Wall Street. No Brasil, as primeiras denúncias contra o médium João de Deus, recentemente, desencadearam uma série de acusações contra ele.


Nos dias seguintes à revelação de Thelma Fardin, o assunto foi um dos mais comentados nas redes sociais na Argentina. E ganhou destaque nos jornais e websites de grandes veículos de comunicação. O presidente Mauricio Macri tuitou sobre o assunto, dizendo que “o compromisso é trabalhar para erradicar todas as formas de violência contra as mulheres”.


O feminismo vem ganhando mais força na Argentina desde 2015, com a criação do movimento Ni Una Menos (Nem uma a menos), que leva todos os anos centenas de milhares de manifestantes às ruas de dezenas de cidades da Argentina e do mundo em protesto contra o feminicídio. Na denúncia de Thelma Fardin exibida pela televisão, a maioria das atrizes presentes exibia lenços verdes, símbolo da luta pelo aborto livre, seguro e gratuito no país.


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