Da várzea masculina ao profissional feminino: conheça Camila Rodrigues, paredão das Sereias da Vila

Goleira fala sobre início da jornada no futebol no Nordeste, chegada ao Santos e sonho de seleção brasileira

Por: Ágata Luz  -  09/03/23  -  07:46
Camila Rodrigues foi eleita a melhor goleira do Paulista Feminino de 2022
Camila Rodrigues foi eleita a melhor goleira do Paulista Feminino de 2022   Foto: Raul Baretta/Santos FC

As dificuldades para chegar ao futebol feminino profissional foram combustível para a goleira Camila Rodrigues trilhar uma carreira marcada pela luta por um sonho. Com apenas 22 anos, o paredão das Sereias da Vila já carrega diversas experiências no esporte, em diferentes lugares do País e até na categoria masculina. Eleita a melhor goleira do Campeonato Paulista de 2022, ela espera chegar à seleção brasileira e inspirar outras mulheres.


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Em visita ao Grupo Tribuna, nesta quarta-feira (8), Camila disse acreditar que toda atleta de futebol feminino já escutou ao menos uma vez que o esporte “não é para mulher”. Só que ela usou o preconceito como combustível. “Escutei também que não tinha capacidade e que o futebol feminino é muito lerdo. Graças a Deus deu certo e hoje posso provar que às pessoas que lá atrás falaram essas coisas que a gente tem capacidade e espaço”, explica a atleta.


A jovem acredita que herdou a paixão pelo futebol do pai e, inspirada em figuras como Marta e Formiga, sonhava em ser jogadora, mas não no gol. “Eu comecei jogando na linha e só com o decorrer do tempo é que virei goleira”.


Natural de São Luís (MA), Camila lembra que havia pouco incentivo à categoria feminina e, por isso, precisou entrar em um time masculino do bairro para treinar, aos 15 anos. “Os meninos já tinham entre 17 e 18 anos”, relembra a jovem, que acabou notada na várzea e conquistou espaço. “Consegui uma bolsa escolar para participar dos Jogos Escolares e foi onde tudo começou. Aí comecei a acreditar que o sonho poderia dar certo”.


Nessa competição, a goleira foi notada e fez as malas rumo ao Sul do País. “Me levaram para Chapecoense. De lá fui para o Inter, onde passei seis meses. Depois foram dois meses no time do Iranduva, onde me viram e me trouxeram para o Santos”.


Falando sobre as Sereias da Vila, onde chegou em 2020, Camila enfatiza que a equipe inicia a temporada com sede de títulos. “O Santos já está há bastante tempo sem ganhar títulos, então nosso objetivo maior é sermos campeãs do Brasileirão e do Paulista. Os objetivos estão traçados e a gente já sabe nossas metas, individuais e coletivas. No coletivo, vamos buscar o tempo todo a vitória”.


Nessa jornada, um ponto de apoio é o técnico Kleiton Lima, que retornou ao Peixe na metade de 2022. “Ele é um cara intenso, que pede comunicação e intensidade o tempo todo. Teve um passado cheio de conquistas, então acredito que a gente está em um caminho bom para buscar títulos. Ele conhece bem o caminho e conversa com a gente para a termos a mente vencedora”.


Nos dois primeiros jogos do Brasileirão Feminino, as Sereias venceram o Flamengo por 3 a 0 e empataram com o Athletico-PR em 1 a 1. No próximo domingo, às 11h, elas receberão a Ferroviária na Vila Belmiro. “A gente está treinando e se sentindo bem. O próximo jogo será difícil, mas a gente tem a vantagem de estar em casa”.


Sonhos e dificuldades

Camila sonha em ser convocada para a seleção brasileira e trabalha duro para isso. “Meu pai é louco por futebol e tenta me acompanhar sempre. Quando eu saí de casa, falei para ele que ia fazer de tudo para que um dia ele pudesse me ver vestindo a camisa da seleção brasileira. É um sonho", diz a jogadora, que também pensa em jogar no futebol europeu.


Apesar de reconhecer que o futebol feminino vem crescendo com o incentivo de patrocinadores e maior visibilidade na mídia, a goleira diz que muitas dificuldades ainda rondam o sonho das meninas que querem começar a carreira, principalmente em regiões como Norte e Nordeste.


“Sempre que eu volto para casa (Maranhão), conheço muitas meninas que têm vontade de sair de lá para jogar bola e se tornar atleta profissional. Conversando, a gente vê que a dificuldade é a mesma, as situações ainda estão na mesma. Hoje está melhorando, mas claro que ainda tem muita coisa para fazer”.


Diante disso, ela ressalta a importância de peneiras para a base. “Ajuda bastante as meninas que estão começando. Começa na base e tem todo um processo para chegar ao profissional. Diferentemente de mim, que comecei já praticamente no profissional, não tive base e preparação inicial para poder hoje estar no Santos”.


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