Vicentino vence limitação e se encontra no tênis de mesa

Introvertido, depressivo e sem perspectivas quanto ao futuro. Assim era Carlos Eduardo Freire de Moraes, o Cadu, até ganhar vida nova no esporte

Por: Régis Querino  -  27/03/19  -  17:15
Atualizado em 27/03/19 - 17:20
  Foto: Irandy Ribas/AT

Introvertido, depressivo e sem perspectivas quanto ao futuro. Assim era Carlos Eduardo Freire de Moraes há dois anos, até ser convidado pelo técnico Afonso Valente Filho a praticar tênis de mesa. De raquete na mão, à beira da mesa, o garoto de São Vicente, hoje com 14 anos, já sonha em ser campeão brasileiro. E isso é só o começo.


Sentado em sua cadeira de rodas, Cadu sorri e discorre abertamente a respeito de seus planos. Agora que já conquistou medalhas em uma edição do Campeonato Paulista, ele quer conquistar o Brasil. E depois o mundo. Nada que a agenesia de fêmur e o pé torto congênito bilateral possam lhe impedir.


Pelo contrário. A deficiência que tempos atrás o deixava em casa tem sido derrotada a cada ponto que ele faz na mesa. “O tênis de mesa mudou muita coisa, porque eu não tinha diversão. Eu tinha depressão e, quando comecei a jogar, comecei a sorrir mais. Eu não saía do celular e do computador, ficava entocado em casa”, reconhece.


O incentivo do técnico Afonso o fez conhecer o esporte. E tomar gosto pela competição. Depois da primeira em que participou, no Sest/Senat, em São Vicente, ele não parou. De 28 a 31 deste mês, Cadu estará no Centro Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, para disputar a sua primeira Copa Brasil.


“Eu era muito tímido e, com o tênis de mesa, comecei a conhecer mais pessoas eperder a timidez.Eutenho muitos planos, queria ganhar a Copa Brasil, ir pro Brasileir oe ser campeão paralímpico”, enumera o paratleta da AABB Santos.


Pode parecer ansiedade de principiante, mas Afonso não tem dúvida de que o futuro de Cadu é esse. “A Confederação já está de olho nele, o convocaram para a segunda detecção de talentos. Pela idade e pelo o que ele conseguiu em espaço curto de tempo, já tem um trabalho diferenciado pra evolução, visando uma Paralimpíada”, aposta o treinador.


Foco e persistência


Se depender de foco, o destino de Cadu está traçado. Morador do Quarentenário, em São Vicente, ele vem a Santos de segunda a quinta-feira, nos finais da tarde, para duas horas e meia de treinos na AABB.


Isso depois das aulas vespertinas do nono ano e após pegar várias conduções para chegar até a sede associação, na Avenida Ana Costa. Para isso, conta coma ajuda do amigo Gustavo, que o acompanha todos os dias.


“No começo eu quase desisti, estava sem ânimo, pelo cansaço e a distância. Só que as pessoas foram me ajudando, a minha família, o Gustavo. E o Afonso, que me deu aquele empurrão. Eu segui e vi que tava dando certo”, diz.


Determinado ,Cadu não dá mais espaço ao verbo desistir no seu vocabulário. “Sempre tem a primeira vez. Se não conseguir, tem a segunda, a terceira, tem várias oportunidades pra você ir tentando. Não desista”, ensina.


Pai e técnico


O pai de Cadu, Humberto Pereira de Moraes, de 50 anos, motorista aposentado, é testemunha do quanto o esporte mudou a vida do filho e da própria família, formada ainda pela mãe e dois irmãos mais velhos.


“O Cadu era um moleque muito estressado por não ter objetivo, hoje ele é super livre, se diverte, vive normalmente, faz o que pode e o que quer. O tênis de mesa mudou muito a vida dele e a nossa”, atesta.


O técnico Afonso Valente Filho chega a se emocionar quando fala sobre o crescimento de Cadu no esporte e da mudança de comportamento de um dos melhores jogadores da equipe da AABB Santos.


“O tênis de mesa mudou a vida dele, o deixou com sonhos. Ele começou brincando e levou a sério. Hoje joga contra pessoas sem deficiência e vence”, elogia.


O garoto que deu os primeiros saques no Sest/Senat, em São Vicente, e aprimorou os seus golpes jogando no chão de sua casa e depois em uma mesa de madeirite construída pelo pai, encontrou no esporte uma nova motivação.


“Ele passava pela psicóloga em São Vicente, mas o tênis de mesa foi a verdadeira psicóloga pra ele. O esporte foi o início da vida do Cadu, foi como se ele tivesse renascido”, diz o pai.


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