Roller derby aproxima mulheres do esporte e é visto como ‘empoderador’ e acolhedor

Santos tem equipe que representa a região nos campeonatos Brasil afora, a Thunder Rats Derby Squad

Por: Nathalia Perez & De A Tribuna On-line &  -  29/01/19  -  09:50
  Foto: Reprodução / Facebook

O roller derby ainda causa muita estranheza nas pessoas. Pouco popular no Brasil, a modalidade pode parecer uma mistura de rugby e patinação, à primeira vista, por ser de alto contato, muita intensidade e pelo uso do patins. No entanto, seu jogo têm regras bem específicas. Visto como acolhedor e um esporte que empodera mulheres, o roller derby faz sucesso na Baixada Santista.


A Thunder Rats Derby Squad representa a região nos campeonatos da modalidade pelo Brasil. Fundada pela cabeleireira Cristina Braga, de 29 anos, conhecida no roller derby como Bomber Girl, a equipe treina uma vez por semana em Santos e em Cubatão. São treinamentos longos e intensos, de três a cinco horas, além dos treinos téoricos.


Único time da modalidade na Baixada Santista, a Thunder Rats surgiu, em 2011, a partir do interesse de Cristina no esporte. Ela contou àTribuna On-Lineque conheceu o roller derby pela internet e estava a procura de uma atividade esportiva para praticar. Foi quando ela, após ajuda da pessoa responsável por trazer a modalidade ao país, montou o time, que originalmente era chamado de Jellyfish Girls.


"Quando divulguei a equipe, apareceram algumas meninas que já tinham ouvido falar do roller derby ou tinham visto o filme sobre o esporte lançado em 2009, o Garota Fantástica", disse Cristina. "Então, montamos o time. Mas como não tínhamos experiência e tudo era feito de maneira independente, sem apoio de ninguém, não sabíamos direito como conduzir a equipe", complementou.


O time como é chamado hoje, Thunder Rats, foi uma fusão do Jellyfishgirls com uma outra equipe que Cris havia fundado. Ela, no entanto, se desligou do grupo e do esporte. Até mesmo da seleção brasileira de roller derby, a qual ela representou no ano passado durante a Copa do Mundo da modalidade, realizada em Manchester, no Reino Unido, e que contou com a presença de mais de 30 países.


Hoje, o Thunder Rats disputa campeonatos como o Brasileirão, que será realizado em Blumenau-SC este ano, a Copa São Paulo e as Batalhas de Inverno. A liga, que é formada pela equipe, não conta com a ajuda de patrocinadores e apoiadores e se autossustenta com uma pequena mensalidade e a arrecadação de dinheiro em eventos, rifas e etc.


Um espaço feminino


O roller derby tem suas raízes nos Estados Unidos e surgiu como um esporte feminino. Embora existam equipes formadas por homens, a maioria esmagadora dos times é composta por mulheres. As skaters, jogadoras da modalidade, consideram o esporte um espaço feminino.


"É nosso lugar seguro.Nele, a gente descobre que somos capazes de muito mais, tanto física quanto psicologicamente, e estamos rodeadas de mulheres para nos ajudarem quando a gente pensa em desistir", disse a social medial e jogadora do Thunder Rats Derby Squad Maria Alice Souza, de 21 anos.


Legenda: Maria Alice veste a camisa 14 durante os jogos
Legenda: Maria Alice veste a camisa 14 durante os jogos   Foto: Francine Folli / Folli Photo

Acolhimento e quebra de estereótipos


Segundo a skater, que, no jogo, tem o apelido de Apoc-Alice, o roller derby é, também, um espaço de acolhimento. "Não existe um corpo ideal pra você jogar. Então, gordas, magras, altas e baixas estão sempre juntas na track. Também não existe um limite de idade, basta ter mais de 18 anos. É um esporte em que também a sexualidade e identidade de gênero não são um problema. Muitas pessoas da modalidade fazem parte da comunidade LGBT", comentou Maria Alice.


Além de acolhedor, o roller derby quebra o estereótipo que liga a figura feminina à fragilidade. "Ele acaba empoderando as mulheres, porque todas podem participar, independente da característica física. É um esporte ondeas mulheres se encontram. A maioria nunca praticou nenhum outro e acaba gostando do roller derby", apontoua profissional de relações públicas Bárbara Serrachioli, de 23 anos.


Superando limites físicos


Bárbara está envolvida com o roller derby há alguns anos, mas não faz tanto tempo que ela começou a jogar.Por conta de uma fibromialgia, ela começou como juíza, depois virou técnica de iniciantes e, em seguida, assumiu posições administrativas em uma liga do Rio de Janeiro, onde vive há mais de quatro anos. Ela passou peloSugar Loathe Roller Derby e hoje está no Avas Roller Derby, time em que é uma das criadoras.


"Sempre achei que seria impossível eu praticar roller derby por causa da doença, mas sempre quis muito. Eu realmente sou apaixonada pelo esporte. Quando criamos a liga, era uma fase boa da minha saúde e comecei a treinar sem muita pretensão com as meninas", relatou a santista.


"Como elas eram atletas já de alto nível, eu comecei a treinar em um nível muito mais avançado do que qualquer iniciante, e comecei a me surpreender, porque fui aguentando e evoluindo rápido", disse também. "Sinto que preciso me esforçar muito mais por fora para poder aguentar. Uso protetores nos dois ombros pra aguentar o contato, porque ambos são inflamados".


A prática de exercício físico é o principal tratamento para fibromialgia, relembrou a agora jogadora. Porém, por ser um esporte puramente de contato, o roller derby não é o mais adequado nesse sentido. "Mas me cuidando direitinho, dá certo", concluiu Bárbara.


Legenda: Bárbara esteve na Copa do Mundo de roller derby no ano passado
Legenda: Bárbara esteve na Copa do Mundo de roller derby no ano passado   Foto: Arquivo pessoal

O jogo


As partidas de roller derby, chamadas de bouts, consistem em uma série de pequenos jogos, osjams. Resumidamente, oobjetivo do jogo é que o atacante (jammer) passe o maior número possível de vezes pelo grupo de bloqueadores, ou blockers, do time adversário, que tenta impedir o ataque.


O tempo da partida é dividido em dois períodos de 30 minutos, e dentro de cada etapa existemjams de dois minutos no máximo. Há um árbitro encarregado de contar o tempo do jogo e os jams.


Ao todo, são sete árbitros na partida, além dos que ficam de fora, sem patins. Os que usam o equipamento tomam conta das faltas - que são muitas, por ser um esporte de muito contato - e da quantidade de pontos. Os que não usam, cuidam das estatísticas do jogo.


Em cada roster, a formação de uma equipe, podem haver até 20 jogadoras. Durante o jogo elas geralmente se revezam, pelos dois minutos de jamsexigirem muita força, velocidade, energia e, claro, contato.


Logo A Tribuna
Newsletter