Ex-base do Santos que ficou paraplégico em acidente doméstico com arma vai para seu 5º Parapan

O santista Paulo dos Santos, conhecido como Jatobá, hoje é uma das estrelas do basquete em cadeira de rodas do Brasil

Por: Nathalia Perez & De A Tribuna On-line &  -  14/08/19  -  14:58

Paulo dos Santos não sonhou em ter uma carreira de sucesso no universo paralímpico quando pequeno, mas é no esporte adaptado que ele realiza seus novos sonhos. Aos 46 anos, o santista é uma das estrelas da seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas. No próximo sábado (17), ele embarca para mais uma edição de Jogos Parapan-Americanos. O deste ano, em Lima, será seu quinto.


Em entrevista à Tribuna On-Line, o paratleta, que joga como armador, revelou que sempre esteve no meio esportivo. Seu pai era técnico de futebol de várzea em Santos, e, por isso, Paulo sempre foi aficionado pela modalidade e a praticava em quadra e em campo. Isso até o acidente que mudou sua vida, em 9 de outubro de 1983. 


Jatobá, como Paulo é conhecido no basquete e apelido que estampa seus uniformes, havia sido aprovado em um teste para atuar nas categorias de base do Santos. Pouco tempo depois, porém, uma curiosidade entre jovens quase custou sua vida. Seu tio mantinha um revólver de calibre 22 em casa e, um dia, seu primo decidiu mostrar a arma a ele e seu irmão. O mau manuseio, no entanto, fez com que o objeto disparasse e atingisse Paulo.


Paulo, ou Jatobá, como é conhecido, durante jogo na Rio-2016
Paulo, ou Jatobá, como é conhecido, durante jogo na Rio-2016   Foto: Washington Alves/MPIX/CPB

"Pegou no meu lado esquerdo, entre meu antebraço e peito, e desceu e perfurou o pulmão e ficou perto das vértebras, onde a gente tem um liquor. Não quebrou nada, mas com o calor do projétil, esse liquor foi interrompido. Foi o que me deixou com essa sequela", contou ele, que ficou paraplégico.


O momento ficou marcado, também, por um jogo de futebol. Naquele dia, ele ouvia, na rádio, uma partida entre Santos e Palmeiras. Mas não uma qualquer. Uma que entrou para a história por um lance folclórico ocorrido nos acréscimos do segundo tempo, quando Jorginho Putinatti, do Verdão, bateu em direção à meta, a bola resvalou no árbitro José de Assis Aragão e foi para o fundo da rede alvinegra. Gol validado. "Isso me marcou muito. O acidente foi logo em seguida", recordou.


Após o disparo acidental e o diagnóstico médico de que ele não mais voltaria a andar e passaria o resto de sua vida sobre uma cama, sendo dependente, não demorou até que ele retomasse suas atividades. "Levou menos de seis meses. Toquei minha vida. Não normalmente, porque naquela época havia várias barreiras, principalmente arquitetônicas. Pessoas com deficiência não tinham tanto reconhecimento", falou Jatobá.


Em competições nacionais, Jatobá representa o Corinthians/CAD
Em competições nacionais, Jatobá representa o Corinthians/CAD   Foto: Beto Miller

Em 1988, ele conheceu, através de um vizinho e grande amigo, a Associação dos Deficientes Físicos de Santos (Adfisa), local que lhe apresentou ao esporte adaptado. Primeiro, ele tentou a natação. Depois, montaram uma equipe de basquete em cadeira de rodas, e foi aí que ele se apaixonou. A relação de Paulo com a modalidade deu tão certo que, no ano seguinte, ele já estava servindo a seleção brasileira.


De lá para cá, ele coleciona participações em Jogos Parapan-Americanos e Jogos Paralímpicos e diversos títulos. O armador, inclusive, esteve presente na primeira edição de Parapan da história, em 1999, na cidade do México. Na Rio-2016, lá estava ele.


Atualmente, o santista mora em São José do Rio Preto e joga pelo CAD, clube que tem parceria com o Corinthians e do qual ele é fundador. "Hoje a gente tem, além do basquete, atletismo, natação, ciclismo, bocha e um projeto chamado Integração, que é voltado para pessoas com deficiência que, de repente, não querem praticar esporte, mas que tiramos da vida sedentária", contou ainda.


Logo A Tribuna
Newsletter