Vacinação contra a Covid-19 vira isca para golpes na Baixada Santista

Bandidos se aproveitam de expectativa pela imunização para levar vantagem; abordagens são presenciais e virtuais

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  22/02/21  -  09:32
Serão disponibilizados 29 locais de vacinação, em dois períodos
Serão disponibilizados 29 locais de vacinação, em dois períodos   Foto: Carlos Nogueira/AT

A vacinação contra covid-19 está na mira de estelionatários. Um golpe envolvendo a campanha de imunização já fez vítimas em alguns estados. Em São Paulo, extraoficialmente, há uma queixa em São Vicente e outras no Interior. Já na Capital, a Divisão de Crimes Cibernéticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) faz o cerco a uma quadrilha que engana pessoas com uma suposta pesquisa sobre a doença.


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A dica é ficar atento aos cuidados listados por especialistas em Segurança para não se tornar uma vítima e entrar para as estatísticas. Na maioria dos golpes via internet, os criminosos usam a engenharia social, que nada mais é do que a antiga prática de contar uma história para enganar alguém e tirar vantagem. No popular, é o 171, termo usado para descrever mentirosos e aproveitadores, derivado do número do crime tipificado como estelionato no Código Penal.


Nesse caso, eles estão enviando e-mail ou mensagem pelo WhatsApp informando sobre a necessidade de agendamento para vacinação e pedem a confirmação do dia e hora para aplicação do medicamento por meio de um código enviado ao celular da vítima. A partir daí, os bandidos conseguem capturar os dados ou mesmo os contatos da pessoa para solicitar dinheiro a amigos e familiares.


“Eles enganam. As pessoas acreditam na história e acabam fornecendo informações pessoais. Com esses dados, os criminosos aplicam os golpes”, explica o delegado da Divisão de Crimes Cibernéticos do Deic, Gaetano Vergine.


Momento propício


O especialista em segurança cibernética Israel Pereira lembra que momentos de grandes campanhas sobre temas que impactam a vida das pessoas são os mais suscetíveis para o surgimento de golpes. Ele, que também é gerente de tecnologia do Grupo PLL, empresa especializada em reparos de celulares, cita como exemplo a enxurrada de golpes no início da liberação do auxílio emergencial.


“Eles fazem isso para obter dados pessoais ou vantagem financeira. É comum em momentos de grande apelo público. Os hackers pegam essa campanha e fazem algo simulando ser integrado a essas ações”.


Investigação


Na Capital, uma quadrilha que aplicava golpes se passando por funcionários do Ministério da Saúde está sendo investigada pelo Deic, conta Vergine. “Eles ligavam dizendo que estavam fazendo pesquisa e, no final, falavam que mandariam um código para confirmação. Na verdade, não era código da pesquisa, mas os números que você valida o WhatsApp. Aí, clonavam para obter os contatos da vítima e pedir dinheiro”.


Há pessoas que receberam dinheiro em suas contas que estão sendo indiciadas, avisa o delgado. “Tem gente que empresta ou aluga conta para receber valor ilegal. Todas estão sendo indiciadas. Elas ganham 5% ou 10% do total depositado. São indiciadas por participação no crime”.


Senhas fortes ajudam a evitar danos


Adotar alguns cuidados será fundamental para se prevenir de possíveis fraudes. Criar senhas forte, misturando números, símbolos e letras maiúsculas e minúsculas é um caminho. No WhatsApp, configure a dupla autenticação, que é a adoção de mais uma senha para abrir suas mensagens.


“No mundo real, as pessoas prestam atenção para não cair em buracos na rua, não andam em determinados locais e não usam acessórios chamativos. O mesmo tem que ser feito no mundo on-line. Você não pode confiar em tudo que está vendo na tela”, alerta o delgado Gaetano Vergine.


O que fazer


Procure informações e tire dúvidas somente em sites oficiais, como o da prefeitura da sua cidade, acrescenta Israel Pereira. Segundo ele, outra dica de ouro é suspeitar de qualquer dica de SMS, WhatsApp ou ligação que solicite códigos ou protocolos.


“O que caracteriza o ataque é quando pede algum dado pessoal completo. Uma ligação séria pede parte de um dado, como os primeiros dígitos do CPF. Um criminoso precisa do dado completo”.


O coordenador do curso de Defesa Cibernética do Centro Universitário Fiap, Rafael Silva Santos, diz que é preciso se atentar aos contatos adicionados. “Se alguém te enviou uma mensagem com um link, mas você não sabe quem é, não responda nem adicione essa pessoa. Também é bom contar com um bom antivírus até mesmo para o celular”.


Susto


Em São Vicente, três pessoas se apresentaram na portaria de um prédio, identificando-se como agentes de saúde que aplicariam uma dose da vacina em um idoso que morava lá. Por sorte, a filha dele estava em casa e, ao informar que desceria para conversar com os agentes, eles fugiram. A família não quis se identificar. Mas fica o alerta. “Se chegar alguém na sua casa dizendo que foi aplicar vacina,e ninguém programou isso, não aceite e chame a polícia”, ressaltao delegado Gaetano Vergine.


Os crimes


>> Clonagem do WhatsApp


Como ocorre -O criminoso liga ou envia mensagem se passado por um funcionário do setor da saúde e pede à vítima o número de protocolo, que é um código de seis números enviados via SMS. Com ele, o criminoso clona a conta do usuário. A partir daí, envia mensagens aos contatos da vítima, pedindo dinheiro.


O que fazer -Ative a confirmação em duas etapas, um recurso do WhatsApp que pede uma senha para abrir o aplicativo. Para isso, vá em configurações, clique em privacidade e depois em confirmação em duas etapas. Nunca forneça o código verificador, caso receba via SMS em seu celular. Não instale apps de terceiros ou compartilhe informações pessoais a pedido de ninguém pelo WhatsApp. Se for vítima, envie e-mail para support@whatsapp.com, com assunto “conta hackeada-desativação de conta”. Depois, procure a delegacia e registre boletim de ocorrência. Se receber algum pedido de dinheiro via WhatsApp, ligue à pessoa que fez a solicitação e esclareça a situação.


>> Phishing


Como ocorre -O bandido envia links por SMS, e-mail ou WhatsApp para a vítima, com mensagens que seriam de órgãos que muitas vezes nem existem e servem para confundir a pessoa, como o “Ministério Público da Saúde”. No texto, falam que é necessário fazer o agendamento da vacina contra covid-19 e pedem para clicar num link. A partir daí, roubam dados pessoais e bancários da vítima ou podem induzi-las a fornecer essas informações.


O que fazer -Nunca abra e-mails de origem duvidosa, tampouco clique em arquivos ou links que estejam anexados ou no corpo dessa mensagem. Evite usar computadores públicos ou redes abertas de Wi-Fi para acessar seus dados bancários. A dica é deletar a mensagem sem abri-la. Caso tenha clicado no link, comunique seu banco e troque as senhas.


>> Em casa


Como ocorre -Pessoas se identificando como agentes de saúde batem na porta da casa da vítima ou vão a portarias alegando que precisam agendar a data de vacinação ou aplicar o medicamento. Com isso, tentam ser atendidos pelas vítimas.


O que fazer -Não abra a porta para estranhos. As prefeituras e o Estado não enviam funcionários às casas, exceto no caso de acamados. Mas, nesse caso, é a própria pessoa que faz o agendamento. Se alguém aparecer em sua residência alegando ser agente de saúde sem você ter agendado algo, confirme com a prefeitura ou chame a polícia.


>> Mais dicas


- Não transfira dinheiro para ninguém caso não tenha certeza que conversou com a pessoa certa,por telefone ou presencialmente


- Não clique em links quevenham por SMS, WhatsApp, e-mail ou qualquer outra forma


- Não dê informações de códigos, como é o caso do WhatsApp.


- Se alguém solicitar, fique alerta: em 99% dos casos, é golpe


Fontes: Secretaria de Estado da Segurança Pública e especialistas em Segurança


Poder Público


Consultadas, todas as prefeituras da região informaram não haver registros de queixas de munícipes sobre possíveis golpes envolvendo a vacinação.


São Vicente pede que, caso algum morador receba mensagem sobre agendamento de imunização,entre em contato com a Vigilância Epidemiológica pelo 3569-5702.


Em Santos, os canais à disposição são o site, Instagram (@santoscidade) eFacebook (/Prefeiturasantos).


Já o Ministério da Saúde acrescenta que não realiza campanhas de vacinação em domicílios, agendamento para aplicação de vacinas ou envio de códigos para celular dos usuários do SUS. A pasta informa ainda que o cidadão pode se cadastrar nas bases de dados da pasta e, para facilitar o processo de vacinação, orienta o download do aplicativo Conecte SUS Cidadão, gerando o QR Code para apresentar no momento da vacinação.


Em São Paulo, o Governo doEstado dispõe do site Vacina Já, onde é possível fazer um pré-cadastro. A quem notar uma tentativa de golpe, a orientação do Ministério da Saúde e daPolícia Civil do Estado é registrar boletim de ocorrência na delegacia ou via internet pelo site. “Isso é importantíssimo. Para nós, serve como base de investigação”, diz o delegado Gaetano Vergine.


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