Turismo da Baixada Santista perde R$ 17,6 milhões neste ano

Valor é baseado na revogação, pelo Governo do Estado, de resolução que previa 15% da verba Dadetur para esse fim

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  24/03/19  -  22:16
Belezas naturais podem ser mais exploradas o ano todo, a região é rica em trilhas e cachoeiras
Belezas naturais podem ser mais exploradas o ano todo, a região é rica em trilhas e cachoeiras   Foto: Rogério Soares/ AT

A promoção e a capacitação de pessoal para o turismo na Baixada Santista perderão R$ 17,6 milhões neste ano. O valor é referente aos 15% da verba Dadetur, do Estado, flexibilizados para esse fim no governo de Márcio França (PSB). Após a troca de comando no Palácio dos Bandeirantes, o governador João Doria (PSDB) revogou a resolução. O cálculo é do consultor financeiro Rodolfo Amaral.


“Daria para idealizar uma ampla programação integrada, dispondo de recursos até para uma boa difusão”, opina Amaral. 


Com o recuo, a divulgação local volta a depender dos limitados orçamentos municipais para a área e de ações isoladas do setor privado. De acordo com o especialista, o recurso extra poderia ter injetado no setor 63% do volume investido pelas cidades no turismo. Amaral afirma que, no ano passado, houve aporte regional de R$ 27,9 milhões na área.


“Isso é equivalente a apenas 0,39% das despesas totais dos municípios. Por aí, é possível ver a importância que o Poder Público dá ao turismo”.


Lamento


O secretário de Turismo de Santos, Odair Gonzalez, lamenta a revogação da medida. “Essa verba seria importante para a pasta, que não tem orçamento grande para esse fim, na função de divulgar a Cidade. Sem a medida, o Dadetur volta a ter o caráter de obras de infraestrutura e de acesso viários”.


Em conjunto com outros representantes do setor, o titular da pasta afirma ter pedido uma audiência pública com técnicos do Estado para tentar rever a decisão. Sem sucesso.


Em nota, a Secretaria Estadual do Turismo sustenta que a resolução foi revogada porque “contraria a lei e não tinha amparo legal”. O secretário-executivo da pasta, Marcelo Costa, afirma desenvolver “junto com os municípios” projetos regionais que mantenham, incrementem e requalifiquem, de forma criativa, o fluxo turístico. 


“Estamos disponíveis para discutir propostas que criem novos modelos para impulsionar o turismo local ou até reinventar a economia na região”.


Considerado indústria com baixo nível de emissão de poluentes e com alta capacidade de empregar mão de obra, o turismo é setor considerado vital nas finanças brasileiras. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que a área é responsável por até 4% das atividades comerciais do País.


Em evento no mês passado, em Itanhaém, o secretário estadual do Turismo, Vinicius Lummertz, avaliou que o segmento manterá uma taxa de crescimento acima do Produto Interno Bruto (PIB, que é a soma das riquezas de uma região) brasileiro. Ele diz que o setor, na América Latina, terá expansão média de 8% neste ano.


A prefeitura de Santos ainda não definiu se os cemitérios da Cidade vão reabrir no Dia de Finados
A prefeitura de Santos ainda não definiu se os cemitérios da Cidade vão reabrir no Dia de Finados   Foto: Nirley Sena/ AT

Desafio é expandir o setor fora do verão


Especialistas afirmam ser urgente mapear os atrativos locais e projetar formas para desenvolver o setor turístico. Eles defendem um calendário unificado e novas rotas para alavancar a área, especialmente na baixa temporada. 


“Infelizmente, somos reféns da sazonalidade nos três meses do verão”, cita o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Baixada Santista e Vale do Ribeira (SinHoRes), Heitor Henrique Gonzalez.


Ele explica que, após o verão, os estabelecimentos do setor sentem uma queda de até 90% no faturamento. “Nossa situação é o oposto de Ilhabela e Paraty (RJ), para citar duas cidades próximas. As pessoas reservam (hotéis e pousadas) o ano todo nesses locais, porque existe uma extensa programação nos 12 meses”.


Gonzalez menciona o exemplo de Jericoacoara, antigo vilarejo do Ceará. Após a implantação de um aeroporto, o local se transformou em um dos mais visitados pontos do Nordeste. O prefeito de Guarujá, Válter Suman (PSB), sempre se refere ao equipamento cearense como um modelo para o futuro aeroporto na Base Aérea de Santos. 


Como mudar?


Com base na sua vocação natural, especialistas pedem a união entre as cidades para “sair da caixinha” e atrair visitantes o ano inteiro. O turismólogo Renato Marquesini indica formatos alternativos e rotas menos comerciais como alguns dos atrativos a serem explorados. Ele é um dos pioneiros na região em turismo comunitário. 


Entre outras formas de lazer, organiza roteiros para quilombos e terreiros de candomblé, comunidades periféricas e atividades náuticas nos rios. “Nosso maior volume de trabalho é fora da temporada. Diversificamos para roteiros menos comerciais e temos uma boa rotatividade”. 


A Baixada Santista tem, ao menos, 15 roteiros de turismo de base comunitária, como em áreas caiçaras e rural. O Sesc, por exemplo, organiza passeios em uma das áreas mais degradadas de Santos: o Paquetá. 


O turista conhece os antigos casarões – hoje transformados em cortiços – e tem uma aula de história ao passar pelos jazigos de personalidades no cemitério mais antigo da Cidade. O local reúne vários túmulos tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa), como os do ex-governador Mário Covas, do poeta Vicente de Carvalho e do pintor Benedito Calixto.


Já o jornalista e consultor de finanças públicas Rodolfo Amaral cita outras duas vocações: turismo religioso e voltado aos mais velhos.


“Em nosso calendário turístico, deveríamos explorar esta potencialidade, transformando a região na Capital da Terceira Idade, criando uma semana de atividades turísticas em toda a região”.


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