Um novo cenário eleitoral em Santos

O futuro chefe do Executivo santista terá uma série de desafios ao ocupar o Palácio José Bonifácio em 2021, como lidar com a crise econômica

Por: Sandro Thadeu  -  30/08/20  -  21:05
Prefeitura de Santos estipulou 4,40% de aumento na taxa do IPTU
Prefeitura de Santos estipulou 4,40% de aumento na taxa do IPTU   Foto: Alberto Marques/AT

Pela primeira vez em 36 anos, a eleição de Santos não terá candidaturas de prefeitos ou ex-chefes do Executivo. Era uma realidade desde 1984, quando os munícipes voltaram a eleger diretamente seus governantes, após a Cidade ter sido considerada Área de Segurança Nacional pelo governo militar do País.


Embora Santos seja importante economicamente para o Pais e tenha uma rica histórica política, nenhum deputado estadual ou federal deverá se arriscar ao Palácio José Bonifácio pelo segundo pleito consecutivo. Os nomes dos postulantes à Administração Municipal que estarão nas urnas em 15 de novembro serão definidos nas convenções municipais, que ocorrerão entre amanhã e 16 de setembro.


Cientistas políticos consultados por A Tribuna dizem que essa situação peculiar de Santos pode ter a ver com a pouca experiência dos deputados atuais, a dificuldade de administrar uma cidade após a pandemia de Covid-19 e, até, o receio de trocar a segurança de um mandato parlamentar por um cargo com cobranças diárias.


Ainda é preciso considerar a habilidade política do prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), que agiu nos bastidores e tirou da disputa os líderes das últimas pesquisas de intenção de voto – o deputado estadual Professor Kenny (PP) e a deputada federal Rosana Valle (PSB). Além de não disputarem o pleito, ambos apoiarão o pré-candidato do PSDB e ex-secretário municipal de Governo, Rogério Santos, muito próximo do atual gestor.


Análises


O coordenador do Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT), Alcindo Gonçalves, vê dois fenômenos em convergência. Na avaliação dele, os ex-prefeitos Beto Mansur (MDB) e Telma de Souza (PT) já têm desgaste no eleitorado, o que inviabilizaria uma candidatura competitiva ao Executivo. “Por outro lado, temos deputados jovens e em início de carreira política. Eles ainda podem ganhar uma musculatura política maior. Não precisam ir com sede ao pote agora.”


O sócio-proprietário do Instituto de Planejamento Estratégico Ibespe, Marcelo Di Giuseppe, acredita que a situação verificada em Santos e em outras cidades se deve ao fato de nomes tradicionais não se adaptarem a uma nova realidade política: muita exposição. “Ou a pessoa se apresenta e é reconhecida pelo que fala e pensa ou some. Isso não é só aparecer ou não nas redes sociais.”


Segundo Di Giuseppe, que também é cientista político, as pessoas não suportam mais dar o cargo a um parlamentar e, depois de alguns meses, vê-lo “brincar” de tentar ser prefeito. Afinal, se derrotado, o candidato fica no cargo legislativo.


Surpresas


A professora universitária e cientista política Clara Versiani acredita que a situação política do País surpreende a cada dia e isso ficou evidente com a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República.


“A ausência de nomes conhecidos corresponde a esse quadro de mudanças. Vivemos um desgaste dos partidos e das legendas tradicionais provocado pela Operação Lava Jato”, explicou ela, que leicona nas universidades Santa Cecília (Unisanta) e Metropolitana de Santos (Unimes).


Clara aponta, ainda, a dificuldade econômica que se avizinha para 2021 e os reflexos da pandemia de coronavírus. Eles podem ter afastado o interesse de alguns nomes em concorrer ao Executivo.


A coordenadora do curso de Ciências Sociais da Unimes, Syntia Pereira Alves, entende que há uma cobrança da sociedade por renovação, mas, ao mesmo tempo, o receio de nomes tradicionais não se apresentarem para não fazer feio nas urnas.


No páreo


Até a tarde da última sexta-feira (28), 18 partidos tinham pré-candidaturas ao Executivo de Santos. Confira a lista, que está ordenada com base nos registros dos partidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE): 


MDB: Antonio Carlos Banha Joaquim
PTB: Bayard Umbuzeiro
PDT: Marcio Aurélio Soares
PT: Douglas Martins
PCdoB: Thiago Andrade
PSDB: Rogério Santos
PTC: Luiz Fernando Lobão
Cidadania: Tanah Corrêa
PV: Moyses Fernandes
Avante: Carlos Paz
PSTU: Luiz Xavier
PRTB: Marcelo Coelho
DC: Carlos Alberto de Sá Romano
Republicanos: Ariovaldo Feliciano/Willian Leite
PSOL: Guilherme Prado
PSD: Ivan Sartori
Pros: Décio Couto Clemente/Vicente Cascione
Novo: João Villela


Ampla coligação deve favorecer indicado do PSDB


A boa avaliação do mandato do prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) e a construção de uma coligação que deve dar o maior tempo em horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão ao pré-candidato do PSDB, Rogério Santos, põem o pré-candidato tucano em vantagem perante os demais. No entanto, os dois quesitos não garantem vitória, e outros nomes pouco conhecidos podem surpreender e conquistar o eleitorado, caso tenham a estratégia adequada.


Conforme o coordenador do IPAT, Alcindo Gonçalves, a falta de nomes conhecidos tende a favorecer o nome do PSDB, devido à gestão bem avaliada do tucano. “Mas é importante lembrar que eleição é uma caixinha de surpresas. Na hora H, pode aparecer alguém que possa surpreender. Nos últimos anos, a gente viu no Brasil alguns fenômenos eleitorais inesperados, mas entendo que não é um cenário provável.” 


O sócio proprietário do Ibespe, Marcelo Di Giuseppe, reconhece a vantagem do pré-candidato da situação, mas entende que o desempenho dos políticos nos debates da TV é determinante para o resultado das urnas, como ocorreu nas eleições de 2016 em Guarujá e em São Vicente.


Ele recomenda que quem pretende concorrer a cargos públicos esteja cercado de profissionais de imprensa, contadores e advogados, além de um trabalho de inteligência para ter informações detalhadas dos bairros. “O cidadão não vota em um personagem porque ele é novo. É preciso se fazer conhecido e ser reconhecido por algo que propõe fazer ao município. Por esse motivo, precisa ter o discurso certo.”


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