Santos, 2022 um ano cheio de ‘datas redondas’

Os 476 anos da cidade ganham aura especial, pelo Bicentenário da Independência do Brasil

Por: Sergio Willians  -  26/01/22  -  22:00
Em 2022, Santos se prepara para organizar as celebrações em torno do 7 de setembro
Em 2022, Santos se prepara para organizar as celebrações em torno do 7 de setembro   Foto: Sergio Willians

As comemorações pelos 476 anos da Cidade de Santos ganham em 2022 uma aura especial, em função das celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil, que terá seu ápice em 7 de setembro. Sob os auspícios de um regime monárquico, que perdurou por 67 anos, substituído pela República a partir de 15 de novembro de 1889, o país percorreu ao longo dessa trajetória de dois séculos uma trilha permeada por lutas, superações, reflexões, conquistas e até mesmo derrotas, que muito ensinaram aos brasileiros.


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Contudo e por tudo, a data nascente da nacionalidade brasileira jamais deixou de passar em branco entre os santistas que, além de figurarem como um povo absolutamente presente em todos os grandes momentos nacionais, tiveram, no caso especial do processo de Independência, a contribuição determinante de José Bonifácio de Andrada e Silva, filho da terra santense historicamente reconhecido como o grande artífice do processo que libertou o Brasil das amarras que o ligavam ao Reino lusitano.


A relação da cidade de Santos com a Independência do Brasil, então, existe desde o seu nascedouro, literalmente, uma vez que o Príncipe Regente D. Pedro aqui testemunhou as primeiras luzes do 7 de setembro de 1822, já que encontrava-se ele hospedado na vila santista desde o dia 5, a pretexto de inspecionar o sistema de defesa do porto para se precaver diante da iminência de uma possível invasão por tropas portuguesas, o que, de certa forma, evidenciava o movimento libertário latente.


Quase foi aqui
Não fosse por algumas intercorrências alheias à vontade de D. Pedro, é provável que o grito histórico, que teve como palco as margens do riacho Ipiranga, fosse outro, dentro dos limites da terra santista. Consta na historiografia nacional que as famosas cartas que levaram D. Pedro ao brado libertário tinham como destino o Litoral Paulista.


O então correio da Coroa, Paulo Bregaro, havia recebido orientações específicas de José Bonifácio, em sua missão, para entregá-las ao Regente quando estivesse em Santos. Ocorre que D. Pedro resolveu partir de volta para a capital bandeirante antes do tempo previsto e isso acabou frustrando os planos de Bonifácio e tornando o Ipiranga o grande cenário histórico da Independência.


Por conta da relação afetiva com a data, os santistas celebram com grande entusiasmo o 7 de setembro. No cinquentenário, ocorrido em 1872, a cidade comemorou o dia inaugurando um então moderníssimo sistema de iluminação pública a gás, substituindo velhos lampiões alimentados por óleo (azeite) vegetal ou de peixe.


Também naquele ano, era concluída a construção dos casarões gêmeos do Valongo (atual Museu Pelé), que chegou a ser cogitado para abrigar a sede do governo da Província de São Paulo (houve uma especulação neste sentido alguns anos antes, mas que não se concretizou). E, por fim, de longe, celebrou a inauguração de um monumento dedicado ao ilustre santista José Bonifácio, erguido na Praça São Francisco de Paula, no Rio de Janeiro, ato este que contou com a presença do Imperador D. Pedro II.


Quando a cidade de Santos alcançou, enfim, o ano do Centenário da Independência, em 1922, ela já estava bastante mudada. As benesses propiciadas pela riqueza do comércio do café haviam transformado totalmente o perfil santista que, de velho sítio colonial, passou a ostentar ares de urbe cosmopolita, dotada de prédios de belíssimo requinte arquitetônico.


A cidade original (atual Centro Histórico) alargava praças e ruas, transformando edificações brutas em prédios primorosamente elegantes. Para os lados do distante arrabalde da orla marítima, que até cerca de 1905 era basicamente ocupado por bucólicas chácaras e casebres caiçaras, erguiam-se pomposos palacetes residenciais e hotéis de luxo, que formaram bairros praianos de destaque nacional, como o Gonzaga e o Boqueirão.


Este primeiro, sítio da maior parte dos hotéis em plena ascensão, como o Parque Balneário, teve a primazia de receber a ‘cereja do bolo’ das festividades alusivas aos 100 anos da Independência: o monumento dedicado aos irmãos Andradas, conhecido hoje como o "Monumento da Praça da Independência".


Além dele, outras pérolas patrimoniais também tiveram seu debute naquele 7 de setembro de 1922, como a Bolsa Oficial de Café, que se tornaria referência em todo o planeta, por ditar os preços e regras daquele que era à época um dos produtos de exportação mais importantes do mundo; e o monumento dedicado ao padre Bartolomeu de Gusmão, que, embora não fosse um personagem ligado ao processo de Independência, teve a honra de ser homenageado numa data tão significativa para a cidade (a inauguração deste monumento estava prevista para 1915, mas acabou atrasando).


Bicentenário
Cinquenta anos depois, Santos se via novamente em outro momento distinto, desta vez não muito propício para festas. A cidade havia perdido sua autonomia política (em 12 de setembro de 1969), e testemunhava o ambiente cotidiano local manter-se constantemente tenso. O então prefeito, general Clóvis Bandeira Brasil (1972/1974), sem ter nenhum monumento ou prédio público a inaugurar, privilegiou os desfiles cívicos na orla da praia. Ao final, quem mais se destacou nas comemorações dos 150 anos foram as entidades civis e casas comerciais.


Celebração
Em 2022, Santos se prepara para organizar as celebrações em torno do 7 de setembro. E, da mesma forma que nas ocasiões anteriores, vive um momento diferente, desta vez com uma questão pandêmica de saúde. O que se espera é que a cidade esteja à altura de sua posição nesta importante celebração. À exceção da Bolsa do Café, que foi recentemente restaurada, seria importante resgatarmos os dois monumentos centenários da cidade: dos irmãos Andradas (Praça da Independência) e de Bartolomeu de Gusmão. Mais precisamente o primeiro, que detona, de forma exultante, o papel de José Bonifácio e seus irmãos no processo que tornou o Brasil uma respeitável nação.


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