“Está muito difícil. Vivemos o primeiro lockdown no início da pandemia, mas no verão (junho a setembro de 2020) parecia que as coisas estavam voltando ao normal. De repente, chegou o inverno e mergulhamos numa crise muito mais profunda”. O relato é da bancária Virgínia Matos, santista de 34 anos que mora em Lisboa, Portugal. Nos últimos dias, o país virou o epicentro da pandemia da covid-19 na Europa.
Em janeiro, Portugal registrou os piores dados desde o início da pandemia. Virginia conta que, além do medo do próprio coronavírus, teme qualquer outra doença. “Até uma dor no estômago, pois os hospitais e funcionários da saúde estão saturados".
Com uma filha de 2 anos, creches fechadas e trabalho remoto, a rotina em lockdown, confessa ela, fica puxada. "Achávamos que a vacina ia chegar e que em três meses todos estariam imunizados. Agora já vimos que não é bem assim e que temos que nos cuidar”.
As autoridades portuguesas e especialistas em saúde atribuem o aumento de casos e mortes, principalmente, à circulação da variante britânica do novo coronavírus e do relaxamento do isolamento social durante as festas de fim de ano.
“O povo aqui é obediente em relação às regras. O presidente falou e a assembleia aprovou, cumpre-se. Então, no meu ponto de vista, esse aumento de casos tem a ver com o afrouxamento ocorrido nas festas de fim de ano. Tanto que o presidente assumiu que foi um erro”, opina a jornalista Cláudia Dominguez, 45 anos, também santista.
Doutoranda em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho, em Braga, Cláudia diz que a cidade, normalmente muito movimentada, mudou completamente. “Estou em teletrabalho, que é obrigatório. Só saio para ir ao supermercado e, aos finais de semana, caminho perto de casa por 30 minutos. A sensação é que vivemos em uma cidade fantasma, pois depois das 19 horas você não vê quase ninguém na rua”.
Ajuda
O cenário em Portugal levou o governo local a pedir ajuda no exterior. O Ministério de Defesa alemão anunciou que enviará uma equipe de médicos ao país. Além disso, pacientes estão sendo transferidos para outras nações.
“A percepção é que o mundo está pausado lá fora porque os casos explodiram. Fico assustado. É difícil acreditar que estão transferindo pacientes para a Áustria”, afirma o santista Leonardo Ramires Alba Araújo, de 22 anos.
Ele mora em Corvilhã, cidade com cerca de 35 mil habitantes que demorou a sentir os impactos da pandemia. "Ficamos por meses com nove casos de covid. Só a partir de setembro começou a estourar, com aulas presenciais e alunos de diferentes lugares e países”.
Isso fez a rotina de permanecer em casa ser intensificada. Leonardo afirma que sai a cada 15 dias para fazer as compras no supermercado. “Não tem restaurante aberto ou qualquer hipótese de lazer. Estudo e trabalho de casa, respeitando o lockdown”.
Nada fácil
“Já estamos em lockdown há muitas semanas e apenas nos últimos dias o número de infectados começou a baixar. Aqui as pessoas são caxias. Quando o governo pede para ficar em casa, elas respeitam”, conta a santista Mariana Colella, de 38 anos, também bancária, que mora em Lisboa. Mas ela confessa que não é fácil.
“Tenho ficado em casa e saído o mínimo possível para evitar o contágio. Admito que passar por este período de confinamento no inverno é deprimente. Muitos amigos que viviam aqui não resistiram à pandemia e voltaram ao Brasil”.