Profissão de sapateiro ganha valorização em meio a dificuldade pela pandemia

Com o conserto de itens como sapatos e bolsas cada vez mais valorizado, profissionais do ramo citam aumento de responsabilidade

Por: Júnior Batista & Da Redação &  -  22/02/21  -  20:55
Em 2008, Francisco tomou a decisão de assumir o negócio do pai e hoje ganha a vida como sapateiro
Em 2008, Francisco tomou a decisão de assumir o negócio do pai e hoje ganha a vida como sapateiro   Foto: Carlos Nogueira

A pandemia mudou alguns comportamentos dos consumidores, aumentando a valorização de produtos já adquiridos e, consequentemente, uma maior busca pelo conserto em vez do descarte. Esta é uma avaliação comum entre alguns dos sapateiros mais antigos de Santos, que resistem ao tempo e à covid-19, trabalhando a todo vapor em suas lojas.


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“Não dá para ficar rico, mas eu vivo bem. Tenho clientes fieis e há os que voltam depois de um trabalho bem feito”, afirma Francisco Feijó Rodrigues, de 58 anos, dono da Sapataria Primo, no Marapé, em Santos. A loja foi fundada pelo pai dele, na Espanha, há 60 anos. No início, priorizava a fabricação de calçados, devido ao frio característico do Velho Continente. No Brasil, passou a aliar o conserto à confecção de peças.


Rodrigues conta conseguiu se formar em Administração e trabalhou em multinacionais, mas saiu da profissão. Chegou a ter uma empresa de confecção, que quebrou. Foi quando teve de tomar uma decisão. “Após a crise de 2008, eu quebrei e tive que fazer uma escolha. Meu pai estava aposentando e foi a hora de assumir o negócio. Ele investia pouco em conserto de tênis, que foi algo que eu percebi a tendência”.


Mulher à frente


Na Rua Goiás, no Boqueirão, a Sapataria do Eduardo tem também no comando a sócia Sônia Vasconcelos, de 60 anos, que coloca a mão na massa diariamente. “É bom, as mulheres se identificam. Elas chegam aqui e acham bacana ver que eu também sou sapateira. Não há muitas”.


Eduardo Vasconcelos, de 63 anos, divide o comando do local com ela há duas décadas. Eles arrumam não só sapatos, mas também pinturas e consertos em bolsas, ofício que Sônia sabia de letra porque já costurava antes de começar a trabalhar nessa área.


Se o ofício foi ensinado de pai para filho no caso de Francisco, para Sônia e Eduardo foi tudo “na raça”. “Eu sabia costurar, mas não fazer sapataria. Fomos aprendendo aos poucos e o que eu não sabia acabei buscando em outros locais, com amigos sapateiros, entre eles o Chico (Francisco)”, revela Sônia.


Rodrigues diz que isso é comum, porque a mão de obra é o grande problema do ofício. “Se você quer ser mecânico, engenheiro ou costureiro, há cursos e pode-se aprender. Já a arte da sapataria você aprende com outros sapateiros e não há tantas pessoas querendo saber”, reconhece ele, que tem dois funcionários: um mais novo, que está aprendendo, e um mais velho e experiente.


Responsabilidade


Para ambos, essa é uma profissão de muita responsabilidade, que por sinal aumentou depois do período mais duro da pandemia.


“As pessoas estão valorizando muito mais aquele tênis que estava em casa, uma bota que pode ser consertada. Não pensam em jogar fora do nada, até porque falta dinheiro para comprar”, diz Rodrigues.


Sônia se diz apaixonada pelo trabalho. “Eu amo minha profissão. Não me vejo fazendo outras coisas e fomos expandindo, nos adaptando. A conversa e o coleguismo também são importantes. Hoje, trocamos muitas experiências entre os profissionais”.


Consciência


“As pessoas estão valorizando muito mais aquele tênis que estava em casa, uma bota que pode ser consertada. Não pensam em jogar fora do nada, até porque falta dinheiro para comprar” - Eduardo Vasconcelos, sapateiro.


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